2024 já passou (e eu estou uns dias atrasado), mas foi um ano em que eu dediquei um pouco mais do meu tempo livre para voltar a praticar uma das minhas paixões da vida: quadrinhos. Sim, sou um grande apaixonado pela nona arte, gostando de todo e qualquer tipo de história em quadrinhos. Claro que o meu foco sempre foi mangás e super-heróis, mas cada vez mais tenho lido um pouco de coisas variadas!

Como é uma tradição anual aqui no FN de compartilhar os melhores filmes de cada ano (calma que p de 2024 deve sair até semana que vêm!), por que não arrumar mais sarna pra coçar e escrever uma lista enorme com as minhas leituras favoritas de 2024???

Antes de começar, só estabelecer algumas regras: 1) Esta lista segue a ordem do "pior para o melhor", 2) Os quadrinhos não são necessariamente publicações de 2024 ou que foram lançados aqui neste ano, são meramente coisas que eu li este ano pela primeira vez, 3) Releituras não entram na lista, já que o intuito é tentar indicar coisas novas para mim e experiências frescas 4) Não são resenhas mega detalhadas ou com a intenção de esmiuçar cada obra, a finalidade é algo mais simples e descontraído.

Menções Honrosas:

Mulher-Maravilha As Amazonas por Kelly Sue Deconnic, Phil Jimenez, Nicola Scott e Gene Ha (2021, DC Comics/Panini Comics), Planeta Remina por Juni Ito (2004, Big Comic Spirits/Devir), Silver Spoon por Hiromu Arakawa (2011, Shogakukan/Panini), Museum por Ryosuke Tomoe (2013, Kodansha/JBC), Vitamin por Keiko Soenobu (2001, Bessatsu Friend/JBC), Endo Hiroki Short Stories por Hiroki Endo (1995, Afternoon), Melhores do Mundo por Mark Waid e Dan Mora (2022, DC Comics/Panini Comics), Blue Fighter por Jiro Taniguchi e Caribu Marley (1980, Big Comic Spirit) e Kagen no Tsuki por Ai Yazawa (1998, Shueisha).


30. Fire!, por Hideko Mizuno (1969)

Estados Unidos, final da década de 1960. Preso injustamente em um reformatório, o jovem Aaron encontra refúgio na música e nas mensagens de liberdade de seu colega delinquente Fire Wolf. Após sair de lá e conhecer um grupo de músicos em Detroit, ele decide espalhar a palavra de Wolf pelo mundo, encantando a todos com sua voz e o violão herdado de seu amigo, enquanto alcança o estrelato e estoura nas paradas de sucesso com a banda de rock Fire!

Um grande resgate histórico da editora Pipoca e Nanquim, que publicou pela primeira vez na América do Sul um mangá de Hideko Mizuno (Yoru no Hana), uma das mangakás mais influentes na contribuição para os mangás shoujo.

"Fire!" é um mangá de coming-of-age (ou amadurecimento) de um garoto que após uma injustiça, é mandado para um reformatório onde conhece uma figura quase mitológica que o mostra o caminho da rebeldia e da música.

Mesmo sendo uma história fictícia, o mangá é repleto de referencias musicais de grandes acontecimentos da época dos anos 60/70, e mesmo não tendo quase nenhum conhecimento de musicas ou a sua história deste período, dá pra ver que Mizuno tem um conhecimento e paixão ardente por este tema, e coloca cada gota de sua alma para homenagear a música.

Por ser um grande fã deste tipo de história (um dos meus mangás preferidos da vida é Beck!), me vi rapidamente investido na jornada de Aaron, e acompanhar seu crescimento, talento e desafios.

O que mais me frustrou foi a forma repentina que a autora começa a retratar seu protagonista como uma figura abusiva e descontrolada. Aaron é um protagonista fascinante por ter toda esta mística que nem ele compreende ao seu redor, e é claro que sempre atraí figuras excêntricas e únicas.

Mas um tema recorrente pé o seu relacionamento com mulheres, desde sua mão, namoradas, amigas e paixões frustradas. E a partir do segundo volume, ele parte para uma mudança tão repentina de personalidade, se tornando abusivo em todos os níveis com todas as mulheres ao seu redor, que parecia mais um assassinato de personagem, fazendo coisas incompreensíveis. Entendo que mesmo Mizuno sendo uma mulher, certos comportamentos eram tratados como normal na época mas pera lá né minha gente.

Não é uma leitura fácil ou atrativa para todos, inclusive espere um amontoado de texto como de costume para mangás desta época. Mas como a escrita de Mizuno é surpreendentemente refinada neste quesito, não chegou a me incomodar. Mas é algo que vária de gosto para gosto.

Fire! foi publicado originalmente no Japão em 4 volumes pela Shueisha em 1969. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 2 volume pela editora Pipoca e Nanquim, atualmente disponível em catálogo.

29. Pigpen, por Carnby Kim e Beom Sick Cheon (2019)

Uma escapada relaxante no paraíso ou uma armadilha mortal? Um jovem acorda em uma praia de tirar o fôlego, mas não tem ideia de quem é ou como chegou lá. Por mais que tente juntar tudo, desvendar esse mistério alucinante não será fácil quando cada pista leva a perguntas mais enlouquecedoras... e a família que o recebe em sua casa não é o que parece.

Vou me restringir a não comentar tanto sobre a história já que cada capítulo contem múltiplas reviravoltas e é de fato uma experiência bem maneira acompanhar essa trama.

Não é a primeira webtoon de Carnby Kim (Bastard, Sweet Home) e Beom Sick Cheon (Pieces of Humans) que eu leio, então já estava meio que familiarizado com o estilo de escrita. Ele tem uma linguagem e tom meio adolescente edgy que gosta de pagar de adultão que me incomoda... muito. Mas depois que você abstraí isso, dá pra comprar todo o resto da obra que tem suas boas qualidades.

Primeiramente é insano a capacidade dos autores de conseguir fazer plot twists e ganchos acontecerem EM TODOS OS CAPÍTULOS. Não estou sendo hiperbólico não, e isso é algo que realmente bati palma para eles no fim da história, pois convenhamos é algo extremamente difícil de se fazer.

Quando o primeiro grande plot twist que muda completamente a temática e tom da obra rola, não consegui parar de ler até chegar no final, mesmo com as infinitas maluquices que vão acontecendo. 

Apesar da proeza de até o capítulo final manter está narrativa de sempre ter um twist na manga, a conclusão pode soar meio decepcionante depois de tantas voltas em circulo para dizer apenas obviedades. Parece um caso onde a jornada e os mistérios foram mais empolgantes do que a conclusão e mensagem em si,

Pigpen foi publicado originalmente na Coréia do Sul em 68 capítulos pela Naver em 2019. A webtoon no entanto continua inédita no Brasil.

28. Batgirl: Ano Um, por Scott Beatty, Chuck Dixon e Marcos Martin (Batgirl: Year One, 2003)

Bárbara Gordon é uma jovem brilhante e entusiasmada que já conquistou muito na vida, mas que luta para encontrar sua verdadeira vocação. Após se formar na universidade, ela pretende seguir os passos do pai e seguir a carreira policial, mas seus planos são prejudicados pelo excesso de proteção de Jim Gordon, seu pai e capitão de polícia, e pelo preconceito da sociedade. Isso a leva a seguir um caminho diferente em direção ao seu objetivo e a assumir o traje de Batgirl! Como vigilante, ela precisa aprender os meandros da vida de super-heroína enquanto luta para sobreviver e conseguir o reconhecimento do Cavaleiro das Trevas!

Nunca fui o maior fã da Batgirl (ou pelo menos da interação vivida por Barbara Gordon). Sempre achei ela uma personagem fascinante por a grande marca na sua história ser ter ficado paraplégica após tomar um tiro do Coringa em uma das histórias mais perturbadoras e icônicas do Batman, se transformando na Oráculo, uma heroína cadeirante fundadora das Aves de Rapina.

Porém com o passar dos anos, fui me apegando mais a toda a sua passagem como Batgirl, e acho um momento essencial para a personagem antes de se tornar a Oráculo. E uma das histórias mais reverenciadas dela era "Batgirl: Ano Um", com roteiros de Scott Beatty (Lanterna Verde, Batman) e Chuck Dixon (Aves de Rapina, Batman), e arte de Marcos Martin (Demolidor, Friday), que obviamente conta um novo olhar de sua origem.

A caracterização e personalidade de Barbara brilham, seu dilema e conflito com o pai, o Comissário Gordon é uma jornada necessária para ela, e o "confronto" moral com Batman e amizade com o Robin dão a Batgirl uma origem perfeita. Todo o gibi é sobre ela conquistar uma identidade própria e a aceitação de todos, o que pode ser visto como algo batido hoje em dia, mas gera uma história empolgante.

No mais esse divertido gibi é o grande ápice da construção do Mariposa Assassina (como um fanfarão vilão loser cheio de personalidade) e do Vagalume (que é ameaçador e sua psicopatia e obsessão por fogo o fazem ser um vilão bem legal), que nunca foram grandes destaques do núcleo do Batman, mas se mostraram personagens e antagonistas que podem render boas histórias.

Batgirl: Ano Um foi publicado originalmente nos EUA em 9 edições pela DC Comics em 2003. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Panini Comics.

27. Os Gatos do Louvre, de Taiyou Matsumoto (Louvre no Neko, 2016)

O famoso museu do Louvre guarda não só as mais famosas obras de arte da história. À noite, um mundo surreal ganha vida pelas galerias escuras do museu habitadas pelos gatos que moram no sótão.​

Esse não o meu primeiro grande contato com o genial Taiyou Matsumoto (Ping Pong, Tekkon Kinkreet), que já fez um mangá sobre Ping Pong que literalmente muda a sua forma de enxergar certas coisas na vida, e te envolve em partidas de Ping Pong emocionantes.

