“Introdução” ao DCU de James Gunn começa familiar mas instigante.

Amanda Waller reúne o Comando das Criaturas – liderados pelo General Rick Flag Sr. – e os envia ao Pokolistão para proteger a Princesa Ilana Rostovic.

Muitos já sabem que depois do fracasso do universo cinematográfico da DC criado por Zack Snyder (Homem de Aço, 300) em 2013, a Warner Bros. decidiu recomeçar ele do zero, sendo capitaneado por James Gunn (Guardiões da Galáxia, O Esquadrão Suicida) e Peter Safran (Invocação do Mal, Aquaman). E a forma como eles “iniciaram” o DCU é com “Comando das Criaturas”, uma série animada para o serviço de streaming Max que é um aperitivo para o que está por vir.

Dito isto, “Comando das Criaturas” não é bem o começo deste universo. Logo de cara é estabelecido que os eventos de “O Esquadrão Suicida” e “Pacificador”, o filme e série que Gunn produziu para a Warner no passado, são canônicos. O “Projeto Estrela do Mar” do filme do Esquadrão é citada, assim como o exposed que Amanda Waller (Viola Davis) recebeu de sua filha em rede nacional no final da série do Pacificador, forçando ela a usar apenas monstros para realizar as missões secretas do Governo.

E com isso temos a grande premissa da animação: o governo americano manda uma equipe formada de monstros e liderada pelo militar Rick Flag Sr. (Frank Grillo) para auxiliar uma Princesa (Maria Bakalova) de um país que está sendo ameaçado por terroristas.

Já vimos isso nos trabalhos anteriores de Gunn, e ele repete essa fórmula mais uma vez. Desde a dinâmica dos personagens, a caracterização deles com suas personalidades e tudo mais. Entendo que quando damos play em uma produção de James Gunn, esperamos ver aquilo que ele já entregou antes junto da sua assinatura característica, mas seria bom ver ele variar um pouco em alguns momentos e se arriscar mesclando esses elementos com algo um pouco mais sério e sem as piadas de costume.

De longe, a coisa mais controversa do diretor/roteirista que sempre esteve em suas produções e segue em Comando das Criaturas é o humor. Nem todas as piadas acertam em cheio no alvo, e muitas vezes causam um desconforto ou vergonha. Não quer dizer que Gunn não seja um roteirista capaz de entregar boas piadas, muito pelo contrário! Ele tem um humor ácido e bem inteligente ao meu ver. Só que essa insistência em ser muito “radical” as vezes resulta em piadas mal construídas que te tiram um pouco da série.

Falando nos tópicos sensíveis, a nudez e violência extrema não me incomodaram como outras pessoas na internet. Sempre foi claro que a série seria assim, principalmente pela sua classificação +18, e nem a nudez ou a violência soam forçados ou discriminativos, e vamos ser honestos nunca soaram em nenhum projeto do cineasta.

Mas se tem um aspecto que me surpreendeu positivamente é a animação. A parte gráfica está muito bem acabada, com movimentos fluidos, traços fortes e cores vivas. Dá pra ver que houve um investimento para fazer um bom acabamento gráfico, e as cenas de ação são ágeis, criativas e engajantes. Um excelente trabalho de direção e animação do estúdio francês Bobbypills, que casou muito bem com toda a proposta.

Como eu havia dito, o próprio James Gunn assina o roteiro de todos os 7 episódios da temporada, e apesar dos problemas de sempre, ele é um roteirista bem hábil que consegue desenvolver cenas de ação bacanas e pegar personagens D completamente desinteressantes e transformá-los em personagens queridos e multidimensionais. Já a direção dos episódios fica por conta dos veteranos da DC Sam Liu (O Batman, Liga da Justiça: Crise em Duas Terras) e Matt Peters (Batman: Cruzado Encapuzado, Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips), que comandam bem todos os aspectos da animação.

Os personagens são o que esperamos de Gunn: Um grupo de esquisitões nível D da DC que até mesmo alguns fãs não conhecem. Dr Fósforo (Alan Tudyk) é o canalha imprevisível e com poderes perigosos, Nina Mazursky (Zoe Chao) é uma anfíbia inocente e bondosa que será o coração da série, e GI Robot e Doninha (ambos dublados por Sean Gunn) servem como alívios cômicos que mais pra frente terão um passado trágico e momentos emocionantes. Todos fazem um bom trabalho de voz, mas os destaques ficam para o Dr Fósforo e Rick Flag Jr, com personalidades distintas que trazem uma dinâmica legal para a equipe.

A personagem no entanto que mais tem destaque e me encantou foi a Noiva, vivida por Indira Varma (Game of Thrones, Obi-Wan Kenobi). Ela parece ser a protagonista, e tem seu trágico passado revelado, sendo basicamente uma adaptação com comentários interessantes da obra prima de Mary Shelley, com um take interessantíssimo do Frankenstein (David Harbour). O amor é algo complicado que pode gerar obsessão, e quando não somos capazes de entendermos os nossos sentimentos e o dos próximos, gera uma tragédia sem fim.

Mais uma personagem feminina (que apesar do sarcasmo já meio batido de Gunn), tem se mostrado fascinante no universo DC. Sem falar nas suas cenas de ação explosivas que a caracterizam como uma força  bem valiosa para a série.

Temos bem pouco de Circe, que até o momento é a grande vilã da série. A feiticeira que é uma das grandes antagonistas da Mulher-Maravilha é dublada pela atriz Anya Chalotra (The Witcher, Wanderlust - Navegar é Preciso), que traz o charme e personalidade para sua personagem. Como eu disse não temos muito dela, mas as poucas cenas em que aparece, consegue chamar a atenção e mostrar um uso bem criativo de seus poderes mágicos. 

Ela lidera um grupo intitulado “Filhos de Themyscira”, que é basicamente um grupo de homens radicais e infantilizados que são contra o conceito de uma ilha onde só vivem mulheres. Eles servem como uma óbvia crítica e espelho a um tipo bem conhecido de pessoas que se fortaleceram nos últimos anos, mas meio que não tem nada a mais do que isso, sendo apenas piadas e capangas que serão mortos pelos protagonistas.

O segundo episódio termina com a Noiva e Nina sendo sequestradas por Circe, e com certeza teremos uma missão de resgate das duas. Já ficou evidente que Gunn adotou uma narrativa de cada episódio focando no passado de um personagem que terá um destaque específico nesse momento, então devemos ter uma intercalada entre o resgate e o passado de alguém.

Na história geral, pouco foi realmente desenvolvido da trama, já que mal foi estabelecido o grande plano da história e dos antagonistas. Evidentemente a Princesa esconde grandes segredos, e aquele reino é muito mais do que parece, dando margem para muitas teorias.

Mesmo com alguns vícios negativos de James Gunn, é inegável que ele é um realizador extremamente competente, talentoso e criativo. “Comando das Criaturas” começa de forma instigante já introduzindo personagens carismáticos e uma construção de universo rica, tudo isso regado a uma das melhores animações visuais recentes da DC. Pode não ser para todos, mas com certeza será uma jornada no mínimo fascinante.

Nota: 8

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