Sofia Coppola retorna com força na cinebiografia de Priscilla Presley, que constrói muito bem a figura da esposa do rei do rock junto de seu conturbado relacionamento.

Gostaria de agradecer a O2 Play e a Mubi por convidar a gente para assistir o filme na cabine de imprensa, que entra em cartaz a partir do dia 21 de Dezembro em alguns cinemas, e chegará na Mubi apenas no dia 4 de Janeiro.

Quando a adolescente Priscilla Beaulieu conhece Elvis Presley em uma festa, o homem que é uma estrela meteórica do rock se torna alguém totalmente inesperado em momentos íntimos.

Em tempos onde temos cada vez mais cinebiografias nos cinemas, mais uma desta vez focada em Priscilla Presley, a esposa de Elvis Presley, o rei do rock parecia uma ideia pouco cativante. Porém, quando a diretora Sofia Coppola (Encontros e Desencontros, As Virgens Suicidas) entrou no comando da produção, logo sabia que essa seria pelo menos uma cinebiografia interessante que teria algo a agregar.

Nunca fui muito familiarizado com a história pessoal de Priscilla ou Elvis, conhecendo apenas o que os filmes relataram. Mas um dos grandes acertos logo de cara de “Priscilla” é ter o envolvimento da própria na produção, visto que ele adapta o livro "Elvis e Eu" escrito por ela junto de Sandra Harmon, que mostra toda a sua visão de seu relacionamento com Elvis, desde o momento que se conheceram, até o começo da derrocada de sua carreira.

Por ser um grande fã da filmografia da diretora Sofia Coppola me vi bem empolgado com o projeto. Sofia imprime aqui todo o seu DNA (que eu sei que muitos não são fãs, mas eu adoro) de trazer um clima mais “melancólico”, ácido e até irreverente. Não chega a ser em níveis extremos como nos ótimos “Encontros e Desencontros” e “As Virgens Suicidas”, mas ela casa tudo isso com surpreendentes cenas de comédia que funcionam.

Particularmente acho muito interessante a narrativa do filme e o tom que a diretora escolhe para ele. Em nenhum momento o filme se torna desinteressante e não tem como não torcer pela protagonista, que é cativante e de cara deixa bem claro que terá uma trágica trajetória, dado a sua ingenuidade e sede por sair da vida pacata e vazia que tanto levava.

A visão feminina era algo bem óbvio dado ao currículo da diretora e a proposta do filme. Mas isso obviamente não é um problema e sim um dos grandes méritos do filme por sempre mostrar a visão dela desse relacionamento complicado (e deveras tóxico, não vamos negar), mas evidenciando também como essa vida glamorosa que ela levou foi cheio de equívocos e de fato talvez não tenha valido 100% todo o sofrimento gerado.

Toda a desconstrução do mito de Elvis Presley que o filme faz é interessante, já que muitos tem medo de abordar as polêmicas do rei envolvendo a sua preferência por meninas menores de idade, acessos de raiva e algumas loucuras como quando quis se tornar um agente do FBI. Mas aqui eles focam muito na sua persona tóxica em relação com Priscilla, onde se mostrava carinhoso com ela em alguns momentos e em outros se tornava violento e possessivo.

Os aspectos técnicos do filme são interessantes, sendo um filme visualmente bonitinho. Mas não sou muito fã do trabalho geral do cinematógrafo Philippe Le Sourd (O Grande Mestre, O Estranho que Nós Amamos) e do compositor Phoenix (Um Lugar Qualquer, On the Rocks) que entregam cenas e trilha sonoras bem esquecíveis. Já o destaque fica mesmo para a edição e montagem muito bem feitas de Sarah Flack (Encontros e Desencontros, O Estranho) e os lindos figurinos que são bem criativos e trazem bem o sentimento dos personagens e o que a história está querendo dizer.

Na parte da atuação, a atriz Cailee Spaeny (Mare of Easttown, Suprema) finalmente conseguiu o papel que vai alavancar a sua carreira. Não acho que ela está tão sublime assim ao ponto de ganhar premiações, mas é inegável que seu talento está finalmente brilhando e ela é um dos grandes destaques do filme. Sua atuação é bem sutil, mas mostra muito bem todos os dramas que a personagem sofre enquanto tem que manter a sua compostura. Mal posso esperar pra ver o que ela faz no futuro.

Jacob Elordi (Euphoria, Saltburn) é um ator que já havia se provado antes e está tendo uma ascensão meteórica na carreira. Ele realmente tem uma mística ao seu redor que casa com a essência de Elvis, mas tenho que admitir que o sotaque e voz que ele impõe soam bem ridículos de início, e demora um tempo para se acostumar.

Como um grande fã do filme “Elvis” lançado em 2022, era impossível comparar os dois. Enquanto “Elvis” obviamente foca na construção do “mito” que é Elvis Presley, ignorando suas polêmicas e focando mais nessa grande figura (que é uma abordagem válida), “Priscilla” no entanto mostra novas facetas de Elvis que não são tão boas, e a visão de sua esposa que era muitas vezes colocada de lado apenas como um enfeite.

Prefiro “Elvis no geral como filme, mas “Priscilla” serve como um incrível complemento para a história do rei do Rock, e traz o merecido prestígio para Priscilla que necessitava ter a sua visão da história contada.

“Priscilla” é uma grata surpresa que apresenta um olhar bem íntimo e significativo da vida e relacionamento de Priscilla Presley com Elvis Presley. O elenco faz um bom trabalho e encarna bem esses personagens e seus dramas pessoais enquanto não tem medo de tocar nas inúmeras feridas da vida do rei do rock, sempre dando o protagonismo para Priscilla. Tá longe de ser um dos melhores filmes do ano ou da carreira da diretora, mas é uma rara cinebiografia que vale a pena ser vista.

Nota: 7.5

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