Fui então bem curioso ver este mangá com certa expectativa por conta deste nome, e encontrei uma história... intrigante. Os funcionários do museu mais famoso do mundo descobrem que um bando de gatos de rua vivem nos porões do museu, e ajudam um dos funcionários mais velhos a resgatar a sua irmã, que desapareceu quando eram crianças dentro do museu.

A mística por trás do museu se mistura com o surrealismo para criar um mundo fantástico escondido dentro dos quadros, e a escolha de fazer os gatos, em formas antropomorfizadas na visão deles, como os protagonistas dá uma camada interessante para a história.

Eu entendo e respeito o que Matsumoto quis atingir com "Os Gatos do Louvre", mesmo não sendo totalmente a minha geleia. Estaria mentindo se falasse que não fiquei imerso nessa pequena mas viajada história que ele criou, mas nunca despertou um grande sentimento dentro de mim que fizesse eu colocar ele algumas posições a cima na lista.

É uma boa recomendação para quem gosta de histórias lúdicas, arte, e é claro, é um bom amante de gatos.

Os Gatos do Louvre foi publicado originalmente no Japão em 2 volumes pela Shogakukan em 2016. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 2 volumes pela editora JBC, atualmente disponível em catálogo

26. Blue Box, por Kouji Miura (Ao no Hako, 2021)

A série foca em Taiki Inomata, um aluno da Eimei Junior and Senior High, uma escola voltada para o atletismo, onde ele é membro do time de badminton masculino e é considerado simplesmente mediano. Todas as manhãs, ele treina para melhorar cedo na academia, geralmente no mesmo horário e local que sua veterana Chinatsu Kano, a estrela do time de basquete feminino. Taiki rapidamente desenvolve uma queda por ela, mas inicialmente é tímido demais para falar com ela, apesar do tempo contínuo que passam sozinhos juntos. Sua sorte muda, no entanto, quando Chinatsu se muda para a casa da família de Taiki depois que seus pais deixam o Japão para trabalhar no exterior. Com Chinatsu agora morando com ele, Taiki pretende desenvolver lentamente seu relacionamento com ela enquanto ambos se esforçam para chegar ao campeonato nacional com seus respectivos times.

Um dos mangás atuais mais famosos e queridinhos da revista Shounen Jump, que é um romance que tem conquistado o coração dos leitores, sendo o primeiro grande trabalho de Kouji Miura.

Mais uma tentativa minha de explorar novas áreas que foi bem sucedida. Não é o primeiro mangá de romance que eu leio e nem o meu favorito, porém ele é bem gostosinho ao ponto de que vou continuar acompanhando até o final.

Ele sofre dos problemas esperados e falta desenvolver mais alguns personagens secundários que ficam presos a gimicks irritantes, mas o casal principal (ou no caso, trio principal?) é bem fofo e não dá pra não simpatizar com eles.

Eu acho hilário também como o autor praticamente caga para a parte dos esportes. Ele até dedica alguns poucos capítulos para as partidas de badminton de Taki, mas isso fica em segundo plano (o que eu acho bom) e serve mais como uma escada para justificar essa história, os romances e os arcos dos personagens.

As vezes esse romance adolescente previsível e maçante se torna um pouco irritante?? Sim, mas você torce pelos personagens e não consegue parar de ler os capítulos. E isso é muito vindo de alguém que não tem tanto saco pra esse tipo de narrativa.

Blue Box é publicado no Japão pela Shueisha desde 2021. No Brasil, o mangá é atualmente publicado pela editora JBC.

25. Robin: Ano Um, por Scott Beatty, Chuck Dixon e Javier Pulido (Robin: Year One, 2001)

Depois de meses treinando para se tornar o parceiro do Batman na luta contra o crime, o jovem órfão Dick Grayson finalmente está pronto para encarar a noite como Robin. Mas o trabalho exige muito mais do que um par de punhos. Enfrentando Sr. Frio e Duas-Caras pela primeira vez, Dick é desafiado pelas escolhas difíceis e sacrifícios que definem a existência de um herói. Esse primeiro ano é uma prova de fogo… mas será que o Robin voa alto o bastante para não se queimar?

Depois do ano um da Batgirl, quero voltar um pouco no tempo para o primeiro ano do menino prodígio e parceiro mirim do Batman. 

Sempre fui fascinado pelo Robin e a ideia por trás dele que muitas pessoas sempre acharam estúpida. Todo mundo exalta sempre o Batman e sua galeria de vilões, mas os personagens coadjuvantes do Batman são a alma deste que é o herói mais querido de todos. E seja um dos 4 principais Robins ou uma das 5000 versões adjacentes que existem, ele se tornou uma marca bem importante para a DC Comics.

E se o ano um da Batgirl apresentou um novo olhar para a personagem e sua origem, é claro que a do Robin, com os mesmos escritores, e a adição do excelente desenhista Javier Pulido (O Espetacular Homem-Aranha, Mulher-Hulk) também iria apresentar algo divertido para o personagem.

Aqui o primeiro Robin, Dick Grayson, é a estrela. Pulamos a sua origem onde os seus pais de circo são assassinados pela máfia, e ele é adotado por Bruce Wayne, se tornando seu fiel escudeiro na luta contra o crime. Ele já é jogado nas suas primeiras missões como Robin, enquanto tenta conquistar o respeito do Batman, e balancear suas aventuras com a escola e afazeres diários.

Como grandes vilões, a série explora o Chapeleiro Maluco, que é um vilão idiota que eu adoro do Batman (pô ele é um cara que tem um fascínio por Alice no Mundo das Maravilhas e no personagem do Chapeleiro Maluco), onde aqui ele sequestra garotas, hipnotiza elas e as veste como Alice e vende para criminosos, sendo uma versão até que macabra. E o Duas-Caras, clássico vilão que é utilizado de uma boa forma tradicional, como um gangster.

Não só a relação Batman e Robin é muito bem explorada, mas como a figura também paterna que o Alfred exerce sobre o Dick vem a ser bem importante. Ele também é uma âncora moral para o Batman, constantemente o lembrando que o garoto ainda é uma criança e de certa forma um filho para ele.

Se você procura um gibi de heróis divertido, com coração e que vai te fazer enxergar o Robin como um personagem muito mais interessante do que aparenta, este aqui é o que você precisa ler.

Robin: Ano Um foi publicado originalmente nos EUA em 4 edições pela DC Comics em 2001. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Panini Comics.

24. Last Karte: Houjuuigakusha Touma Kenshou no Kioku, por Wakabi Asayama (2022)

Kenshou Touma é um colegial comum com preocupações e sonhos sobre seu futuro, assim como todo mundo. Um dia, ele se depara com um grande número de corvos no parque que morreram de uma morte não natural. E enquanto está envolvido naquele incidente, um certo superpoder se manifesta nele...

O que me atraiu de verdade para essa história é a sua temática bem diferenciada, já que não é necessariamente um mangá de veterinários, e sim de peritos forenses que investigam a causa de mortes de animais, um conceito que eu nunca imaginei que seria possível gerar uma história tão fascinante.

A arte é bem interessante e a autora Wakabi Asayama (Sennou Shitsuji) sabe trabalhar com diferentes animais e situações do dia a dia que nem imaginamos. Os protagonistas são personagens interessantes e até que bem desenvolvidos, mas as vezes parece que falta um foco genuíno neles e em suas vidas pessoais.

As vezes o mangá apela demais para causar um sentimento de tristeza e choro dos leitores mostrando os animaizinhos morrendo, seus últimos suspiros e pensamentos. É natural e a história pede, mas existe uma certa covardia na forma como eles passam esse sentimento de desespero em fazer a gente se emocionar a qualquer custo.

De qualquer forma, um mangá bem intrigante e com uma premissa diferente que vale a leitura. Eu pelo menos achei fascinante como uma prova do leque sem fim que os mangás apresentam.

Last Karte foi publicado originalmente no Japão em 10 volumes pela Shogakukan em 2022. O mangá no entanto continua inédito no Brasil.

23. Verões Felizes, por Zidrou e Jordi Lafebre (Les beaux étés, 2015)

Todo ano, quando chega o verão, os Faldérault se preparam para sair de férias. E todo ano, Pierre, o pai, precisa correr para terminar as páginas de suas histórias em quadrinhos antes de viajar, pois está sempre atrasado. Quando finalmente larga o lápis e envia seu trabalho para a editora, ele e sua família belga embarcam no Renault 4L, apelidado de “Senhorita Estérel”, e dão partida rumo à França.

Um grande clássico moderno do quadrinho europeu, acho que dispensa muitas apresentações. O roteirista Zidrou (A Obsolescência Programada dos Nossos Sentimentos, A Adoção) e o desenhista Jordi Lafebre (Apesar de Tudo, A Mundana) são amplamente consagrados, mas o que Lafebre faz aqui com os desenhos e cores estupendas não dá pra descrever.

Cada álbum acompanha um ano diferente da família indo realizar uma viagem, tendo alguns saltos temporais. Sempre começando e terminando da mesma forma, o tempo passa, as pessoas vão e vêm, gostos mudam e lugares se transformam.

Rapidamente nos apaixonamos por essa família, vemos eles crescendo e parindo para as viagens e explorando suas personalidades e desafios.

São personagens falhos e humanos, que passam por dilemas. O pai e a mãe são os casos mais interessantes, pois em determinado capítulo descobrimos que o casamento anda abalado, e o motivo é realmente surpreendente considerando o que havia sido construído. E nunca vemos suas vidas fora entre as férias, então o baque de ver o que mudou nelas entre os capítulos é mais forte.

Eu chego a conclusão que não amei "Verões Felizes" como todo mundo, mas entendo completamente o apelo e o que está querendo realizar (e não dá pra negar que ele atinge esse objetivo no fim). É uma leitura descontraída que talvez fale mais com quem é pai e já tem uma vivencia maior. Para mim, é um bom quadrinho que faz jus a sua fama.

