O Fórum Nerd foi convidado a conferir o filme "Eu, Capitão” em uma cabine de imprensa a convite do Festival Italiano de Cinema no Brasil.

Dirigido por Matteo Garrone e altamente celebrado em diversos festivais, assisti ao filme sem ter qualquer ideia da sinopse ou do que me aguardava. Este épico italiano retrata de forma visceral a jornada de dois primos senegaleses, Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall), que deixam Dakar e partem rumo à Europa, com a expectativa de que irão mudar de vida.

É preciso dizer antes de tudo que, embora este filme seja uma ficção, sua existência se deve unicamente ao fato de que Garrone acompanhou diversos relatos de jovens que fizeram a travessia da África para a Europa. De maneira cruel, o diretor traz detalhes que não costumam ser abordados: as diversas milícias que perseguem os imigrantes, as dificuldades e, não somente os contratempos em si, mas a mudança de destino e objetivo que acometem essas pessoas ao se depararem com a dura realidade. O maior mérito da direção e com certeza um dos fatores determinantes para as indicações e premiações é a condução da atuação do protagonista Seydou — uma direção que, ainda que mostre o garoto como alguém especial, não deixa de refletir seus medos frente àquela terrível situação. E, assim como conduz seu medo, também nos mostra o quão perseverantes são aquelas pessoas.

Não há uma discussão sobre o fato de a Europa ser majoritariamente responsável pelas condições em que a África se encontra há séculos. Veja, os grandes países da Europa, através de suas inúmeras invasões, comércio de escravos e colonialismo genocida, não fizeram menos que levar quase todo um continente a algo muito próximo da Era do Bronze. E, tal como ocorre hoje com países como os Estados Unidos, que se perpetuam com a fragilidade dos países do terceiro mundo e com aqueles que já tiveram uma “visita” da terra da liberdade, a travessia se tornou um negócio dentro de outro negócio. São contrabandistas que garantem um passaporte, mas não a viagem, milicianos que garantem a sobrevivência desde que seja pago um resgate (possivelmente). A Europa se torna então um paraíso a ser alcançado, ainda que esse mesmo paraíso tenha sido o responsável por trazer o inferno à vida daqueles garotos no Senegal.



O filme conscientemente evita essa linha e nos faz acompanhar um momento muito particular daqueles garotos que não possuem mais que 17 anos. É acompanhado a travessia, os diversos encontros com vendedores de sonhos e promessas e como o próprio filme mostra através de toda a sua cena do deserto, um mar de corpos e ilusões que parece seguir sem fim e sem qualquer esperança de mudança.


Nota: 7.8/10

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