Longe de ser um dos melhores filmes de monstros clássicos da Universal, Frankenstein continua sendo significativo e histórico para os filmes de terror.


Filme baseado na obra de Mary Shelley, de 1818, Frankenstein (ou, O Prometeu Moderno), criou um exímio pioneiro que experimentou o horror com a ficção científica. Ou até mesmo baseado em uma peça de 1927, reinterpretando a história do monstro. Frankenstein consegue se consolidar como um dos precursores, ao lado de Drácula, para o início propriamente dito da era dos monstros de terror e diversas outras criaturas que marcaram o gênero até os dias de hoje. Henry Frankenstein (Colin Clive), um cientista obcecado em desenterrar cadáveres ao lado de seu assistente e criar um ser vivo a partir dos restos desses corpos. Em uma tentativa definitiva para dar vida a sua criação, ele consegue ter êxito e consegue trazer a vida a Criatura de Frankenstein (Boris Karloff), uma criatura irracional que acaba criando problemas quando começa a se conectar ao mundo a fora e gera uma onda de caos para os que sabem que ele é real.

É um absurdo tamanho legado que o filme carrega, que traz um grande diferencial em sua estréia, se distanciando do terror de impacto gráfico e indo para o psicológico, o filme é capaz de fazer nós ficar vidrado nessa história onde um Monstro criado para ser base de estudos de um cientista moralmente ambíguo, um ser que não sabe o é ser um humano, praticamente uma criança, só que muito mais amedrontadora do que uma criança que chora as 2 horas da manhã para acordar seus pais (hehe), a criatura é o grande destaque da obra, sem dúvidas quando ela nasce, é impossível você não ficar apreensivo e desconfortável com o que ela pode fazer sendo praticamente sem emoção alguma. Embora eu esteja indo para um caminho óbvio de ir elogiando a obra justamente pela sua importância histórica, o fato é que, ele não é perfeito e revisitando ele para esta crítica, ele não corresponde mais a certos aspectos cinematográficos de contar uma história, não por ser culpa propriamente dita dele, mas por causa do tempo que o alcançou mesmo, e claro, o filme não é isento de erros.


Mas por agora, quero elogiar mais outro aspecto da obra, a direção de James Whale, para criar suspense, é bastante eficiente e sabe trazer diversas cenas desconfortantes para digerirmos. O aprisionamento da criatura nos calabouços, a tentativa de dissecá-lo, a icônica e impactante cena do monstro com a garotinha Maria (Marilyn Harris), cenas que valem cada segundo de espera para sua conclusão, pois transmitem maravilhosamente o que precisamos saber sobre o que é a criatura, um ser capaz de matar, e também capaz de ser ensinada, apesar de não saber idéia de como demonstrar aprendizado, vide a sequência no lago com a menininha, o ambiente gótico que permeia a obra, clássica desses filmes de terror da época, com cenários que remetem o expressionismo alemão, trazendo um clima estranho e sombrio necessário.. E os elogios principais vão para o ator da criatura de Frankenstein, Boris Karloff é a escolha mais do que formidável para ter feito o personagem, seu olhar sem alma, sua postura cambaleante e desengonçada, seus grunhidos e voz, mas também suas expressões de raiva, medo, dor, e alegria, expressadas perfeitamente pelo ator em um papel que deveria ser mais valorizado pelos entusiastas, assim como figuras posteriores como Robert Englund foi para Freddy Krueger, aqui ela foi magistralmente adaptada, o ator moldou esse ser que poderia ser unidimensional nas costas de qualquer outro ator sem seus talentos, como o gênio da fisicalidade, é daí que tiramos um maravilhoso estudo de personagem.
Contudo, como falei, o filme tem problemas, muitos, se considerar que sua montagem é pobre e traz uma continuidade não muito formal para a obra, o que confunde diversas vezes e problematiza gradativamente o desenvolvimento da história e de seus personagens, eu sou um dos que acha o fim do filme muito confuso e estranho, mas de modo ruim, com um clímax grande que poderia ter acabado ali mesmo, para um corte abrupto para a mansão dos Frankenstein com o Barão Frankenstein (Frederick Kerr) celebrando o casamento de seu filho num tom aparente de normalidade, parece que foi encaixado ali desleixadamente.


Isso sem esquecer que infelizmente, dos demais personagens, tirando Colin Clive como o louco contagiante Henry, que protagonizou outra cena icônica - IT’S ALIVE, IT’S ALIVE - são rasos como vaso e não parecem se esforçar o suficiente para entregar alguma coisa além do mediano, tão rasos que ao longo do filme personagens que antes foram apresentados de início são desaparecidos durante a obra, como se o diretor entendesse que a Criatura e o Henry são os únicos que podem carregar a interpretação do filme, pois não se tem quase alguma resolução boa dos personagens aqui, sem encorpo, e no fim não trazem nada além do suporte. Conclusão: Longe de ser um filme que muitos dizem ser uma obra de arte, é importante e atemporal, com sua atmosfera sinistra e memorável, em narrativa, é pobre, superficial e sem destaques, com o maior destaque especial para Boris Karloff, sua atuação simpática e assustadora e que influencia as representações do Monstro até os dias de hoje, também ajudada pela fisicalidade e maquiagem atribuídos. Embora não seja o primor que muitos podem esperar na sua primeira assistida ao clássico, Frankenstein continua uma pedra a ser preservada no cinema de terror, é imperdível para qualquer um interessado na história desse gênero. 

Nota: 6,5

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