Verões Felizes foi publicado originalmente na França em 6 álbuns pela Dargaud em 2015. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Pipoca e Nanquim, estando ainda disponível em catálogo.

22. Fool Night, por Kasumi Yasuda (2020)

A Terra do futuro distante está coberta de nuvens espessas, e o sol não brilha mais. As plantas murcham, e o oxigênio é escasso. Para combater a extinção, a humanidade desenvolveu uma tecnologia que transforma humanos em plantas, fornecendo uma pequena quantidade de oxigênio. Esse processo é sustentável? É ético? Toshiro Kamiya deve considerar essas questões enquanto se depara com uma escolha difícil: salvar sua família ou salvar a si mesmo. Kamiya está no fim de sua corda. Sua mãe está doente, e seu trabalho mal paga seus medicamentos, muito menos comida. Com poucas opções restantes, ele considera o processo de mudança de vida da floromorfose. Pronto para entregar seu corpo por um dia de pagamento, Kamiya está prestes a explorar os limites da humanidade em declínio da sociedade.

"Fool Night" é um mangá que começou a aparecer em premiações recentes de mangás que rapidamente chamou a minha atenção. Pela sua premissa única e designs belos e monstruosos, dei uma chance e me deparei com uma leitura que não me cativou tanto quanto eu imaginava, mas me fez erguer a sobrancelha e pensar "hmmmm...".

O universo é bem rico e interessante de início. A exploração da vida humana e sua subsequente desvalorização e a luta por direitos básicos como alimentação e OXIGÊNIO (afinal, no fim o capitalismo é o grande culpado de tudo), que vira realmente um problema aqui gerando uma nova taxa de imposto já me conquistou pelas infinitas possibilidades que a história pode levar.

Toshiro, agora com pouco tempo de vida, pode se comunicar com pessoas que foram transformadas em plantas e "perderam suas consciências". Ele acha uma utilidade para o resto da sua breve vida e começa a trabalhar e ganhar dinheiro (por que mesmo nesta situação, o capitalismo ainda o obriga a achar uma forma de sobreviver) e tentar disfrutar alguns dos poucos prazeres da vida.

O primeiro mangá de Kasumi Yasuda, não dá pra negar que ele me impressionou, mas como a história está bem no começo e pode tudo descarrilhar a qualquer momento, vou continuar de olho pra ver o que ele quer realmente realizar com essa história.

Não vou negar que a mudança de foco da história de um drama interpessoal para um uma pegada mais de mangá de porradinha com monstros arvores e mercenários altamente treinados me deu um pouco de preguiça. Mas a história até agora mantem seu charme e está gostosa de acompanhar, e quem sabe ele não volta a figurar em listas futuras do site.

Fool Night é atualmente publicado no Japão pela Shogakukan desde 2020. O mangá no entanto continua inédito no Brasil.

21. 17-21 e 22-26, por Tatsuki Fujimoto (2014)

Vou dar uma roubada aqui e colocar não uma, mas DUAS coletâneas de histórias antológicas de  Tatsuki Fujimoto, autor de renomados e queridos mangás recentes como "Chainsaw Man", "Look Back" e "Adeus, Eri". Fujimoto já é um queridinho meu (apesar de estar um pouco incerto com o rumo que ele está dando para Chainsaw Man), mas a única coisa que eu não tinha lido dele eram os seus one-shots do começo de carreira, que foram compilados em duas antologias.

Não sou um grande fã de antologias já que elas costumam serem bem irregulares (e quase sempre só uma ou duas histórias prestam). Sinto que esse limite de tempo (e nesse caso, páginas) limita a mente dos autores para desenvolver melhor suas histórias, mas Fujimoto parece ter (quase sempre) noção de onde quer chegar e como trabalhar essas histórias mesmo com poucas páginas, resultando em antologias repletas de histórias bem maneiras (mas nem todas acertam no entanto).

Fujimoto sempre retrata arte e o artista em suas obras, é um grande tema presente em quase tudo que ele escreve. Isso está bem presente em algumas histórias aqui (como a das duas irmãs pintoras), mas nessas histórias ele da um enfoque muito grande para relacionamentos amorosos e construção de empatia, o que é curioso.

Não tem muito o que falar sobre as histórias em si, mas as narrativas bizarras e singulares de Fujimoto estão mais do que presente nelas (tirando uma história específica que ele opta conscientemente em fazer algo mais "normal"). Se fosse destacar as minhas prediletas, seriam a história das pessoas, o garoto que tenta se confessar para a garota que ama mas é constantemente impedido pelas maiores loucuras do mundo, o garoto que é apaixonado por sua professora e tenta salvar ela de um tiro e o do de irmãos tentando sobreviver no mundo dominado por aliens que devoram humanos.

Acho que inclusive é uma excelente porta de entrada para conhecer a mente deste peculiar mangaka, mesmo estado longe de ser o seu melhor trabalho!

17-21 e 22-26 foram publicados originalmente no Japão em 2 volumes pela Shueisha em 2014. No Brasil, o mangá foi publicado em 2 volumes pela editora Panini Comics, estando ainda em catálogo.

20. Mulher-Gato, por Ed Brubaker e Darwin Cooke (Catwoman, 2002)

Um serial killer vem empilhando corpos nos antigos redutos de Selina Kyle, trazendo-a de volta a uma vida que ela acreditava ter deixado para trás permanentemente. Quando a Mulher-Gato começa a investigar o caso, ele a conduz ao coração do Departamento de Polícia de Gotham, e a um encontro com um rosto de seu passado... Será que a felina fatal está pronta de verdade para o que a aguarda nas ruas sombrias da cidade gótica?

Como um grande DCnauta e fã de carteirinha do Batman, a Mulher-Gato sempre foi uma das personagens que mais gostava do núcleo do Batman. Não tinha como não se apaixonar pela dinâmica que ela trazia para as histórias do homem-morcego, seja nos filmes, animações ou quadrinhos. E de longe, a sua fase mais celebrada nas hqs era a passagem do aclamado escritor Ed Brubaker (Criminal, Capitão América).

Sempre ouvi falar muito bem dessa fase, mas nunca tive a oportunidade de ler ela, aproveitando uma boa promoção do Omnibus que contém todas as histórias que ele escreveu da personagem. Brubaker (que é um nome que será muito citado nesta lista) é um mestre de histórias policiais e investigativas, e isso caiu como uma luva para com a personagem. A arte de Darwin Cooke (DC: A Nova Fronteira, Batman: Ego) é fenomenal, um artista que traz uma vibe era de ouro/prata com muita personalidade, e entregou o que considero o visual definitivo da Mulher-Gato.

Existem alguns arcos destoantes envolvendo as últimas histórias que se misturam com grandes eventos da DC e do Batman. Mas tudo vale muito por conta dos primeiros arcos (e especialmente no divertido arco onde Selina e Holly viajam pelo país encontrando diferentes personagens da DC).

Não tem como ler essas histórias e não se apaixonar pela Selina, e todos os personagens de apoio (Holly, Batman e o carismático Detetive Slam Bradley) trazem uma complexidade para suas histórias. Mas de longe o arco mais angustiante e instigante é o que desenvolvem seu conflito com o vilão Máscara Negra, que é tão brutal ao ponto de redefinirem esse vilão como um dos mais ameaçadores e sádicos de toda a galeria do Batman. E tudo isso só comprova como é importante ter grandes autores com liberdade para trabalhar os mitos destes personagens quase centenários.

Mulher-Gato foi publicado originalmente nos EUA em 37 edições pela DC Comics em 2002. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Panini Comics, estando ainda em catálogo.

19. O Horizonte, por Ji-Hoon Jeong (The Horizon, 2016)

Em um mundo devastado pela guerra, um jovem caminha por uma estrada solitária após a morte de sua mãe. Ao longo de sua jornada, ele testemunha tanques militares, cadáveres e sua amada cidade em ruínas. Com os olhos nublados pela angústia, ele se esforça para continuar seguindo em frente. Uma manhã, ele conhece uma garota em um ônibus abandonado onde passou a noite. Momentos após o encontro, a área se transforma em um campo de batalha, e a dupla escapa para uma longa estrada abandonada. Os dois estranhos decidem caminhar juntos até o fim da estrada, iniciando assim uma companhia que acenderá uma nova esperança dentro de seus corações murchos.

De vez em quando nos deparamos com histórias trágicas que nos marcam por apresentar futuros distópicos imagináveis que representam o pior da humanidade.

Bem, este manhwa de Ji-Hoon Jeong (The Boxer) é praticamente isso. Foi uma leitura bem rápida já que a história não tem quase nenhum texto, com a narrativa visual sendo o grande forte. E eu terminei a leitura completamente em choque, no silencio do meu quarto de noite, olhando para o teto tentando dormir por alguns bons minutos, digerindo o que tinha acabado de ler.

Falando na arte, ela é simples porém impactante. Os cenários vasos e desertos que dão um tom melancólico de solidão, a destruição da sociedade e desespero constante que toma a mente dos personagens, e a representação da monstruosidade humana é muito bem passada. Não é uma arte que me impressionou de maneira nenhuma, mas me trouxe um impacto.

Vagando por este mundo desesperador, as crianças vão se deparando com figuras que perderam qualquer resquício de humanidade, como o homem bestial (desenhado de forma completamente aterrorizante, diga-se de passagem) que acompanha eles agindo como um animal selvagem, ou até mesmo o homem de terno que controla uma cidade, que apesar de sua frieza e postura dura, parece ser uma pessoa amigável (embora esconda segredos macabros).

Acho bom deixar o alerta que esta é uma das recomendações mais fortes e depressivas de toda a lista, então se você não está em um bom momento e quer evitar pensamentos negativos, fica o aviso. Mas não sei se a história cai em um torture porn ou algo deste tipo, já que ela não foca necessariamente na parte gráfica ou em algo sexual, já que o psicológico é o que o autor quer trabalhar.

