Ruídos é um filme que desafia o espectador a entrar em uma atmosfera carregada de tensão e inquietação, utilizando o som e o silêncio de maneira magistral para construir uma narrativa que vai além do convencional. Desde o início, o longa se destaca por sua abordagem sensorial, onde os ruídos do cotidiano ganham um peso dramático, atuando como elementos quase protagonistas na trama.
A direção do filme é meticulosa no uso do som ambiente e dos efeitos sonoros para criar um clima de paranoia e ansiedade. Essa escolha propicia uma experiência imersiva, fazendo o público sentir-se dentro do universo perturbador dos personagens. A fotografia acompanha essa atmosfera com planos fechados e uma paleta de cores mais sombria, reforçando a sensação de claustrofobia e alerta constante.
No que diz respeito ao roteiro, Ruídos explora temas existenciais e psicológicos profundos, como a solidão, o medo do desconhecido e a fragilidade da mente humana diante de estímulos aparentemente banais que podem se tornar desencadeadores de crises internas. A narrativa não é linear, o que pode confundir alguns espectadores, mas serve ao propósito de refletir o estado mental fragmentado dos protagonistas.
As atuações merecem destaque, especialmente a interpretação do personagem principal, que transmite de forma sutil e convincente a transformação emocional e a escalada da angústia provocada pelos ruídos que o cercam. Essa entrega dos atores é essencial para manter a tensão e o suspense ao longo do filme, evitando que a complexidade psicológica se perca em meio à trama.
Um ponto forte do longa é como ele utiliza o silêncio em contraponto aos ruídos, criando momentos quase insuportáveis de expectativa. A ausência de som é usada como recurso narrativo eficaz, dando espaço para que o público preencha essas lacunas com suas próprias interpretações e medos. Essa dinâmica sonora é fundamental para o impacto do filme.
Contudo, Ruídos pode não agradar a todos, especialmente aqueles que buscam uma história com ritmo mais acelerado ou um fechamento claro. A ambiguidade presente no final deixa muitas perguntas no ar, cultivando um final aberto que convida à reflexão, mas que pode ser frustrante para quem prefere respostas concretas.
Além disso, a construção do roteiro, por vezes, aposta demais no clima e no simbolismo, deixando a trama prática um pouco nebulosa. Isso exige um espectador atento e disposto a absorver cada detalhe para compreender a mensagem por trás dos sons e das imagens. De certa forma, o filme funciona mais como uma experiência sensorial e psicológica do que como um entretenimento tradicional.
Por fim, Ruídos é uma obra que impressiona pela ousadia estética e pela profundidade temática. É um convite a escutar atentamente o que fica escondido por trás do barulho cotidiano e a confrontar os fantasmas internos que todos nós carregamos silenciosamente. É recomendado para quem aprecia cinema autoral, que desafia padrões e propõe uma imersão nas camadas mais complexas da mente humana.
Esse filme não é fácil, mas é inegavelmente instigante. Uma obra para ser sentida e debatida, especialmente entre aqueles que valorizam a linguagem do som como elemento dramático principal no cinema contemporâneo.
Nota: 6
O filme estreou nos cinemas brasileiros no dia 09 de outubro.
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