A nova aventura da Marvel Studios mostra que já passou da hora deles se reinventarem e mudarem a forma de fazer esses filmes.

Carol Danvers aka Capitã Marvel, tomou de volta sua identidade dos Kree tiranos e se vingou da Inteligência Suprema, mas consequências não imaginadas fazem Carol ter que carregar o peso de um universo desestabilizado. Quando sua obrigações a levam para um buraco de minhoca anormal ligado a uma revolucionária Kree, seus poderes ficam entrelaçados aos da super fã de Jersey City, Kamaka Khan aka Ms. Marvel, e a sobrinha distante de Carol e astronauta da S.A.B.E.R., Capitã Mônica Rambeau. Juntas, esse trio improvável precisa se unir para aprender a trabalhar em sintonia para salvar o universo em como As Marvels.

O primeiro “Capitã Marvel” lançado em 2019 foi um grande sucesso, arrecadando mais de US $1 Bilhão de dólares na bilheteria, mesmo tendo sido bem divisivo entre o público. Então chegamos na sequência lançada 4 anos depois, com direção de Nia DaCosta (Little Woods, A Lenda de Candyman) e roteiros de Megan McDonnell (WandaVision), Elissa Karasik (Loki, We Crashed), Zeb Wells (Mulher-Hulk: Defensora de Heróis) e DaCosta.

De cara quero ressaltar que acho a diretora Nia DaCosta uma boa diretora e bem promissora. Posso não ser o maior fã da sua versão de Candyman, mas consigo enxergar um trabalho bem sólido e visão criativa única. E o primeiro terço de “As Marvels” mostra que essa Nia ainda existe, mesmo sendo completamente soterrada por idéias e mudanças ditadas pela chefia e produtores do estúdio.

Quando começou a ventilar que o filme teria uma média de 1 hora e 30 minutos de duração, muitos se perguntaram se muita coisa seria cortada do filme. E assistindo, não dá pra deixar de notar que vários plots e cenas foram completamente apagados ou remodelados na sala de edição. A edição desse filme inclusive é uma bagunça sem fim cheia de cortes e que dá pra perceber que partes do filme estão faltando. É um grande frankenstein em forma de filme. A fórmula da Marvel de tirar as produções dos realizadores e dar na mão de produtores para dar infinitos pitacos e exigir mudanças em cima da hora tem que acabar.

O valor de produção é oscilante demais. Embora não tenha um cgi pavoroso (tirando uma ou outra cena) como outras produções de heróis, aqui todos os designes são completamente sem inspirações e básicos. Naves, figurinos, efeitos de vôo e raios lasers que saem das mãos, tudo aqui a gente já viu mil vezes e parece ser reutilizado de outro lugar. Tudo parece meio morto e sem sal na produção. Até as cenas de ação que no início são bem intrigantes e maneiras de se ver, começam a ficar repetitivas e seguir o mesmo maldito padrão por todo o filme.

O trio principal tem uma boa química e um carisma inegável, mas individualmente elas não funcionam muito. Carol Denvers de Brie Larson (Capitã Marvel, O Quarto de Jack) continua sem achar o seu caminho, mesmo com a atriz tentando tirar algo com o seu carisma. Não só eles nerfam muito os poderes da Capitã, mas ela aqui tá totalmente apagada e sem o menor protagonismo.

Monica Rambeau, que foi introduzida no primeiro “Capitã Marvel” como criança, e adulta na série “WandaVision” interpretada por Teyonah Parris (A Lenda de Candyman, Se a Rua Beale Falasse). Monica sempre foi um grande nada no MCU, em “WandaVision” seu papel era pífio e só servia para legitimar as ações da protagonista da série e mostrar como ganhou os seus poderes. Não tendo personalidade ou realmente uma história para contar. E aqui infelizmente ela sofre do mesmo mal, é a mais apagada do trio e sua relação com Carol não podia ser mais superficial.

E por fim, a novata Iman Vellani retorna como Kamala Khan, a Ms. Marvel introduzida na série solo da personagem no Disney+. Todos tem tecido elogios para sua atuação, e de fato ela é a melhor coisa do filme e possui um carisma enorme. Mas Kamala aqui é reduzida apenas a uma piada e interação de fangirl com todos os personagens desse filme, se tornando bem irritante com o passar do tempo. Várias oportunidades de trazer um arco maior para ela foram completamente desperdiçadas.

Nick Fury também retorna depois do desastre nuclear que foi a série “Invasão Secreta” lançada neste ano. Não só eles ignoram completamente os eventos da série (o que por si só é hilário), como aqui ele é completamente inútil e parece ter sofrido um transplante de personalidade. Não ajuda também o fato de Samuel L. Jackson (Pulp Fiction: Tempo de Violência, Os Vingadores) estar sem qualquer vontade e no piloto automático.

A vilã Dar-Benn vivida pela atriz Zawe Ashton (O Conto de Aia, Animais Noturnos) é outra coisa inexplicável deste filme. Sua motivação no papel é até interessante, com ela buscando vingança da Capitã Marvel enquanto quer salvar o seu planeta roubando recursos de outros. Dito isto, essa personagem só sabe fazer caras e bocas e em nenhum momento se torna ameaçadora, sendo uma grande candidata a pior vilã do MCU, uma competição que está bem acirrada.

Existe toda uma sequência onde elas vão para um planeta musical onde todos se comunicam dançando e cantando, e toda essa sequência é feita com a maior vergonha alheia possível desperdiçando um potencial interessante. Aqui fica nítido que várias cenas dessa sequência foram cortadas, e o príncipe vivido pelo ator Park Seo-Joon (Parasita, Ssam, Maiwei) é totalmente jogado.

Acho que isso reflete como o tom é completamente caótico e… desorganizado. Claro que quando vamos ver um filme da Marvel esperamos ver algo leve e até bobinho. Mas eles não sabem balancear as coisas e trazer uma profundidade maior para os personagens e as tramas mantendo é claro o humor e tom leve. E quando tentam sair da caixinha com algo diferente, saí tosqueiras como o planeta musical e toda a sequência dos gatos aliens. Essa sequência é muito bacana, mas se estende e perde qualquer propósito real quando vamos analisar, sendo outro caso de má execução.

O final não poderia ser mais estranho também. O roteiro mal ajambrado dá um final sem conclusão com Monica fechando a barreira do multiverso e acabando presa em outra realidade, com mais um fanservice maldito sem proposito para tentar empolgar as pessoas para uma produção futura. Sem falar na bizarrissima ideia de pegar uma cena pós créditos com um teaser dos Jovens Vingadores e colocar como a cena de encerramento do filme.

“As Marvels” está longe de ser a pior coisa da Marvel Studios, ou até a pior produção deles de 2023. Totalmente desconjuntado, sem qualquer visão ou esmero, nem o carisma do trio principal salva a produção de ser mais um filme vazio e ruim de super heróis. Já passou muito do tempo do estúdio rever a forma de fazer esses filmes, pois se continuar assim, eles chegarão no mesmo estado da concorrência.

Nota: 4

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