Gosto particularmente do final da história. Apesar de todo o cinismo e pessimismo, o autor dá (na medida do possível) um final feliz. Não acho que as histórias necessitam de um final feliz para serem boas, mas está em particular clamava por um contraste para todo o desespero e tristeza que construiu.

O Horizonte foi publicado originalmente na Coréia do Sul em 3 volumes pela Comica em 2016. No Brasil, o manhwa foi publicado em 3 volumes pela editora New Pop, estando ainda em catálogo.

18. Tetsugaku Letra, por Somomo Yumeka (2011)

No ensino médio, Ichinose Kimitaka ensinou seus amigos a jogar basquete. Apesar de sua experiência com o esporte, seus amigos rapidamente o superaram em habilidade. Após um incidente causado por sua frustração e ciúme, ele ficou arrasado ao ouvir esses mesmos "amigos" discutindo como eles desejavam que ele simplesmente se matasse. A caminho de jogar fora seus tênis especiais de basquete, ele conheceu uma garota que estava igualmente frustrada, jogando seus próprios sapatos de dança fora. Ela era tão alta, e suas mãos e pés eram tão grandes, que ela havia sido rejeitada de seu hobby escolhido de dança espanhola. Ele a incentivou a tentar basquete, e os dois trocaram seus tênis em vez de jogá-los fora. Ao entrar no ensino médio, Kimitaka descobre que conhecê-lo mudou a vida daquela garota para melhor, e ela agora é uma jogadora de basquete feliz e sociável. Kimitaka será capaz de encontrar coragem para fazer novos amigos e perseguir seus próprios talentos?

As vezes um ato de gentileza pequeno pode ressignificar uma vida, e presenciar o crescimento de uma pessoa que você ajudou te sensibiliza a querer mudar a sua vida (eu sei que parece um papo de coach, mas eu juro que não é essa a intenção).

A mangaká Somomo Yumeka (Watashitachi no Shiawase na Jikan, My Girl) traz uma história humana e sensível de amadurecimento e descoberta de um garoto que encontra um novo objetivo na vida, que o leva a um caminho com novas amizades e superação.

Claro que tudo isso é extremamente clichê, mas se tem algo que esse mangá não é, é isto. Tudo gira em torno de Ichinose buscar uma certa redenção para si, através da arte para lhe dar coragem de conversar com a garota que ajudou no passado.

Todos os personagens que o cercam são interessantes também. Por fora eles parecem caricaturas de personagens que já vimos em todos os cantos, mas conforme a história se desenrola e eles ganham arcos próprios, se tornam multifacetados e únicos.

Gosto como a dança é mais uma forma do protagonista expressar uma vontade de percorrer uma marca pessoal do que necessariamente um sonho de se tornar o maior dançarino do Japão ou algo desse tipo. E ele não despreza a dança ou trata ela como algo menor, muito pelo contrário! A arte por trás e a importância que ela tem para outras pessoas (como a sua professora e colegas) é algo crucial para o desenvolvimento do protagonista.

No geral é um mangá bem gostosinho que foi uma leitura fluída que me fez ficar fascinado em buscar mais obras da autora. A duração curta também ajuda a pegar o ritmo rápido e se afeiçoar a estes personagens, já que tudo é muito bem escrito e amarradinho.

Tetsugaku Letra foi publicado originalmente no Japão em 6 volumes pela Shogakukan em 2011. O mangá no entanto continua inédito no Brasil.

17. Baby Steps, por Hikaru Katsuki (2007)

Maruo Eiichirou, um aluno de honra do primeiro ano, um dia decide que está infeliz com a forma como as coisas estão e não faz exercícios. Ele encontra um folheto do Clube de Tênis e decide dar uma olhada. Ele é imediatamente cativado por ele. Sem experiência anterior e com condicionamento físico ruim, junte-se a Eiichirou enquanto ele embarca em uma jornada no tênis usando sua inteligência, dedicação e ética de trabalho.

Mesmo detestando esportes, sou apaixonado por mangás de esportes. Eu sei, isso é bem paradoxal e sem sentido, mas o que me fascina mais do que os esportes são os dramas e personagens que acompanham essas histórias, e pra mim a coisa mais importante em uma história são seus personagens.

Maruo, diferente de mim, é um gênio na escola. E ele se apaixonar logo de cara por um esporte tãããããooo... ok como tênis é realmente chamativo. Ele usa sua habilidade hiper-analítica para criar estratégias e visões diferentes do esporte para crescer cada vez mais.

Não vou mentir, pensei em vários momentos em dropar "Baby Steps" no começo, já que a leitura estava bem maçante e genérica. Porém algo me fez persistir e dar incontáveis chances, e lá pro capítulo 100 (sim, eu sei) me vi completamente fisgado e investido nessa escalada de Maruo, passo à passo, para se tornar o melhor do mundo.

Os jogos começaram a ficar super interessantes e todos os personagens começaram a se mostrar mais humanos e divertidos. Os conflitos se tornam cada vez mais maduros e eu estava na ponta da cadeira lendo as partidas, sendo impossível prever quem ia ganhar e perder.

Infelizmente, o mangá acabou sendo cancelado no meio de sua história apesar da autora conseguir dar uma finalização minimamente digna. E mesmo assim, recomendo muito dar pelo menos uma chance para este sucinto e divertido mangá.

Baby Steps foi publicado originalmente no Japão em 47 volumes pela Kodansha em 2007. O mangá no entanto continua inédito no Brasil.

16. Declínio de um Homem, por Junji Ito e Osamu Dazai (Ningen Shikkaku, 2017)

O livro “Declínio de um Homem”, de Osamu Dazai, considerado um romance autobiográfico do autor, apresenta a trajetória da infância até a vida adulta de Yozo Ohba. Atormentado desde cedo pelas pessoas ao seu redor, ele conhece as piores facetas do ser humano. Com a psique arruinada e enlouquecendo aos poucos por não saber lidar com a ansiedade que o domina, Yozo veste uma máscara para tentar viver em sociedade. Porém, ele continua se sentindo desconectado do mundo e seu espírito acaba destroçado, o que resulta na busca constante pela morte.

Osamu Dazai (O Sol Poente) é um nome bem reconhecido da literatura japonesa, e quem é fã de literatura e de mangás com toda a certeza já ouviu falar sobre ele, assim como Junji Ito (Uzumaki, Tomie), que é o mestre do horror dos mangás.

Como alguém que não leu o livro "Declínio de um Homem", mas leu quase toda a obra de Ito, enrolei muito para ler essa adaptação por não sentir muita confiança nele para adaptar essa história (sendo que eu já li anteriormente outra adaptação na qual me apaixonei). E não me entendam errado, não sou um hater de Junji Ito ou algo do tipo! Só tenho algumas birras com alguns vícios dele que me incomodam, e não sabia se ele ia conseguir adaptar uma história tão complexa e introspectiva quanto esta.

Com um grande sorriso no rosto, fui provado estar errado ao longo da leitura, já que Ito conseguiu captar a angustia e tristeza dessa história e imprimir sua assinatura tradicional de horror. Ele navega entre o terror tradicional dele, imagens que causam desespero, nojo e até uma espécie de horror sexual.

A história, desta vez mais fiel ao seu tempo cronológico do livro, é um grande estudo sobre a depravação e desmonte de um homem que não conseguia se encaixar na sociedade e/ou entender a humanidade. Embora tenha sido abusado de diferentes formas, ele se escondeu atrás desses abusos para criar esse personagem vazio que apenas um colega de infância macabro conseguiu enxergar.

Outro ponto fascinante desta história é seu relacionamento com as mulheres, que por conta de sua beleza, sempre vêm um oportunidade de abusar dele e tirar algum proveito, enquanto ele legitima este abuso como uma forma de criar relações e também tirar proveito delas, leva a construção e decadência de um dos protagonistas mais fascinantes que eu já vi.

Não é o meu mangá favorito de Ito, ou até mesmo a minha versão favorita em mangá de "Declínio de um Homem", já que eu sou apaixonado pela adaptação de 2009 feita por Usamaru Furuya (The Music of Marie, Litchi☆Hikari Club). Mas é fantástico ver o mestre do horror japonês se aventurando e se desafiando com algo diferente, sem adotar o formato de contos e adaptando uma obra alheia. Dá pra ver que é um projeto bem especial do autor, e vale como uma boa porta de entrada para a sua obra.

Declínio de um Homem foi publicado originalmente no Japão em 3 volumes pela Shogakukan em 2017. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora JBC, atualmente disponível em catálogo.

15. One Room Angel, por Harada (2017)

Há muitas coisas que Kouki não tem — nenhum hobby, nenhum amigo, nenhum amante, nenhum emprego estável e nenhuma vontade de viver. Então, quando uma briga aleatória com algumas crianças o faz ser esfaqueado, ele pensa que talvez esta seja finalmente sua passagem para sair desta vida de merda. Mas quando ele está prestes a desmaiar, ele vê um lindo "anjo"... Como Kouki deve lidar quando, menos de um mês depois, ele está misteriosamente curado, tem contas astronômicas para pagar e, de repente, tem o mesmo lindo anjo que seu colega de quarto amnésico?

Esse é um caso difícil de comentar sem entrar em muitos spoilers. A premissa meio... batida dele e a curta duração inicialmente me afastaram do mangá, mas por ele ser bem recomendado pela comunidade e alguns conhecidos, dei uma chance para além do primeiro capítulo.

O protagonista loser é algo que estamos cansados de ver, mas Kouki é bem "gostável" e seu relacionamento com o anjo é divertidissimo. Os mistérios são óbvios mas a construção desta dupla é o que faz toda a história fluir tão bem.

