Sinopse: Lorraine Broughton, uma espiã do MI6, é enviada para Berlim durante a Guerra Fria para investigar o assassinato de um oficial e recuperar uma lista perdida de agentes duplos. Ao lado de David Percival, chefe da localidade, a assassina usará todas as suas habilidades nesse confronto de espiões.
Atômica é dirigido por David Leitch e baseado na HQ “The Coldest City". Na trama, Lorraine Broughton (Charlize Theron) deve tentar ser a mais esperta num jogo de espiões com muitos interesses e poucos aliados. Sendo o primeiro filme que Leitch dirige sozinho, é de se admirar que ele entregue uma obra tão coesa, mesmo com alguns tropeços. A primeira coisa a se destacar na direção dele é o bom senso estético, ele soube dar um toque bem oitentista para os visuais do longa e isso é refletido tanto nos diferentes aspectos do filme como fotografia, maquiagem, cabelo e figurino.
Em segundo plano, ele demonstra entender cenas de ação como ninguém, todas as cenas do filme tem um cuidado especial com a coreografia e mais importante com o posicionamento da câmera. Nota-se que ele sempre investe em ângulos próximos dos personagens, mas nunca muito próximos deles para não atrapalhar o que ele pretende passar com as cenas. Na cena da escadaria no final do segundo ato, ele faz uso de um plano sequência que mostra vários personagens lutando de forma brutal. Nessa cena, a câmera circula, foca, aproxima e usa planos mais abertos para destacar o desespero das pessoas ali além de passar um senso de realismo maior para os combates sem que sejam necessários cortes bruscos entre os movimentos.
Falando na coreografia das cenas de luta, fiquei impressionado com a verossimilhança delas e com o peso narrativo que trazem, pois aqui ninguém é uma máquina de luta imbatível. Basta observar que os personagens sofrem diversos hematomas, ficam cansados e cada vez mais irritados quando o combate se demonstra mais difícil. É interessante notar que tudo é tão bem feito que eles criaram um estilo de luta específico para cada personagem. Enquanto que os russos se apoiam demais na força bruta, a personagem principal usa os elementos do cenário em seu favor nas lutas e sempre busca acertar em pontos que causem o maior dano possível nos adversários visto que não tem a mesma força física deles.
Sobre a trama, ela não é complicada em teoria, pois na prática, o roteiro usa uma estrutura de duas linhas temporais para contar a história. No presente, temos Lorraine contando aos seus superiores do MI6 sobre a missão em Berlim e em flashbacks vemos o que acontece lá pelo ponto de vista dela. Essa estrutura tem seu lado positivo e negativo. No positivo, traz um frescor para alguns momentos garantindo um ar debochado para alguns acontecimentos, porém esse vai e vem quebra o ritmo da trama e a edição não consegue contornar.
Outro problema do roteiro é que chega um momento em que o espectador não entende mais o que está acontecendo porque são tantas reviravoltas, personagens e motivações que fica difícil acompanhar todas sem que haja alguma perda de sentido. Isso perceptível mais pro fim quando todos os personagens entram num de estado de paranóia.
A personagem de Theron tem uma vibe de fodona calculista que a atriz faz funcionar bem, mas em alguns momentos, vemos o lado mais humano da personagem aparecer. As cenas na banheira servem como uma espécie de expurgo emocional para Lorraine servindo como um escape daquele mundo de desconfianças e atuações. Minha única reclamação é que para uma espiã, ela não é tão boa em convencer, pois está sempre com o mesmo olhar frio sendo que em algumas cenas ela deveria ser sensual ou amigável quando está de olho em algum objetivo.
O co-protagonista da obra é o manipulativo David Percival interpretado por James McAvoy. Ele é um personagem interessante, pois no momento em que se coloca os olhos nele já dá pra saber que ele é um tipo bem sacana e quando está com Lorraine nunca temos plena certeza se está falando a verdade ou não. A performance de McAvoy transmite bem a personalidade destrutiva do personagem e ele sempre faz um olhar analítico, mas com segundas intenções. Fechando o trio principal temos Sophia Boutella como Delphine Laselle, uma agente francesa que se relaciona com a protagonista principal. Em termos narrativos, ela é mais usada para humanizar Lorraine, mas tem suas motivações pouco exploradas e soa muito clichê em seus diálogos.
Por fim, a obra manda muito bem nos demais aspectos técnicos. A fotografia sempre usa cores bem saturadas nas ambientações parecendo de fato um neon em alguns momentos. O design de produção traz um contraste interessante entre Berlim Ocidental e a Oriental. Enquanto que a primeira é marcada por uma estética mais moderna com muitas cores, a segunda é mais soturna marcada pelo cinza e por construções mais surradas como se fossem cenários de guerra. A trilha sonora traz ótimas músicas que ajudam a criar diferentes sensações nas apenas de ação, sem dúvida , a escolha da seleção musical foi muito acertada pois temos David Bowie, Queen, George Michael e The Clash.
Atômica é um dos melhores filmes de ação recentes e merece elogios, seu único problema é ter um roteiro muito enrolado que dificulta o entendimento de sua trama.
Nota: 7,0
Publicado por: Matheus Eira
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