O Forúm Nerd foi convidado a conferir o filme "Girassol Vermelho” em uma cabine de imprensa à convite da Pandora Filmes.
As dificuldades de se analisar um filme surrealista são ligeiramente diferentes das de um filme mais convencional. No primeiro caso, os diálogos são quase secundários, pois aquilo que está sendo dito é muitas vezes transmitido pela trilha sonora e pelas imagens.
Uma obra lançada ao mundo a ele pertence, e, ainda que Eder Santos tenha suas intenções ao dirigir o filme, elas pouco importam diante da interpretação do espectador.
Girassol Vermelho, visto em Cabine Virtual é o filme de Eder Santos, com direção, produção e toques no roteiro do mesmo.
(Este texto contêm Spoiler)
O filme se inicia com Romeu diante de uma despedida de Eva, que se assemelha a uma aceitação — uma espécie de viagem sem regresso, com Romeu segurando um buquê como se segurasse um cadáver. O protagonista confronta outros passageiros que invadem seu espaço pessoal como se ele sequer existisse.
A possibilidade de essa ser uma viagem ao além-vida e de representar a morte de Romeu é algo que a cinematografia de Eder Santos sugere. O trem para abruptamente, e o condutor diz algo a Romeu que não ouvimos, reforçando a ideia de um lugar indefinido, um limbo.
Todo esse início é guiado por uma cinematografia lúdica estabelecida pela fotografia de Stefan Ciupek e Direção de Arte de Laura Vinci e Allen Roscoe com fumaça e mistério ao redor de todos que cruzam o caminho de Romeu. Chico Diaz se destaca, pois, entre a maioria, sua atuação é introspectiva, pesarosa e distante. A sensação que ele transmite é a de que Romeu não está apenas desconfortável, mas sendo guiado para algum destino inevitável.
No decorrer da narrativa, Romeu é capturado por uma espécie de polícia que remete àquela de 1984 — um grupo que não questiona ou interroga, apenas busca e leva.
Neste ponto do longa, Romeu é escoltado até um galpão, onde passará a maior parte do filme sendo interrogado e torturado. A narrativa alterna entre cenas de tortura e depoimentos de personagens que alegam conhecê-lo ou tê-lo visto antes — relatos que, muitas vezes, são vagos, incongruentes ou até mentirosos. Para o público, a confusão se estabelece: há um teor de purgatório e castigo, mas também de regime opressor e tortura militar, reforçado pelos testemunhos desconexos e enviesados pelo condutor, que manipula todas as entrevistas.
Um dos pontos altos do longa é protagonizado por Chico Diaz. Em meio a torturas e questionamentos infindáveis, Romeu pede água para matar sua sede. Um turbilhão de água recai sobre sua cabeça, e o homem quebrado parece chorar. O interrogador (Mariano Mattos, do ótimo O Rei da TV) questiona se aquilo em seu rosto são lágrimas. Diaz responde apenas com expressões, em um dos momentos mais intensos do filme.
O longa se mantém interpretativo ao longo de dois terços da projeção, mas o final é marcado por imagens desconexas e infindáveis, dando a sensação de que o filme jamais acabará. Nesse ponto, a narrativa parece se perder e, até mesmo dentro do surrealismo proposto, o desfecho soa fraco, pois os caminhos não levam a nenhuma conclusão significativa. Visualmente, a mensagem se torna simplesmente incompreensível.
Nota: 6.3/10
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