Oda cria em poucos episódios a infância de um personagem, suas relações, amores e perdas. Cria suas motivações e justifica suas ações pregressas.
Essa técnica narrativa de Oda é usada com eficiência até HOJE.
Quando Nami nos é apresentada, não vemos nada de especial na personagem. Ela é uma ladra que não gosta de piratas, mas ao vermos que a mesma se afeiçoa a Luffy esquecemos deste ponto. Criada pela fuzileira naval Bell-mère. Nami e Nojiko são resgatada nos resquícios de um confronto entre militares e piratas. Resgatando-as Bell-mère as cria como suas.
Anos se passam e Nami um pouco mais velha questiona Bell-mère de sua pobreza e como o dinheiro parece resolver e comprar qualquer coisa no mundo. Aquele questionamento de alguém tão jovem parece sacudir a visão de mundo da ex-fuzileira que trava um embate com sua filha. Esses são tópicos que permearão One Piece: Poder e perda. Tudo aquilo que a guerra proporciona. É comum no mundo de One Piece vermos órfãos da guerra e do abandono - Luffy, Zoro, Nami, Sanji e até Ussop são órfãos em circunstâncias diferentes. Seja da guerra, seja do abandono.
A vida daquela família e daquela vila muda totalmente com a chegada do tritão Arlong e sua tripulação. Arlong faz parte de uma raça maior, mais forte e mais resistente capaz de respirar debaixo d'água - é também a segunda raça humanoide de uma infinidade de outras raças que serão apresentadas na obra mais tarde.
Arlong é um tirano sedento por dinheiro e poder e com um ódio em especial pelos humanos. Ao invadir a vila Cocoyashi Arlong escraviza seus habitantes e assassina Bell-mère. A tirania de Arlong se baseia na cobrança de impostos aos moradores e o suborno às autoridades da marinha.
É talvez o arco mais importante na saga de East Blue, pois mostra a relação conflitante entre humanos e tritões, a corrupção na marinha e a determinação de Luffy em se manter firme na crença em seus companheiros.
Nami é neste momento da obra a personagem que narrativamente demonstra o peso da perda e também da libertação que Luffy representa. Luffy ao longo da obra deixa claro que ele não pretende ser um herói e que não há nenhuma intenção no personagem em se tornar uma figura cultuada. No entanto este mesmo personagem está lá para apoiar seus amigos e ajudá-los em qualquer momento. Luffy jamais libertaria Cocoyashi se não se afeiçoasse de alguma forma por alguém.
O pedido de ajuda de Nami é a representação de Monkey D. Luffy como um Libertador.
A clareza moral de Luffy em não se intrometer em determinados assuntos é representada aqui com o personagem tomando uma ação somente no momento em que de fato sua ajuda é solicitada. O pedido de Nami ocorre num momento em que sua irmã é baleada e sua vila corre perigo, talvez o momento mais vulnerável de um personagem em ONE PIECE.
Este pedido é atendido por Luffy sem hesitação.
A queda de Arlong e a libertação de Cocoyashi traz uma notoriedade a Luffy que anteriormente havia agredido um oficial da marinha. Essa notoriedade é representada pelo famoso cartaz de procurado que coloca a cabeça de Luffy pelo prêmio de $30 milhões de Berries - a maior recompensa do East Blue e a primeira de uma série de cartazes sorridentes.
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Os cartazes de procurado serão detalhes substanciais ao longo da obra, eles denotam a infâmia e até mesmo o poder daqueles indivíduos, e embora sejam talvez os pontos com mais retcons na obra o retcom é uma ferramenta narrativa, Oda os realiza bem em alguns momentos assim como os realiza mau em outros.
A libertação de Cocoyashi é algo que também será frequente com outras ilhas.
A festa pós-confronto e revolução dura 3 dias. Os primeiros sorrisos aliviados daqueles que foram oprimidos é inclusive pontos de muitas teorias que olham para o tesouro One Piece como simplesmente "os amigos que fazemos ao longo do caminho" - uma teoria já descartada por Oda que afirma que o One Piece é algo tangível.
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