O último episódio da segunda temporada é irregular, tenso e anticlimático (assim como a temporada).

Em meio à batalha em Seattle entre Lobos e Cicatrizes, a busca de Ellie a leva a um confronto devastador.

Depois do excepcional sexto episódio, onde tivemos um flashback inteiro de Joel (Pedro Pascal), voltamos ao presente para continuar a jornada de vingança de Ellie (Bella Ramsay) em Seattle, onde ela busca pelo grupo de Abby (Kaitlyn Dever) em meio ao conflito dos Serafitas e os WLFs.

A característica mais interessante do episódio é o conflito entre Jesse (Young Mazino) e Ellie, que mesmo tendo ideais opostos e não se bicam, acabam se unindo e criando diálogos e momentos bem interessantes que agregam bastante para a discussão da mensagem principal do jogo/série.

A vingança de Ellie continua, e toma um rumo mais drástico com ela encontrando, “enfrentando” e matando o casal Owen (Spencer Lord) e Mel (Ariela Barer), sendo que a última estava grávida e pede para ela tentar salvar o bebê. Esse é um momento de total ruptura nos jogos, cheia de suspense, arrependimento e tristeza, mas infelizmente nenhum desses sentimentos realmente se repetem na versão live-action.

O maior problema da temporada como um todo é a construção que eles dão para Ellie e essa vingança. Entendo que a personagem da série é bem diferente da do jogo, mesmo sem perder a sua essência (como toda boa adaptação tem que ser). Bella Ramsay (Game of Thrones) continua dando tudo de si e entregando uma excelente performance, mas o roteiro continua com medo de ser brutal e mostrar a decaída de Ellie na espiral de ódio e vingança que ela se mete. Ellie não chega a virar um monstro frio e sem sentimentos, mas ela se mostra brutal e totalmente cega pela vingança, coisa que a série tem receio de mostrar.

Tudo isso mostra uma covardia do roteirista e co-showrunner Craig Mazin (Chernobyl), que não mostrou nada disso no primeiro ano da série, e resta à nós a esperança para que ele tente reverter algumas escolhas e conserte o caminho da próxima temporada. De resto, o episódio (e a temporada) continuam mantendo o alto padrão de investimento da HBO, com cenários, efeitos e direção de primeiro nível. Um destaque positivo para o trabalho da diretora Nina Lopez-Corrado (Perry Mason, Um Milhão de Coisas) que embora seja o nome menos chamativo na temporada no quesito direção, entregou boas cenas de perseguição regadas a tensão.

O final traz a chocante morte de Jesse que é tão abrupta e assustadora quanto nos jogos, e prepara o grande “primeiro confronto” de Ellie e Abby, que é cortado (de uma forma hilária de tão mal editada) para dar segmento ao momento do jogo em que acompanhamos a perspectiva de Abby, antes de voltar para esse trecho.

Com essa quebra narrativa e a mudança de visão, vamos agora acompanhar uma temporada inteira do ponto de vista da Abby, desde o seu relacionamento com seu pai, o luto, a busca por vingança e a jornada dela no mesmo tempo em que Ellie estava à procurando. Vai ser um grande desafio contar essa parte da história e manter o público interessado, já que esse foi um ponto de ruptura para muita gente no jogo (embora seja uma das coisas mais impressionantes e fascinantes que eu já vi nos vídeo-games).

O episódio final desta segunda temporada de “The Last of Us” foi uma ótima síntese do que foi a temporada como um todo: intenso, irregular e um pouco decepcionante. Ainda existem muitas qualidades a serem apreciadas na série, e chega a ser injusto a tarefa de adaptar algo tão complexo e grandioso como o segundo jogo. Apesar de conseguir perdoar algumas mudanças, a suavização que eles fizeram na violência e vingança de Ellie traz pra baixo diversos momentos marcantes e que constroem uma das melhores histórias contadas nos video-games. É uma pena, mas espero que eles consigam se recuperar na temporada futura.

Nota: 6.5

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