Filme japonês indicado ao Oscar apresenta um olhar doce e singular da vida.

Gostaria de agradecer a O2 Play e a Mubi por convidar a gente para assistir o filme na cabine de imprensa, que entrou em cartaz a partir do dia 29 de Janeiro nos cinemas.

Hirayama leva uma vida feliz, conciliando seu trabalho como zelador dos banheiros públicos de Tóquio com sua paixão por música, literatura e fotografia. Sua rotina estruturada é lentamente interrompida por encontros inesperados que o forçam a se reconectar com seu passado.

Um dos diretores mais ecléticos da história do cinema é o alemão Wim Wenders (Asas do Desejo, Paris, Texas), que está desde 1967 dirigindo filmes e curtas de diferentes nacionalidades e línguas. Então quando eu vi que ele estava fazendo um novo filme no Japão e que estava sendo muito bem recebido em festivais de cinema, não podia ter ficado mais curioso.

“Dias Perfeitos” é uma história muito introspectiva que analisa a rotina e vida deste senhor japonês chamado Harayama, seguindo os seus dias, rotinas e a forma como tudo se relaciona a ele. O filme é um grande estudo de personagem que se foca apenas nele e nos personagens que o cercam, repetindo diversas vezes o seu dia a dia, hobbies e forma de pensar. 

Wenders afirmou em uma entrevista que a sua principal inspiração para o filme era a filmografia do excepcional diretor japonês Yasujirô Ozu (Era Uma Vez em Tóquio, Pai e Filha), que foi quase um mestre para ele. Depois de ler essa entrevista e assistir o filme os paralelos são bem óbvios, já que Ozu costumeiramente em sua filmografia analisava as relações humanas de forma emotiva e contemplativa, sempre focando bem esmiuçadamente na vida, rotina e ambiente que os cercam.

Dito isto, essas narrativas mais contemplativas acabam afastando muitas pessoas e “arrastam” os filmes. Particularmente eu gosto desse tipo de filme quando eles têm algo a realmente dizer, e nesse caso ela serve para mostrar detalhadamente a vida e rotina de Harayama e o seu sentimento em relação às pequenas coisas da vida e relações com outras pessoas.

Por mais clichê que pareça (e até seja), o filme aborda muito a tentativa de ter um olhar diferente e mais amplo da vida, querendo que sempre aproveitemos as pequenas coisas e sejamos gentis com o próximo, mesmo que ele não seja a melhor pessoa do mundo. É difícil engolir o que o filme e o diretor querem dizer vivendo na realidade em que estamos, principalmente com todos os nossos problemas e cinismo que carregamos. Apesar disso, em determinado ponto consegui extrair um pouco dele e absorver por completo o que estava sendo proposto. 

Não sou muito familiarizado com o trabalho de Wenders, mas é claro que é um diretor que sempre esteve no meu radar. Ele dirigiu diversos filmes icônicos como “Asas do Desejo”, “Paris, Texas”, “Até o Fim do Mundo”, “O Amigo Americano”, “Pina” e tantos outros, mas fico feliz que meu primeiro contato com sua cinematografia seja “Dias Perfeitos”.

A direção de Wenders aqui é soberba, e apesar de ser um ano extremamente concorrido, merecia facilmente receber alguma indicação ao Oscar. Ele sempre foca lentamente nos cenários e na construção da rotina do protagonista, não se preocupando em “perder tempo” mostrando lentamente ele acordando, se vestindo, fazendo seus afazeres, trabalhando, dirigindo e seguindo com suas tarefas.

Mas a grande cola que faz esse filme funcionar tão bem é o magnífico trabalho do ator Kôji Yakusho (Sonata de Tokyo, 13 Assassinos). Não tem como não se afeiçoar ao seu personagem, que tem uma pureza, ternura e bondade fora do comum. As cenas onde ele descansa para analisar o seu redor, tirar fotos de árvores e sombras, ou simplesmente começa a interagir com a pessoa misteriosa que deixa um jogo da velha no banheiro fazem dele um dos personagens mais amáveis do cinema.

Tem também todo o segmento do filme onde a sobrinha do protagonista, interpretada pela atriz Arisa Nakano que vem um pouco do nada e poderia ser mais bem trabalhado. Entretanto, ela gera mais construção e peso para a história de Harayama, com uma conclusão triste e que justifica toda a vida do personagem.

Se tem um momento que realmente vale destacar, é toda a sequência final, onde ele realmente aplica tudo que foi mostrado ao longo do filme de forma bem direta e infantil, com o protagonista e um homem com doença terminal tendo um momento genuinamente lindo e emocionante, onde as pequenas coisas da vida realmente se sobressaem. 

“Dias Perfeitos” é um dos filmes mais lindos de 2023, e recebeu indicação para Melhor Filme Estrangeiro no Oscar. Claro que a “narrativa lenta” e a forma como aborda toda a sua história vão afastar muitos que não tem paciência para esse tipo de trama. Mas se der uma chance, vai encontrar uma linda história que tem algo a dizer e agregar, que contém surpresas e cenas que vão te marcar para sempre.

Nota: 8.5

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