Gosto particularmente do estilo de humor e a forma como o autor casa com os momentos dramáticos, dando até uma certa emocionada com o final. Não é uma história que me marcou profundamente ou se tornou um dos meus favoritos da vida, mas sinto que vou apreciar ainda mais ele durante uma futura releitura.

O mangá da polêmica Harada (YataMomo) é belo, sensível e marcante, além de ser uma leitura bem curta que vai te deixar um impacto positivo ao terminar ele. Me fez ter vontade de ler outras obras dela, mesmo não sendo chegado em Boys Love (gênero que devo bastante no meu repertório de leituras).

One Room Angel foi publicado originalmente no Japão em 1 volume pela Shodensha em 2017. O mangá no entanto continua inédito no Brasil.

14. The Fable, por Katsuhisa Minami (2014)

Fable é um assassino lendário que completou vários trabalhos para uma variedade de clientes. Após concluir sua última tarefa, o número de pessoas que ele matou recentemente se torna muito alto, e Fable é ordenado por seu chefe a ficar quieto por um ano. Ele é sugerido que ter que se adaptar à vida como um cidadão comum pode provar ser uma experiência valiosa para seu trabalho futuro. Ele deve ser acompanhado pela mulher que atua como sua motorista, e os dois assumirão novas identidades como irmãos. No entanto, seu chefe os avisa que ambos enfrentarão uma punição mortal se Fable matar alguém durante seu tempo livre. Assim começa o ano sabático conjunto de Akira e Youko Satou do submundo.

Existem aqueles livros, quadrinhos, filmes ou séries que estão na sua pilha a tanto tempo, que sempre que você procura algo para ler se depara com a mesma capa, mas opta por ler/assistir outra coisa no lugar, e nem se lembra do por que colocou isso na sua lista, mas sempre passa por esse looping estranho. E bem, decidi quebrar um desses loopings e ler Fable, um mangá de  que estava a anos na minha lista.

Como disse não lembro o por que isso estava na minha lista, mas no fim agradeci profundamente o meu eu do passado por ter colocado isto nela. Fable, escrito e desenhado por Katsuhisa Minami (Naniwa Tomoare) é um dos mangás mais divertidos que eu li neste ano.

A arte é bem dinâmica e gera sequências de ação bem legais de se acompanhar, com muitas reviravoltas empolgantes que te fazem ficar colado no mangá. O autor sabe balancear esse humor idiota com situações séries que pendem até mesmo para o horror, criando alguns antagonistas dignos de grandes filmes de suspense. Tudo funciona por conta do protagonista excêntrico mas carismático, que tem uma jornada bacana somado a um elenco de apoio de personagens que você se afeiçoa.

Não é nada mega reflexivo ou com temas complexos, e até diria que ele trabalha meio mal esse pseudo arco de redenção. Mas no fim é extremamente divertido e engajante, e vale a leitura só por isto.

The Fable foi publicado originalmente no Japão em 22 volumes pela Kodansha em 2014. No Brasil, o quadrinho está atualmente sendo publicado pela editora JBC.

13. Alvo Humano, por Tom King e Greg Smallwood (Human Target, 2021)

Christopher Chance ganha a vida sendo o Alvo Humano: um homem contratado para se disfarçar do cliente como isca para supostos assassinos. Porém, em seu último caso protegendo Lex Luthor as coisas deram errado. Agora, Chance tem 12 dias para solucionar o mistério de seu próprio assassinato! Quem no Universo DC odiava Luthor o suficiente para querer vê-lo morto por veneno de ação lenta? E os principais suspeitos são… a Liga da Justiça Internacional?

E vamos para mais um gibizinho de bonequinho da DC Comics, desta vez um mais recente. Absolutamente ninguém é fã ou se importa com o Alvo Humano, e não me interessa se você vier falar que leu os quadrinhos quando era criança, se seu avô era fã do personagem ou se administra uma página chama Alvo Humano Brasil. NINGUÉM SE IMPORTA COM O ALVO HUMANO, e essa é a magia dos quadrinhos.

Até personagens completamente desinteressantes como esse conseguem ser agraciados ao cair na mão de grandes escritores, ou pessoas que pelo menos saibam construir algo de interessante com eles. E é isso que a dupla Tom King (Senhor Milagre, Visão) e Greg Smallwood (Cavaleiro da Lua, Vingadores Selvagens) fizeram com o personagem.

Uma sacada de mestre de King foi utilizar a aclamada Liga da Justiça Internacional (apelidada carinhosamente pelos fãs de Liguinha) como foco central, já que é uma equipe conhecida pelas suas histórias cômicas utilizada em uma trama séria e introspectiva.

Não vou mentir que o mistério em si se torna um pouco desinteressante conforme a história ada, já que fica bem óbvio quem está por trás disto tudo. Mas a construção até o climax é perfeita, assim como a forma que ele encerra tudo. A narrativa de focar cada edição em 1 membro da Liga e sempre adotando uma linguagem diferente é muito divertido, sem falar no capítulo brilhante do Batman, onde temos o confronto mais absurdo com o Homem-Morcego, onde ele mostra toda a sua perícia e eficiência sem ao menos aparecer, com sua existência e astucia sendo o suficiente para sufocar o Alvo Humano.

E é claro, acho que a maior contribuição é o desenvolvimento que eles dão para a personagem Gelo, que até então era apenas uma personagem bacaninha mas sem muito destaque da DC. Ela vira uma espécie de femme fatale que forma um romance com Christopher, e é a co-protagonista. O ar frio, doce e inocente dela combinado com uma sensação estranha de que ela não é confiável a fazem uma personagem fascinante. 

Apesar dos detratores que parecem sempre querer as mesmas histórias genéricas de heróis sempre, adoro o trabalho de King na maioria de seus gibis. Ele sabe trabalhar a tristeza e desconstruir certos personagens sem esquecer qual é a essência deles, e considero sim um dos melhores roteiristas de gibis norte americanos da atualidade. Já era fã da arte de Smallwood na revista do Cavaleiro da Lua, mas aqui ele tá em um nível assombroso, experimentando muito com layouts lindos.

Eu acabei realmente me afeiçoando por Christopher Chance, e é uma pena que ele não tenha tantos materiais dignos de nota, mas isso só dá mais força para este belo quadrinho de King e Smallwood, e que a dupla volte a trabalhar com diferentes personagens no futuro.

Alvo Humano foi publicado originalmente nos EUA em 12 edições pela DC Comics em 2021. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 2 volumes pela editora Panini Comics, estando ainda em catálogo.

12. One Piece, por Eiichiro Oda (1997)

Gol D. Roger, um homem conhecido como o Rei dos Piratas, está prestes a ser executado pelo Governo Mundial. Mas pouco antes de sua morte, ele confirma a existência de um grande tesouro, One Piece, localizado em algum lugar dentro do vasto oceano conhecido como Grand Line. Anunciando que One Piece pode ser reivindicado por qualquer um digno o suficiente para alcançá-lo, o Rei dos Piratas é executado e a Grande Era dos Piratas começa. Vinte e dois anos depois, um jovem chamado Monkey D. Luffy está pronto para embarcar em sua própria aventura, procurando por One Piece e se esforçando para se tornar o novo Rei dos Piratas. Armado apenas com um chapéu de palha, um pequeno barco e um corpo elástico, ele parte em uma jornada fantástica para reunir sua própria tripulação e um navio digno que os levará através da Grand Line para reivindicar o maior status em alto mar.

Essa vai ser outra roubadinha do texto (mas como ele é meu, eu faço o que quiser), e vou incluir não necessariamente um mangá em si (embora todos devam ler One Piece, que é muito bom), e sim um arco de "One Piece" que foi finalizado este ano: Egghead.

Egghead foi o arco que deu pontapé para a saga final da obra (sim, está acontecendo!) que ainda vai durar um bom tempo. Ele é o arco onde tivemos os chapéus de palha chegando nesta ilha misteriosa dita ser a ilha do futuro, lar de tecnologias incríveis e do renomado Dr. Vegapunk, o cientista mais brilhante do mundo que sempre foi citado na história, mas nunca apareceu.

Com um arco caótico como de costume, temos a tentativa de assassinato de Vegapunk por parte do Governo Mundial, com um grande desenvolvimento de Kuma e Bonney (com direito ao flashback mais tocante até agora) e o enfrentamento do bando contra o Almirante Kizaru e um dos 5 Sábios: Saturn.

Não chega a ser o melhor arco de One Piece, longe disso. Mas fazia tempo que não acompanhava essa obra semanalmente na ponta da cadeira. As revelações feitas por Vegapunk (e Oda) do mundo, um gostinho da tão esperada história de Joy Boy e as peças centrais deste grande final finalmente postas no tabuleiro, causou um sentimento de euforia a cada capítulo. Sem falar na construção bem interessante e até emocional de alguns personagens que ninguém esperava, como o próprio Kizaru.

Falando em arco, também estamos tendo em 2024 o começo de "Elbaf", que é o arco atual onde os chapéus de palha estão se aventurando pela terra dos gigantes. Ainda é muito cedo pra falar algo, já que estamos naquela formulinha básica do Oda onde em cada começo de arco ele ainda tá contextualizando os protagonistas na nova ilha e apresentando um leque de personagens novos, então não tem muito o que dizer. Quem sabe futuramente One Piece não figura novamente em uma dessas listas, com o arco de Elbaf.

One Piece é publicado no Japão pela Shueisha desde 1997. No Brasil, o mangá, com mais de 100 volumes, é publicado atualmente pela editora Panini Comics, estando ainda em catálogo.

