O 6° episódio marca um dos capítulos mais densos e emocionalmente carregados da temporada. Depois dos acontecimentos brutais do episódio anterior, a série desacelera a violência gráfica para mergulhar em algo igualmente perturbador: a psicologia de seus personagens e nenhuma trajetória se destaca tanto quanto a de Ingrid.

A presença dela, que até então parecia apenas mais um rosto entre os habitantes inquietos de Derry, ganha profundidade e peso narrativo. O episódio explora seu passado fragmentado, revelando como Ingrid sempre foi sensível às “frequências” da cidade, ruídos, sussurros, padrões que ninguém mais percebe. A construção do roteiro torna essa sensibilidade simultaneamente um dom e uma maldição, já que é justamente através dela que Ingrid começa a captar manifestações ligadas ao palhaço antes dos demais moradores.

A direção acerta ao usar cenas silenciosas, quase estáticas, para mostrar o isolamento da personagem, e a série finalmente entrega a conexão que muitos espectadores esperavam: Ingrid não apenas percebe Derry, ela é percebida por Derry. O ponto alto (e mais perturbador) do episódio é a revelação de que o “amigo imaginário” que a acompanhou na infância — mencionado de forma casual em capítulos anteriores — nunca foi imaginário. Ele estava apenas esperando que ela voltasse a ouvi-lo, saber que ela se fantasiou de palhaça e seguiu os garotos no cemitério, ficou vigiando a casa do Will, só para ver o Pennywise de novo e o convencê-lo de ele “voltar” a ser seu pai de verdade, é perturbador.


Esse plot, que mistura trauma, manipulação psicológica e destino, se encaixa com perfeição na mitologia da cidade. Ingrid deixa de ser uma figura secundária para se tornar um dos elementos mais trágicos da temporada: alguém que entende cedo demais que Derry escolhe suas vítimas antes mesmo que elas entendam os próprios medos.

No geral, o episódio 6 funciona como uma virada dramática, transformando Ingrid numa peça-chave da espiral de terror que se aproxima. É um capítulo menos explosivo, mas mais simbólico e inquietante — e prepara o terreno para um desfecho onde a personagem provavelmente terá um papel decisivo, seja como ponte para o mal, seja como mais uma das almas engolidas por ele.

NOTA: 8/10

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