“O Morro dos Ventos Uivantes” (Wuthering Heights) é um filme britânico lançado em 2012 e dirigido pela cineasta Andrea Arnold, também roteirizado por ela em companhia de Olívia Hetreed. A história é uma adaptação do romance clássico da Literatura Inglesa escrito por Emily Bronte e acompanha a desafortunada vida da família Earnshaw no interior da Inglaterra do século XIX. Após voltar de uma viagem, Sr. Earnshaw (Paul Hilton) surpreende a sua casa ao apresentar o mais novo membro dela, Heathcliff (Solomon Glave). Porém, inicialmente, o garoto (cuja origem é desconhecida), não é bem aceito pela parentela, devido ao grande preconceito em relação à etnia dele. Recebendo apenas o carinho do patriarca e a atenção de sua filha, Catherine (Shannon Beer), o jovem sofre maus bocados nas mãos do filho mais velho e herdeiro do Morro dos Ventos Uivantes, Hindley (Lee Shaw). A partir daí, os laços entre Heathcliff e Catherine crescem à medida em que a violência física sofrida por ele e a psicológica, além da negligência familiar direcionada à ela, são evidenciadas com a morte do Sr. Earnshaw e o retorno de Hindley em companhia de sua esposa, Frances (Amy Wren), após a sua estada em um instituto educacional. Porém, quando a Granja Thrushcross é ocupada pela abastada família Linton, tornando-se, assim, os vizinhos da propriedade Earnshaw, a conexão entre Catherine e Heathcliff é ameaçada por Edgar Linton (Jonathan Powell) devido a uma proposta de casamento. Enfurecido e entristecido pelo desenrolar dos acontecimentos, Heathcliff decide fugir, mas tudo muda quando ele retorna com “ares de fidalgo” e disposto a vingar-se daqueles que o fizeram sofrer.


Ao contrário das adaptações literárias anteriores, Arnold investiu em uma abordagem nua, crua e até mesmo realista para captar a essência da obra literária e a sensação de abandono e solidão dos personagens, tendo em vista que eles estão longe da civilização. O som ambiente do filme, que por sua vez é o único, é de suma importância para ressaltar esses sentimentos. Além dos vendavais que assolam o Morro dos Ventos Uivantes, a propriedade também é cercada por uma espessa neblina que remete a um clima etéreo. A fotografia do longa é opaca e aposta em cores frias para causar uma sensação de frio no telespectador. Os personagens estão sempre enlameados e molhados por causa das tarefas rurais e pelas chuvas constantes. Além disso, o comportamento tóxico deles é realçado pelas atitudes questionáveis que são tomadas ao longo da história. Isso serve de ironia para mostrar a hipocrisia da família Earnshaw, considerada católica fervorosa. Se por um lado o Sr. Earnshaw pratica uma boa ação ao adotar Heathcliff; por outro, entretanto, ele não poupa esforços para mostrar o quão arrependido está do nascimento de Catherine, devido a sua desobediência e atitudes que não a tornam uma boa moça para os padrões daquela época. A garota também não está isenta de erros, muito pelo contrário: quando conhece Edgar, a sua conduta é moldada para dar início a uma vida de aparências. Heathcliff também mostra que é cruel ao chantagear Hindley para conseguir o que quer. Em outras palavras, a adaptação tem êxito em mostrar uma família desestruturada.



Entrementes, a história do filme não é composta apenas por adjetivos negativos (apesar de serem o cerne da narrativa). O outro lado da moeda fica a cargo da família Linton. A Granja Thrushcross é um ambiente agradável e convidativo. O som da lareira transmite calor e vai de encontro às passagens de ar fantasmagóricas do Morro dos Ventos Uivantes. Não é à toa que Catherine (Kaya Scodelario) tenha escolhido Edgar como marido, levando em consideração que a fortuna dele é uma garantia de futuro. Inicialmente, a chegada de Heathcliff (James Howson) é motivo de grande felicidade para a nova Sra. Linton, mas as visitas seguintes à Granja tornam-se um mártir para os demais personagens que estão à margem de sua vingança refinada. Mas não se engane: o roteiro de Arnold e Hetreed é conciso e trabalha com sugestões e poucos diálogos. Ele está longe de ser expositivo. O telespectador precisa prestar atenção aos símbolos que são evocados pela câmera. O estranho amor de Heathcliff e Catherine é representado pelos pares de animais que rondam o ambiente pastoril. Contudo, após a realização do casamento de Catherine e Edgar, apenas um de cada par aparece na tela, representando a separação de ambos.



Há muitas cenas desconfortáveis na obra também, como o sufocamento de cães, as constantes tentativas de Catherine e Heathcliff em causar dor um para o outro e a violação de um túmulo. Isso significa que o filme pode incomodar muito mais que entreter, e embora tenha uma longa duração, a história abarca apenas a primeira parte do livro, como se a edição antiga, que era dividida em dois volumes, tivesse servido como referência para a diretora. Considerado um filme de arte, ele não poupa esforços em mostrar como o amor também pode ser doentio e mortal, apresentando um casal problemático que não se importa com as conseqüências das suas atitudes, sendo possível identifica-lo hoje em dia nas manchetes de jornal. Temas como dependência emocional, “ghosting”, suicídio, chantagem emocional e fanatismo religioso estão presentes no roteiro. “O Morro dos Ventos Uivantes” (Wuthering Eights) pode não ser uma adaptação de A a Z, mas todas as letras do alfabeto que importam estão presentes no texto fílmico de Andréa Arnold, mostrando que Catherine é Heathcliff e Heathcliff é Catherine dentro e fora das páginas de Emily Bronte.

Nota: 7.5

Publicado por: Eloísa.

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