11. Boys Run the Riot, por Keito Gaku (2020)

Boys Run the Riot acompanha um garoto transgênero do ensino médio chamado Ryo Watari e suas lutas em um ambiente escolar que não aceita seu gênero. Seu interesse em moda de rua masculina o leva a fazer amizade com Jin Sato, um garoto cisgênero e aluno transferido que também é um pária, apesar das dúvidas iniciais de Ryo sobre ele. Depois que Ryo confidencia a Jin sobre sua disforia de gênero, eles decidem juntos lançar sua própria marca de moda, que eles chamam de "Boys Run the Riot".

Representatividade trans sempre foi feita de forma horrenda em muitos mangás mainstream. Não que os mangás sejam algo super a frente de seu tempo neste quesito, afinal estamos falando do Japão, um dos países mais conservadores do mundo. Mas existem várias obras que tem o mínimo de sensibilidade para lidar com esse tema e personagens trans sem cair para uma caricatura que beira a paródia. 

Dito isto, acho que "Boys Run the Riot" é uma excelente (mas ressaltando que não que eu seja nenhum especialista no assunto já que sou apenas alguém de fora, e é sempre necessário ouvir perspectivas de pessoas da comunidade) representação trans. O protagonista e seus dilemas são bem desenvolvidos e sem cair totalmente em algo batido dele lutando pra se aceitar (o que também não é um problema).

Uma das coisas mais fascinantes de mangás que eu já comentei aqui é como a mídia consegue criar histórias de qualquer coisa, neste caso de dois adolescentes tentando criar uma marca de roupa. Como alguém que não se importa com roupas e moda no geral, fiquei investido totalmente no plot da criação da marca e a busca por um estilo singular que representasse o impacto que eles queriam alcançar com as roupas. Afinal, isso era um pretexto para representar o tema principal da história.

Esse foi apenas o primeiro trabalho de Keito Gaku (Aoba no Basket), um nome para ficar de olho com toda a certeza. O começo pode parecer um pouco truncado e genérico, mas conforme a trama avança, dá um quentinho no coração e vontade de acompanhar esses personagens. O final causa um sentimento... misto. Ao mesmo tempo em que ele é uma conclusão perfeita para a história (e até poética), tinha espaço para ter bem mais e mostrar um pouco mais desta jornada.

Boys Run the Riot foi publicado originalmente no Japão em 4 volumes pela Kodansha em 2020. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 4 volumes pela editora JBC, estando ainda em catálogo.

10. Gerações, por Daniel Warren Johnson (Superman: Red & Blue "Generations", 2021)

Esta nova série apresenta novas visões do Homem de Aço em suas duas cores características, vermelho e azul! Em todo o mundo, todos sabem que quando veem uma faixa vermelha e azul no céu, não é um pássaro... não é um avião... é o Superman!

O Superman não é o meu herói favorito ou chega perto desta posição, honestamente. Mas eu nutro um carinho e respeito genuíno por este personagem incrível. E diferente da opinião popular e pouco informada, ele é um personagem extremamente complexo e cheio de histórias marcantes que o tornam o maior herói que existe.

E digo mais: É fácil demais fazer funcionar uma história piegas do Superman que se escora em um melodrama barato. Acho que na última década tivemos grandes histórias do homem de aço, com fases bacanas e diferentes (Renascimento), histórias isoladas da cronologia como "Superman Esmaga a Klan" e por que não "Absolute Superman". Mas faltava algo que me tocasse profundamente, como "Grandes Astros Superman" e "Identidade Secreta" conseguiram. Mas bem, isso era o que eu pensava até este ano.

E com uma história curta de apenas 8 páginas chamada "Gerações", o autor Daniel Warren Johnson (Transformers, Murder Falcon), que escreve e desenha a história, nos entrega um dos clássicos modernos mais emocionantes do Superman. Uma história tocante de pai e filho, onde ele consegue transmitir seu amor genuíno para o filho que mesmo depois de sua morte, suas palavras continuam ecoando em Clarke e nas pessoas que ele salva. É simplesmente impossível não terminar essa história com lágrimas nos olhos.

Essa história foi publicada em uma coletânea de antologias do Superman, que honestamente é composta de histórias bem esquecíveis, tirando uma ou outra. E o grande legado deste quadrinho será sim a história de Johnson, dedicada a todos os pais neste mundo, que amam os seus filhos.

Superman: Azul e Vermelho foi publicado originalmente nos EUA em 6 volumes pela DC Comics em 2021. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Panini Comics, estando ainda em catálogo.

9. Blood on the Tracks, por Shūzō Oshimi (Chi no Wadachi, 2017)

Seiichi Osabe é um tímido estudante do ensino fundamental que vive uma vida relativamente comum. Sua mãe, Seiko, é considerada superprotetora por outros, embora Seiichi se sinta confortável com o amor e o cuidado de sua mãe e não sinta nada de estranho em seu comportamento. Um dia, Seiichi faz uma viagem de caminhada em família com seus pais e família paterna. Em um ponto, o primo de Seiichi, Shigeru, brinca empurrando Seiichi perto da beira de um penhasco, levando Seiko a rapidamente agarrar Seiichi, protegendo-o de cair. O resto da família começa a rir de Seiko por seu ato "superprotetor". Um tempo depois, Seiichi e Shigeru vão para uma beirada mais alta do penhasco, e quando Shigeru está na beirada do penhasco, Seiko, que os estava seguindo, se aproxima de seu sobrinho e o empurra do penhasco, dando um breve sorriso para seu filho. Após o incidente, onde Shigeru fica em estado de coma e Seiichi é a única testemunha do que aconteceu, ele começa a descobrir o quão perigoso o afeto de sua mãe pode se tornar, e o que se segue é uma série de eventos nos quais a vida cotidiana de Seiichi se torna um horror, vivendo sob a proteção perturbadora de sua própria mãe.

Se eu acabei de falar de uma linda e emocionante história de pai e filho, vamos para o completo oposto e falar de uma tragédia de mãe e filho, com o recém terminado mangá do aclamado Shūzō Oshimi (As Flores do Mal, Inside Marie), que é um dos meus autores favoritos.

Tento não ler mais de um mangá de Oshimi por ano, já que honestamente eles me deixam bem reflexivo de um jeito não tão positivo. Não que eu evite estes sentimentos ou ache eles ruim, muito pelo contrário! Mas as vezes a nossa saúde mental requer um pouco de paz e preparação para embarcar em certas histórias.

"Blood on the Tracks" é a típica história que esperaríamos de Oshimi, com ele mergulhando de cabeça no psicológico destes personagens completamente quebrados. A mãe é uma personagem completamente psicótica que se torna as vezes uma criatura assustadora e que realmente causa medo, e a narrativa angustiante de não saber o que vai acontecer e a sensação de "vai dar merda" é sufocante.

Tudo isso para ele quebrar tudo completamente com o terço final da história no time skip, e ohhh boy, aquilo sim oi difícil de digerir. Ver o protagonista que passou por tudo que passou, confrontando sua mãe e o passado dela, sem ter uma conclusão falsa de contos de fada e sim real e crua foi satisfatório como leitor.

No fim nossos relacionamentos com nossos pais tem tanto um lado positivo quanto negativo, porém é inegável de de certa forma, eles sempre vão acabar estragando algo em nós. Todo o mangá foi um soco no estomago que me deixou quase nauseado, já que eu pude enxergar muito de mim nesta história (obviamente nas devidas proporções) e até tentei me colocar em algumas dessas situações.

Oshimi é mestre em causar a famosa "Depressão 2" e angustia com os seus mangás. E ele não falha nisso aqui. Seus mangás tem narrativas bem mais focadas na arte (super linda e detalhada, inclusive), do que em texto, fazendo com que seja mais rápido de ler. Não é a minha obra favorita dele, porem foi a que mais me impactou de longe, e prova que embora ele seja um pouquinho monotemático, é um grande autor que vale ficar de olho em tudo que publica.

Blood on the Tracks foi publicado originalmente no Japão em 17 volumes pela Shogakukan em 2017. O mangá no entanto continua inédito no Brasil.

8. Onde o Corpo Estava, por Ed Brubaker e Sean Phillips (Where the Body Was, 2023)

Uma casa cheia de viciados. Uma dona de casa negligenciada. Uma menina jovem que acredita ser uma super heroína. Um policial que só quer ser deixado em paz. E um Detetive Particular em busca de uma garota que fugiu de casa. Essas histórias se colidem num fatal verão em Onde o Corpo Estava, um conto de amor e assassinato ambientado nos subúrbios, contado de doze pontos de vista diferentes. Todos os vizinhos do quarteirão tem uma opinião a respeito do assassinato e sobre como ele ocorreu… mas qual deles está dizendo a verdade? Começando com um mapa da cena do crime, a trama desse mistério segue as pistas do assassinato conforme elas ecoam por décadas de amor, perda, paixão e violência.

Ora ora, se não temos mais uma vez Ed Brubaker nessa lista?? Desta vez é um quadrinho onde ele retoma a sua já celebrada parceria com o desenhista Sean Phillips (Hellblazer, Criminal), em um suspense fascinante que te deixa agarrado as páginas do começo ao fim.

Brubaker volta o seu olhar para o subúrbio americano, e as diferentes figuras que observamos nela. O que aconteceria se um corpo de alguém nunca antes visto pelos moradores locais de repente surgisse na rua? Surpreendentemente isto é a coisa que menos importa nesta história, já que os autores focam nas diferentes histórias aqui presentes.

A "criança estranha" que todo mundo ignora no bairro, um detetive da polícia que esconde segredos e traumas não resolvidos do passado, uma mulher que busca sair de um casamento perdido a todo custo, um jovem que busca um amor não correspondido, uma garota que busca uma oportunidade de viver uma vida emocionante... Esses são alguns dos personagens que permeiam a narrativa e diferentes histórias que se colidem quando um corpo aparece.

É uma história bem curtinha com começo, meio e fim. E que eu garanto que é praticamente impossível não terminar ela com um sentimento satisfatório, já que o final é brilhantemente escrito por Brubaker.

