No início do século, o gênero de zumbis estava ficando cada vez mais popular. Em 2002 tivemos Extermínio e o primeiro filme de Resident Evil, e The Walking Dead surgiu um ano depois, com House of the Dead tendo sido lançado na mesma época e com o remake de Dawn of the Dead em produção. Apesar de ter sido um dos responsáveis por essa onda de novas obras envolvendo mortos-vivos devoradores de carne, a HQ de Robert Kirkman foi beneficiada por essa recente alavancada no gênero, sendo por bastante tempo a única HQ que não era da Marvel ou DC presente na lista de quadrinhos mensais mais vendidos.

A trama acompanha Rick Grimes, um policial de uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos, que foi baleado e que após um tempo em coma acorda em um mundo sem governo e sem leis infestado de zumbis, ou andarilhos, no qual os vivos farão de tudo para sobreviver. Nesse primeiro arco, vemos Rick em uma jornada para encontrar sua família, algo já resolvido na segunda edição, e suas primeiras semanas nesse mundo pós-apocalíptico, com ele ainda se adaptando, enquanto tenta proteger e ajudar o grupo no qual ele faz parte junto com sua esposa e filho, ao mesmo tempo em que tem desavenças e discussões com seu melhor amigo Shane quanto o assunto é a sobrevivência do grupo. 

A HQ foca bastante no drama e nas interações entre os personagens. Temos momentos com zumbis, momentos esses bastante tensos em algumas partes, mas o charme da história está mesmo nesse aspecto “novelístico”. Eu me peguei estando mais interessado no fato de que Lori traiu seu marido enquanto ele estava em coma do que quando zumbis atacavam personagens. Mas o fato de o mundo ter acabado de certa forma e dos comedores de cérebros estarem sempre à espreita é o que torna este drama interessante. Em um momento, Rick, após se reencontrar com Lori e Carl, diz que por causa de sua busca e de sua preocupação para encontrar sua família, ele não ficou apavorado ou com medo apesar da situação que ele e o mundo se encontravam, mas que após finalmente estar com eles, ele sentiu medo, pois agora ele tem algo a perder. Só com isso já temos uma conexão imediata com Rick. Vemos ele tentando encontrar sua esposa e filha e depois disso vemos ele tentando protegê-los, então é fácil se identificar com ele. Suas discussões com Shane são um dos pontos altos da HQ, vemos Rick encarando a dura realidade desse novo mundo quando ele percebe que seu melhor amigo havia mudado e enlouquecido, e a parte em que Rick o mata, apesar de parecer um pouco apressado, funciona. Ver Rick lidando com esse tipo de situação é o que torna a trama ainda mais interessante, e vemos mais momentos como esse em volumes futuros, muito mais impactantes e inesperados. 

Essa é a segunda vez que eu leio a série do início, e ver o Rick ainda “inocente” é estranho e também fascinante, o personagem muda bastante ao decorrer das edições e isso acontece de forma natural.

O roteiro de Robert Kirkman brilha, mas a arte de Tony Moore também agrada, ainda mais em quadros que focam mais no rosto dos personagens, as expressões que Tony coloca neles são bastante críveis e realistas, cada uma se adequa no contexto que o personagem se encontra. A violência aqui é bastante gráfica, ainda mais pelos detalhes que Moore coloca. Histórias em quadrinhos são uma mídia visual, então a obra se eleva quando a arte funciona e complementa o roteiro, e isso acontece aqui.

The Walking Dead tem bons personagens, diálogos competentes, e o balanço entre o drama humano e os elementos de horror ajudam a obra e trazem uma leitura que diverte apesar de tudo.

Nota: 9

Publicado por: Sam.

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