Nova adaptação é tudo que parecia ser: Genérica, sem sal e insuportavelmente chata, entregando um dos piores filmes de 2024.

Gostaríamos de agradecer a Imagem Filmes por convidarem a gente para assistir o filme na cabine de imprensa. O filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros.

Eric Draven e Shelly Webster são almas gêmeas conectadas por um passado sombrio. Após o brutal assassinato do casal, é concedido a Eric uma chance de salvar seu verdadeiro amor. Ele, então, embarca em uma jornada implacável por vingança.

O Corvo é uma história que carrega um legado de perdas e tristezas. Escrito e desenhado por James O'Barr, o quadrinho publicado em 1989 que segue um homem que retorna dos mortos para vingar a sua morte e de sua amada nada mais é do que um reflexo da história de O’Barr, que escreveu esse quadrinho como uma forma de exorcizar os seus demônios internos ao perder a sua namorada anos antes em um terrível acidente de carro, onde ela foi morta por um motorista bêbado.

Logo o quadrinho foi adaptado em um filme para os cinemas, dirigido por Alex Proyas (Cidade das Sombras) e estrelado por Brandon Lee (Rajada de Fogo), o filho do lendário Bruce Lee (A Fúria do Dragão). O filme se tornou um clássico, mas o que fez ele ficar tão famoso infelizmente foi a morte do astro, Brandon Lee, que morreu por conta de um tiro real no lugar de balas de festim durante o fim das filmagens, quase como se ele estivesse dando continuidade ao legado triste do Corvo.

Diversos filmes (e até mesmo uma série para TV) baseados nesse universo foram feitos nos anos seguintes. Mas uma nova adaptação tem sido desenvolvida durante anos sem sucesso, com vários diretores e atores envolvidos durante mais de 10 anos em desenvolvimento, sendo o mais famoso (e que quase aconteceu) a última versão que teria o ator Jason Momoa (Aquaman, Duna) no papel principal.

O que fez o primeiro filme se tornar marcante (além da tragédia, é claro) foi o visual gótico único que trouxe uma ambientação marcante somada com a presença impressionante do Corvo. Apesar do primeiro filme não ser lá essas coisas, ele tem uma vibe única que foi o suficiente para transformar o Corvo em um personagem conhecido da cultura pop e querendo ou não, um clássico do cinema.

De cara tudo o que fez o original ser marcante não existe nesse novo projeto. O visual e direção de arte desse filme são insossos e toda a atmosfera gótica é transformada em uma cidade cinza, sem vida e genérica. Até mesmo o icônico visual do Corvo aqui é tratado como um uniforme de herói em um filme da Marvel/DC, onde ele tem que conquistar o direito de usar ele. Sendo o mais inacreditável é como ele só usa ele mesmo nos últimos 15 minutos do filme, e não chega aos pés do original!

Nunca fui fã do diretor Rupert Sanders (A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, Branca de Neve e o Caçador), e pelo visto vou continuar assim considerando a sua inaptidão de comandar um filme assim e criar algo minimamente interessante.

Eu adoro o ator Bill Skarsgard (It: A Coisa, Noites Brutais) e quando ele foi escalado para o papel, achei uma escolha perfeita para o Corvo. Ele tem uma aura de “galã estranho” e as habilidades de atuação para convencer em qualquer papel, desde um palhaço assassino, um vilão psicótico até um rapaz sucinto e gentil. E o filme desperdiça seus talentos entregando uma folha em branco em forma humana, sem qualquer personalidade ou carisma. 

Colocam ele para dizer frases genéricas e até tentam dar uma profundidade para Eric no começo em uma cena onde ele tenta salvar um cavalo ferido. Claro que isso é toda uma metáfora para um dos temas principais de O Corvo que é do amor estar intrinsecamente ligado ao luto e a dor, mas eles abandonam qualquer desenvolvimento do protagonista e curiosamente até de qualquer personagem secundário.

Já a cantora FKA Twigs (O Preço do Talento) faz a sua grande estreia em um filme com um papel de destaque. Ela vive Shelly, a namorada de Eric que é assassinada junto dele na história original e que nunca teve um real destaque. Eu entendo e gosto da nova perspectiva que eles dão para a sua personagem no papel, onde ela ganha um papel de co-protagonista e é o grande mote da história no começo. Ela é doce e energética, e mesmo sabendo dos perigos quer fazer o bem, e isso causa a sua morte.

É difícil falar do trabalho de Twigs na atuação por que o texto é inexistente e sua personagem já nasce sem qualquer personalidade ou perspectiva de desenvolvimento. Até a história paralela com a sua mãe (Trigga) é jogada vários momentos no filme e o diretor simplesmente não sabe o que fazer com isso.

E isso nos leva ao relacionamento dos dois que é… ruim (olha só que surpresa). Eles se conhecem de maneira repentina, com uma sensação estranha de que ela só quer usar Eric, se apaixonam, fogem e temos longas sequências dos dois fazendo sexo e explorando a imagem sexual dos dois atores, que não é um problema, mas nunca de fato vende esses dois como um casal apaixonado.

Quando o casal é assassinado e começa toda a parte dos poderes sobrenaturais que trazem Eric de volta e aquele limbo vagabundo de estação de trem abandonada com o velho estranho ficou evidente que eles não estavam nem aí pra nada. É a mania de alguns filmes atuais de querer explicar e trazer mais para o “pé no chão” certas coisas que não precisam, tirando todo o charme e mistério do original.

Quero registrar também que o vilão, vivido pelo ator Danny Huston (Mulher-Maravilha, Succession) que tem sempre uma presença boa nos seus projetos, combina muito bem com esse filme. Ele é um ceo malvadão da alta sociedade que é bem malvado, fala bem baixinho, faz coisas malvadas, adora torturar pessoas (pois ele é BEM MALVADO) e tem poderes bizarros inexplicáveis de controlar as pessoas com a fala, por que bem… ele é MALVADO!

Caricato seria até um elogio pra esse tipo de personagem. Ele não tem história, objetivos interessantes, visual marcante ou sequer uma personalidade legal. Esse arquétipo de vilão funcionaria em uma história como essa se ele tivesse uma personalidade única ou traço marcante, por isso ele combina tanto com esse filme: Ele é uma folha em branco projetada para ficar assim durante toda a história. Tem um momento inclusive que ele tem uma reação ao saber de uma notícia que é risível pela entrega do ator, que está canastra ao nível máximo.

O uso do gore é mais uma tentativa de criar algo marcante nesse filme e acordar o espectador que está já roncando na sala de cinema. É complicado se importar com ele e com as cenas de ação sendo que não dá pra se importar realmente com os personagens. Até tem uns usos interessantes da imortalidade do protagonista e a forma que ele usa isso pra lutar, mas nem ele massacrando os capangas genéricos do vilão causam algum tipo de sentimento.

Se tem algo que esse filme me surpreendeu foi o final, pois eu jurava que ele ia tentar meter um golpe no espectador e fazer um final aberto para tentar justificar uma sequência ou derivado, mas até isso ele não teve o menor interesse em pensar. É engraçado comparar o final com o do original, pois até isso joga na nossa cara o quão pouco inspirado essa nova adaptação é, e consegue ser mais datada ainda.

“O Corvo” é uma das franquias mais amaldiçoadas que existe. Desde a sua gênese trágica, até a morte de Brandon Lee e as diversas tentativas fracassadas de continuar seu legado que geraram diversos filmes e séries ruins. Essa nova adaptação segue essa mesma linha e te faz desejar nunca mais passar perto de nada dessa franquia.

Nota: 3

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