Onde o Corpo Estava foi publicado originalmente nos EUA pela Image Comics em 2023. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Mino, estando ainda em catálogo.

7. Cross Game, por Mitsuru Adachi (2005)

Kou Kitamura é um aluno do quinto ano cuja família administra uma loja de artigos esportivos. Um dos clientes regulares da loja de sua família é a família Tsukishima, e então ele conhece muito bem as quatro filhas da família (Ichiyo, Wakaba, Aoba e Momiji). Como Kou passou tanto tempo praticando em suas gaiolas de rebatidas, ele se tornou um rebatedor genial, mas não tem conhecimento de nenhum outro aspecto do beisebol. Isso contrasta com Aoba, que, apesar de ser um ano mais nova, é uma arremessadora e rebatedora habilidosa. Wakaba é uma colega de classe de Kou, e ela parece totalmente decidida a se casar com ele quando crescer. Tudo parece idílico em seu mundo, até que a tragédia acontece. A história então pula para quatro anos depois, pois Kou continuou o treinamento que começou há quatro anos, mas não jogou em uma partida de beisebol desde então. Agora que ele finalmente está voltando a jogar, ainda não se sabe se ele corresponderá às expectativas daqueles que conhecem o verdadeiro talento que ele escondeu todo esse tempo.

Não poderia me importar menos com baseball, um dos esportes mais desinteressantes do mundo e que tem as regras de pontuação mais estranhas que já vi. Mas por ser um clássico muito bem avaliado do veterano mangaka Mitsuru Adachi (Touch, H2), resolvi dar uma chance mesmo tendo total desdém ao esporte.

O primeiro volume nos apresenta a esses personagens e termina de forma tão trágica que quase nem conversa com o tom leve do mangá. Mas é intrigante como essa tragédia continua "assombrando" toda a história, sendo o mote para tudo se desenvolver da forma como ocorre.

É até engraçado pensar que a coisa que "menos importa" neste mangá é o baseball em si, e o próprio autor parece admitir isto no fim. O esporte é uma mera ferramenta pra contar esta linda história e desenvolver essas relações de personagens que fazem o leitor se apegar. Claro, a parte dos jogos ainda é legal pelo suspense de saber quem vai vencer, com uns 2 jogos em particular tendo momentos emocionantes.

Cada drama é muito bem estabelecido, e a relação de humor/amor de todos é o que sustenta essa história. Kou é um protagonista... estranho, já que ele não casa com o que esperamos deste tipo de história. As vezes ele parece meio frio e sem sentimentos, mas na reta final vemos que sempre guardou para si a tristeza e culpa pelo que aconteceu na infância. E isso é um ótimo exemplo de desenvolvimento de personagem que falta muito em mangás deste gênero.

No fim, terminar este mangá foi uma tristeza profunda, pois deu aquele sentimentos de despedida que você não quer ter. Parecia que eu estava dando adeus a velhos amigos, ao mesmo tempo em que estava feliz por ver que depois de todos os problemas e desafios, conseguiram encontrar um rumo (mesmo que nem 100% feliz) para as suas vidas. 

Cross Game foi publicado originalmente no Japão em 17 volumes pela Shogakukan em 2005. O mangá no entanto continua inédito no Brasil.

6. Sakamichi no Apollon, por Yuki Kodama (2007)

Kaoru Nishimi é um estudante inteligente e introvertido do primeiro ano do ensino médio de uma família rica que se muda para diferentes cidades com frequência como resultado da carreira de seu pai. Consequentemente, ele nunca fez amizades duradouras. No verão de 1966, ele se muda de Yokosuka, Kanagawa para Sasebo, Nagasaki para viver com sua família extensa. Em seu primeiro dia de aula, ele conhece Sentarō Kawabuchi, um aluno delinquente temido por seus colegas de classe. O amor de Sentarō pela música jazz inspira Kaoru a estudar o gênero, e os dois garotos começam a desenvolver uma amizade próxima por meio de sessões de jazz em uma loja de discos de propriedade da família de Ritsuko Mukae, uma colega de classe. A série slice of life segue Kaoru, Sentarō e Ritsuko ao longo de seus três anos de ensino médio, e os relacionamentos se desenvolvem entre eles.

2024 marcou também um ano onde quis sair um pouco da minha zona de conforto, lendo o meu primeiro Josei (demografia de mangás voltados para um público feminino adulto). Não que eu tivesse algum avesso ou pré-conceito com essa demografia, muito pelo contrário! Sempre me vi uma pessoa bem aberta a diferentes coisas, mesmo não sendo fã de romances adolescentes.

O trio de protagonistas é a alma desta obra, e mesmo eu não gostando de alguns tropos típicos destes melodramas com protagonistas adolescentes, você rapidamente é conquistado por eles e suas personalidades fortes. Inclusive como eles são extremamente falhos, inconsequentes e relacionáveis.

A sensibilidade que a história tem para lidar com os sentimentos humanos destes personagens e seus dramas é o que realmente me conquistou. É tudo tão lindo, doce e real que rapidamente já se tornou uma das minhas leituras favoritas do ano, e já é um queridinho meu.

Nunca tinha lido nada da autora Yuki Kodama (Tsukikage Baby), e apesar de não ser um grande fã de sua arte, no fim ela me conquistou com essa linda história.

Sakamichi no Apollon foi publicado originalmente no Japão em 9 volumes pela Shogakukan em 2007. O mangá no entanto continua inédito no Brasil.

5. Slam Dunk, por Takehiko Inoue (1990)

Hanamichi Sakuragi, um adolescente alto e barulhento com cabelo vermelho-fogo e força física além de sua idade, está ansioso para finalmente conseguir uma namorada ao começar seu primeiro ano na Shohoku High. No entanto, sua reputação de delinquência e destrutividade o precede, e a maioria de seus colegas o evita como uma praga. Quando seu primeiro dia de aula termina, ele fica com dois pensamentos fortes: "Eu odeio basquete" e "Eu preciso de uma namorada". Haruko Akagi, ignorante do histórico de mau comportamento de Hanamichi, percebe sua altura imensa e involuntariamente se aproxima dele, perguntando se ele gosta ou não de basquete. Superado pelo fato de uma garota estar falando com ele, o gigante ruivo deixa escapar um sim, apesar de seus verdadeiros sentimentos. Na academia, Haruko pergunta se ele pode fazer uma enterrada. Embora seja um novato completo, Hanamachi pega a bola e dá o salto... mas exagera, batendo a cabeça na tabela. Espantado com suas habilidades físicas quase desumanas, Haruko rapidamente notifica o capitão de basquete da escola sobre seu feito. Com isso, Hanamichi é inesperadamente lançado em um mundo de competição por uma garota que ele mal conhece, mas ele logo descobre que talvez haja mais no basquete do que ele pensava.

Um dos meus objetivos ao começar a ler mais mangás no ano era quitar algumas "vergonhas de caráter otaku" que eu tinha, e uma delas que eu realizei com sucesso foi finalmente ler "Slam Dunk", o mangá definitivo de esportes do mestre Takehiko Inoue (Vagabond, Real).

Quem é do meio conhece a fama extensiva de Slum Dunk. Um mangá de basquete que quebrou todos os paradigmas e se tornou um colosso dentro da Shounen Jump, a revista de mangás mais popular do Japão, rivalizando até mesmo com um mangazinho desconhecido chamado "Dragon Ball". E não só isso, mas a publicação foi tão inacreditável que fez com que o interesse da população japonesa pelo esporte crescesse, se tornando um dos mais populares atualmente no país. 

Acho que Slum Dunk dispensa apresentações. É realmente uma jornada incrível que se escora muito no protagonistas, Sakuragi, que tem um carisma infinito e uma linha de aprendizado que faz ele ser um dos protagonistas mais interessantes que existe. A arte soberba de Inoue também não poupa elogios.

Uma coisa que definitivamente me surpreendeu foi o jogo final. A tensão constante de ver que o número de capítulos estava chegando ao fim, e esse seria o último jogo, tudo completamente imprevisível e de fato eu não sabia como isso ia acabar me deram algumas das horas mais aflitas da minha vida. E o grande final me deixou bem reflexivo, um pouco puto, mas depois de digerir bem e entender o que ele quis fazer com esse final, deixou um sabor magnifico. Algo que é pra ficar marcado para sempre na minha cabeça.

É realmente um desses clássicos redefinidores que todo mundo tem que ler, e tu garanto que isso vai te fazer quebrar qualquer preconceito com o gênero de mangás de esportes, que é um dos mais divertidos que tem (não sério, um dos melhores mangás que eu já li é sobre escalada de montanhas).


Slam Dunk foi publicado originalmente no Japão pela Shueisha em 1990. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 24 volumes pela editora Panini Comics, estando ainda em catálogo.

4. Billy Bat, por Naoki Urasawa (2008)

O nipo-americano Kevin Yamagata agora é o autor da renomada história em quadrinhos de detetive "Billy Bat" depois de servir nas Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial. Mas, à medida que sua série se torna um grande sucesso, Kevin descobre que seu famoso personagem, Billy Bat, já existia antes em uma história em quadrinhos japonesa. Preocupado que ele possa ter copiado inconscientemente algo que viu durante seu tempo lá, Kevin retorna ao Japão para encontrar o criador original de Billy Bat e pedir permissão para que ele use seu personagem. No entanto, ao rastrear as raízes de Billy Bat, ele se vê desvendando uma história sombria e distorcida de assassinatos que de alguma forma envolvem o personagem que ele pensou ter criado.

Como quase todo mundo do meio, sou um grande fã de Naoki Urasawa, o mangaka que nos presenteou com grandes obras-primas como "Monster" (que eu não li :P), "20th Century Boys" e "Pluto". Curiosamente eu cheguei a ler uns bons 40 capítulos de "Billy Bat", até então o seu mangá mais recente que estava em publicação faz uns 7 anos, mas sinto que não tinha maturidade ou bagagem o suficiente pra compreender o que Urasawa estava querendo atingir com essa história, e acabei pausando a leitura.

