Primeira série do DC Universe traz uma versão sombria do famoso grupo de personagens num show que tem potencial, mas sofre com falta de dinheiro.


Sinopse: Depois de tentar a carreira solo, o antigo parceiro do Batman, Dick Grayson, encontra um grupo de jovens heróis precisando desesperadamente de um mentor.

Titãs é uma série que foi recebida com muita desconfiança após o lançamento de seu trailer na SDCC 2018 que dividiu muitas opiniões. Chegando no Brasil pelas mãos da Netflix, a série mostra-se promissora, apesar de algumas falhas de roteiro e a visível falta de orçamento para fazer cenas com computação gráfica mais elaboradas.

Nota-se de longe que o roteiro foi escrito pensando não na história e sim no quanto os produtores poderiam gastar a cada episódio. Certas tramas ao longo da série são encurtadas ou deixam de existir simplesmente porque não há como realizá-las em uma escala que pareça crível, isso tira muito do impacto da trama, pois é nítida a sensação de enrolação por parte dos roteiristas. Quando uma série que tem personagens com poderes especiais não consegue fazer esses poderes funcionarem em tela, é algo que fica ridículo, basta olhar a situação do Mutano (Ryan Potter) que nos quadrinhos se transforma em múltiplos animais, mais aqui é limitado pela forma de um tigre com um roteirismo bobo para justificar a visível falta de dinheiro para os efeitos visuais necessários para o personagem.

Essa pobreza no orçamento se faz visível pelo resto da série com os cenários sendo o mais genéricos possíveis e o design de produção puxando muito o tom para cores mais soturnas como o cinza e preto. O figurino escapa um pouco disso, com os uniformes dos heróis tendo um design bem bacana e de uma forma bem cartunesca como no casos da dupla Rapina (Alan Ritchson) e Columba (Minka Kelly). Infelizmente, a parte boa do figurino acaba por aí, pois outros personagens estão com um visual muito estranho como é o caso da Estelar (Anna Diop).

Em termos de narrativa, os roteiristas investem numa abordagem sombria para esses personagens com cada um lidando com sua própria escuridão e anseios de forma bem violenta em certos momentos. O maior representante disso é Dick Grayson (Brenton Thwaites), conhecido como Robin, o ex-parceiro do Batman. O personagem tem uma dor profunda pela perda de sua família e rebelou-se contra o Batman por achar que os ensinamentos dele o fizeram uma pessoa ruim. Ao longo dos episódios, ele lida com esse lado sombrio ao mesmo tempo em que busca ajudar outras pessoas em suas jornadas e apresenta uma clara evolução nesse sentido, pois acaba percebendo que muita da sua raiva era sobre ele mesmo e não com outros.


No caminho para essa evolução, ele encontra Rachel Roth/Ravena (Teagan Croft), uma jovem que acabou de perder a mãe para o crime e está sendo perseguida por um culto religioso que acredita que ela será a responsável pelo fim do mundo. A personagem é desenvolvida de um modo pouco satisfatório, pois o seu dilema é pouco explorado pelo enredo e sendo deixado várias vezes de lado na trama para dar espaço aos dramas do Robin mostrando um claro desequilíbrio no tratamento dos personagens. A atuação da atriz não consegue contornar isso e a personagem soa mais como um clichê ambulante por mais que cative em alguns momentos.

A terceira protagonista da trama é a misteriosa Kori Anders/Estelar que é apresentada como uma moça que acabou de perder a memória e está juntando pedaços do seu passado para entender quem era e o que estava fazendo. Nessa jornada, ela junta caminhos com Dick e Rachel para que juntos possam descobrir a origem dela e possam impedir o fim do mundo. Ela é a personagem mais cativante roubando cada cena em que aparece com sua presença e a atriz Anna Diop faz um bom trabalho em expressar tanto a vulnerabilidade quanto a ira da personagem. Só é uma pena que ela seja tão subaproveitada pelo roteiro com sua história sendo suavizada por motivos de dinheiro, mas também falta de foco, pois até no episódio que leva o nome dela, ela não fica com o centro das atenções sendo usada apenas para dar explicações.

Mais avulso que ela só o Gar Logan/Mutano, o modo como ele é inserido na trama não funcionou nem um pouco, apesar do episódio de apresentação da Doom Patrol ser um dos melhores da temporada. O mais frustrante é que o ator é bastante carismático, porém não dão nada de interessante para ele fazer com o personagem. Ao longo dos episódios, o papel dele resume -se a fazer piadas nerds ou aturar as grosserias da Ravena.

Se ele é avulso, o mesmo pode ser dito para a presença de Rapina e Columba no resto da temporada, os personagens em si são bem interessantes, mas o encaixe deles na série tirou o foco de outras coisas mais importantes mesmo que o episódio da história de origem deles seja um dos melhores da temporada ao discutir abuso sexual, violência doméstica e perdas. A atuação dos atores deles foram eficientes em transmitir a dor dos personagens e a química entre eles é fantástica.

A série conta com 11 episódios nessa primeira temporada com os melhores sendo Jason Todd, Doom Patrol, Hank and Dawn e Together. O pior episódio fica por conta da horrível season finale que conta com a “participação” do Batman. É tudo feito de maneira tão artificial que dá muita vergonha lembrar que eles criariam todo esse finale só para mostrar o morcego e descartaram o resto da história para a segunda temporada. Em linhas gerais, essa série acertou mais do que errou ao longo dos episódios, mas a sensação de potencial desperdiçado permanece em vários momentos. 

Por fim, vale uma menção para a excelente coreografia nas cenas de ação, aquele combate do Robin no primeiro episódio foi uma das melhores cenas e há outras tão boas quanto essa em outros momentos.

Titãs poderia ser bem mais, porém é um entretenimento legal para os fãs.

Nota: 6,0

Publicado por: Matheus Eira

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem