Episódio morno se rende a um roteiro expositivo que tenta explicar a mensagem do jogo, mas se equilibra ao retratar o luto de forma convincente.

Após receber informações de Dina, Ellie prepara uma petição ao conselho da cidade. Perto de Seattle, um grupo religioso foge de uma guerra.

Joel (Pedro Pascal) está morto. Foi uma das mortes mais chocantes da cultura pop quando ocorreu nos jogos, e conseguiram reproduzir o impacto (e divisão) na série. Lidando com essas consequências do episódio passado, Ellie (Bella Ramsay) e os moradores de Jackson tentam se reconstruir, tanto internamente quanto externamente.

O episódio abre com uma cena original mostrando Tommy (Gabriel Luna) olhando o corpo falecido de Joel e chorando, sendo extremamente emocionante e dando mais profundidade (necessária) para o personagem do Tommy. Claramente o destaque neste aspecto é a reação de Ellie, que a atriz Bella Ramsey (Game of Thrones) carrega com uma força descomunal, trazendo essa explosão de sentimentos da personagem às telas.

Muitos tem reclamado da terapeuta vivida por Catherine O'Hara (Os Fantasmas se Divertem, Schitt's Creek), e embora eu concorde que ela é veículo safado pra criar diálogos expositivos de como os personagens estão se sentindo para o público, essas cenas sim tem um impacto e geram bons momentos. Nessas cenas vemos como Ellie está mentindo apra todos (e si mesma) de como se sente, algo que vai ter um impacto profundo nas próximas temporadas.

O conselho estabelecido pela cidade cria uma votação para decidir se eles devem ou não formar um grupo para caçar os assassinos de Joel. É outra cena nova adicionada para a série que busca expandir mais esse universo e dar alguns detalhes bem bacanas. Essa construção de Jackson que a série deu foi uma adição muito bem vinda, embora nem tudo sejam flores.

Como um dos grandes defensores desta adaptação (e da temporada em si), gosto sempre de ressaltar que isto é uma adaptação e tem que haver mudanças que justifiquem o formato de série de TV. Até o momento tudo que foi mudado tem um objetivo coeso e que dá pra entender, bom, pelo menos até agora. Aquele discurso idiota sobre quebrar o ciclo do ódio e da vingança (o grande tema de The Last of Us Parte 2), que é dado por uim personagem mega aleatório sem nome no meio do conselho é uma cuspida na cara do espectador que te deixa com vergonha alheia de tão estúpido que é, algo tão nada sutil que eu jamais esperaria da série, que fez um ótimo trabalho até agora.

Isso meio que leva para outra grande mudança que é o personagem Seth (Robert John Burke), que tanto no jogo quanto na série era apenas o cara homofóbico que não tem um grande papel na grande história. Aqui ele ganha certo destaque fazendo um grande discurso favorável à Ellie na busca pela vingança, o que muitos acharam péssimo, eu adorei. É o tipo de discurso que uma pessoa inflamada de ódio alheio faria, visto que ele só está preocupado em manter uma certa honra e fachada, sentindo que a comunidade foi humilhada por isto. Faz quase o discurso patético sobre a mensagem do jogo na nossa cara valer a pena.

Outra mudança foi a forma de introdução dos Serafitas, uma seita que tem um papel fundamental e que, embora estejam visualmente fiéis e se mantém todo o aspecto da comunicação através de assobios, tem uma introdução completamente diferente tratando eles como uma espécie de vítimas, sendo caçados pela WLF. Vai ser interessante ver como vão abordar este grupo e o que pretendem fazer com eles, já que por hora esta foi uma das grandes mudanças radicais feitas pela série para mim.

Adoro o trabalho do roteirista e showrunner Craig Mazin (Chernobyl, Mythic Quest), que já se provou diversas vezes, mas sinto que ele está tendo muitas dificuldades para escolher caminhos e adaptar o segundo jogo, mesmo tendo ao seu lado Neil Druckmann (Uncharted), que é o criador dos jogos e atua como um co-showrunner.Já a direção do episódio fica por conta de Peter Hoar (It’s a Sin, Demolidor) é sofisticada e entrega algumas cenas de tirar o fôlego, como a que Ellie visita o túmulo de Joel. Não supera a sua direção no excepcional episódio de Bill e Frank na primeira temporada, mas ele continua a se mostrar um diretor interessante de televisão.

Ellie e Dina (Isabela Merced) agora juntas fogem de Jackson escondidas para buscar vingança pela morte de Joel, se despedem dele em seu tumulo e atravessam quilômetros até chegarem em Seattle, local marcante e predominante do segundo jogo.

A dinâmica das duas é espetacular e mostra que as atrizes têm uma química excelente. Todos tem rasgado elogios para esta adaptação da Dina e a entrega da sempre carismática Isabela Merced (Alien: Romulus, Superman), e de fato eu concordo que esta versão da Dina é bem superior ao do jogo, visto que ela tem uma motivação maior e parece ter um espaço genuíno nesta história. Ela e Ellie trazem leveza e drama para todas as cenas em que dividem. Vai ser fascinante ver como essa interação muda ao longo que elas vão enfrentando novas ameaças, sendo algo bem diferente da dinâmica Joel/Ellie do primeiro ano.

O próximo episódio vai trazer a grande introdução aos WLF e o seu líder, Isaac (Jeffrey Wright). Um grande ponto do segundo jogo, e que vai ser interessante ver esse núcleo ter uma expansão e foco no passado. Em paralelo, Dina e Ellie vão acabar enfrentando mais infectados, onde Ellie terá que finalmente começar a revelar os seus segredos para Dina.

Apesar de ser um episódio morno onde os personagens refletem sobre os acontecimentos anteriores e tomam decisões, a narrativa expositiva e algumas decisões criativas deste terceiro episódio nos fazem realmente questionar os rumos que a série está tomando. Não que o episódio seja ruim ou estrague algo da série e adaptação, mas joga contra o fenomenal trabalho feito até agora, sendo de longe o pior episódio da série. 

Nota: 6.5

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