Anos depois, me comprometi a ler tudo (aproveitando que ele já concluiu a história) e foi uma experiência única e magnifica. Já sou um leitor velho de Urasawa e conheço a sua narrativa única onde ele quer que o leitor se f#d@ se não estiver entendendo nada (e isso é bom!). Ele cria mil linhas narrativas, um trilhão de personagens diferentes e micro detalhes logo no começo da história que vão ser relevantes lá pro capítulo 198, mas que ele amarra tão... incrivelmente que te deixa sem palavras. Apesar de ser meio batido, não dá pra a essa altura do campeonato não enaltecer o dom que ele tem na escrita, por mais que dê umas derrapadas bem de vez em quando. 

Aqui ele usa da metalinguagem dos quadrinhos (usando eles como basicamente uma espécie de Bíblia sagrada nesse nosso universo não tão alternativo) para homenagear essa mídia tão querida por nós.  Dicotomia do bem e o mal simbolizadas pela mesma coisa, sendo impossível distinguir qual é qual por ambas serem idênticas. A paixão pelos quadrinhos que é compartilhada por todo mundo, sejam monstros ou pessoas bondosas, e como a história sempre se repete apesar de nunca perdemos a fé em um futuro melhor. São alguns dos temas e simbolismos que ele cria com essas diversas narrativas em um só mangá, que se intersectam e criam um épico instigante que você não consegue parar de ler!

O final já entrou para o meu haul de finais prediletos. É chocante ver os anos passando, mas o final com os dois soldados lutando em mais uma guerra sem sentido, e se juntando para salvar um garotinho desolado no campo de guerra, para no final ele se mostrar o futuro salvador do mundo que Kevin tanto falava por conta dos quadrinhos é lindo. Não é o meu Urasawa favorito, mas isso só mostra o quão sinistro ele é por conseguir produzir tantas obras nestes níveis.

Billy Bat foi publicado originalmente no Japão pela Kodansha em 2008. No Brasil, o quadrinho será publicado em 20 volumes pela editora Panini Comics.

3. Verão Cruel, por Ed Brubaker e Sean Phillips (Cruel Summer, 2019)

No verão de 1988, Teeg Lawless volta pra casa para planejar o maior assalto de sua carreira. Mas seu filho Ricky e os amigos do garoto estão começando a se enveredar pelo mesmo caminho obscuro de seus pais – agora, esse tem tudo pra ser o pior e mais violento Verão de suas vidas. Um épico trágico, sobre as heranças geracional mais tristes e agressivas que uma família pode nutrir.

E veja só, mais uma vez a dupla de ouro Brubaker e Phillips aparecem nesta lista (só acho que eu gosto um pouco desses dois). Pra contextualizar, "Verão Cruel" é o mais recente capítulo de "Criminal", uma série de antologias de... crimes que se passam no mesmo universo. Apesar do título principal já ter sido encerrado a muitos anos, a dupla de vez em quando revisita este universo, contando histórias de personagens diferentes que não tiveram os holofotes na HQ principal.

Já li todas as edições de Criminal e os seus poucos derivados, e digo com toda a certeza que hoje, Criminal é uma das minhas coisas favoritas da vida. São histórias de crime milimetricamente arquitetadas que desenvolvem esse pequeno (mas ao mesmo tempo grande) núcleo de personagens que estão tentando sobreviver neste mundo cruel. Cada volume foca em um personagem, no passado presente e futuro, dando é claro um protagonismo a mais para alguns, criando tragédias impactantes que te envolvem como leitor.

"Verão Cruel" é talvez uma das melhores. Uma tragédia anunciada que quem leu a saga sabe o que está por vir (e até mesmo novos leitores, já que a narração diz o grande desfecho bem no começo), mas que tem um desenvolvimento incrível que te faz se afeiçoar por cada um dos personagens, mesmo eles sendo moralmente dúbios.

Não canso de elogiar o texto flexível e gostoso de Brubaker, mas preciso também dar as flores para Sean Phillips, que tem uma arte suja mas bem humana que traz um brilho para essa franquia.

É difícil recomendar este para quem não está familiarizado com Criminal, mesmo em tese sendo uma história excelente e isolada, que é a proposta dela e da própria franquia principal. Mas acho que parte da graça de acompanhar Verão Cruel seja ver como o destino de certos personagens foi traçado, as pequenas conexões de mundo e exploração de personagens amplamente citados em outras hqs que só agora estão de fato aparecendo. Por isso fica não só a minha recomendação de Criminal e Verão Cruel, mas tudo o que Brubaker e Phillips produzem, já que eles são uma das melhores duplas em atividade hoje nos quadrinhos (e digo isso com tranquilidade em nível mundial).

Verão Cruel foi publicado originalmente nos EUA pela Image Comics em 2019. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Mino, estando ainda em catálogo.

2. As Muitas Mortes de Laila Starr, por Ram V e Felipe Andrade (The Many Deaths of Laila Starr, 2021)

A vida não está fácil para ninguém e até mesmo o avatar da Morte perdeu o emprego. Com a humanidade prestes a descobrir o segredo da imortalidade, o avatar da Morte é demitida e enviada à Terra para viver os seus dias, agora finitos, no corpo de Laila Starr, uma jovem de vinte e poucos anos que mora em Mumbai. Enfrentando todas as dificuldades de sua recém-descoberta mortalidade, Laila busca uma maneira de ser colocada no momento e no lugar onde o criador da imortalidade nascerá. Será que Laila conseguirá impedir que a humanidade altere de forma permanente o ciclo da vida, ou a morte realmente se tornará uma coisa do passado?

De vez em quando nos deparamos com algo que te toca profundamente. E não estou falando de meramente te fazer chorar ou te emocionar, e nem quero dizer algo supérfluo e vazio como "mudar a sua vida", pois convenhamos é muito forçado falar que qualquer filme, série ou quadrinho vai mudar a sua vida do nada, embora pode sim acontecer.

E bem, "As Muitas Mortes de Laila Starr", quadrinho escrito por Ram V (Detective Comics, Monstro do Pântano) e desenhado por Felipe Andrade (Sabores Raros) não mudou a minha vida, mas foi uma daquelas obras que me tocou profundamente a ponto de me fazer pensar sobre coisas que eu queria, e não queria.

Um conceito que na sua origem já é genial se torna mais único com a narrativa adotada pelos autores (principalmente o texto afiado de Ram V). Só de exemplo, temos um capítulo inteiro narrado pela perspectiva de um cigarro (sim, isto mesmo que você leu), e é simplesmente G-E-N-I-A-L.

É o tipo de história que vc termina com um sorriso no rosto, uma pequena lágrima nos olhos e memórias eternas. Pare tudo que está fazendo e dê uma chance para a história de Lila Starr. Ou melhor, as suas mortes.

As Muitas Mortes de Laila Starr foi publicada originalmente nos EUA pela BOOM! Studios em 2021. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Devir, estando ainda em catálogo.

1. Asterios Polyp, por David Mazzucchelli (2009)

O Asterios do título é um arquiteto de cinquenta anos, cujo renome vem exclusivamente de seus trabalhos teóricos. Mulherengo, misógino e de uma arrogância quase inacreditável, ele vê seu passado se esfacelar após um incêndio que consome sua casa. Tendo salvado apenas uns poucos objetos pessoais, Asterios parte numa viagem de ônibus, até onde o dinheiro em seu bolso puder levá-lo. No coração dos Estados Unidos, ele encontrará uma nova família, enquanto coloca em perspectiva os principais acontecimentos de sua vida.

Não tinha como ser diferente. Asterios é um clássico absoluto dos quadrinhos que eu nunca tinha lido, e como pintou uma promoção legal neste fim de ano, garfei com força. Por experiências passadas, tinha um certo medo de me decepcionar, já que algo tão gigantesco e bem falado pode fácil não corresponder nossas expectativas. 

Primeiramente eu vou ser honesto e admitir que em termos de gosto pessoal, Laila Starr ainda é o meu quadrinho favorito do ano. Porém é inegável que essa obra de David Mazzucchelli (Batman: Ano Um, Demolidor: A Queda de Murdock) mostra o absoluto poder infinito que a arte e a mídia de quadrinhos consegue proporcionar.

Cada página é... uma experiência visual única que se casa com a narrativa da história que está sendo contada de uma forma que parece feitiçaria. Claro que toda essa explosão de criatividade visual não iria se sustentar se tivesse uma história rasa e personagens mal ajambrados. O protagonista é um arquétipo do sujeito que eu mais odeio no mundo, mas mesmo assim sua complexidade humana traz dilemas e desenvolvimentos que te fazem simpatizar com ele e até se emocionar no fim de sua jornada.

Me sinto até desconfortável de falar de algo tão grande como essa hq, já que muitas pessoas bem mais gabaritadas do que eu já esmiuçaram e abordaram ela com bem mais profundidade que esse simples texto, mas como o intuito aqui é apenas recomentar e falar um pouco de leituras que fiz esse ano, nem estou esquentando a cabeça com isso. Essa é outra obra atemporal que tenho a mais absoluta certeza que sempre que der uma relida, acharei mais camadas e coisas que não tinha percebido. Ah, e o final também me fez gritar um "PUTA QUE PARIU!!!".

Asterios Polyp foi publicado originalmente nos EUA pela Pantheon Books em 2009. No Brasil, o quadrinho foi publicado em 1 volume pela editora Companhia das Letras, estando ainda em catálogo.

Gostaram da lista??? Quais destes vocês já leram e quais se interessaram em ler?? Quais são as suas melhores leituras de 2024? Não deixe de comentar aqui na área de comentários, e que 2025 traga muitas leituras boas para todos nós!

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