Harrison Ford continua mostrando que ainda tem fôlego para se aventurar com um chicote, mesmo que esse filme mostra que a franquia está muito cansada.

                                                 
🚨🚨POSSIVEIS SPOILERS!!🚨🚨

Uma das maiores preciosidades que a Lucasfilms fez, além de Star Wars, foi Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, sendo um baita sucesso de sua época, ele deu início a uma trilogia fantástica cheia de sabor, de quererem mostrar que da para um homem alcançar o limite da exploração, mesmo que tenha vários obstáculos como uma pedra gigante ou um chão infestado de cobras (as maiores inimigas do Doutor Jones). A trilogia clássica é uma aula de direção bem feita e a essência de filmes do cinema de aventura que hoje em dia raramente conseguem pegar tais elementos básicos e fazê-los funcionar de forma tão harmoniosa como Steven Spielberg fez na era de ouro da franquia. Claro que isso não foi duradouro por que décadas depois tivemos Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, com um senil, mas nem tanto, Indiana se aventurando com seus apetrechos e ao lado de sua ex namorada e seu filho, e embora com a volta de Spielberg na direção, o filme não chegou perto da qualidade divertida dos anteriores e tentou ser muito mais do que deveria ter sido, e agora anos depois desse filme, será que tivemos uma despedida definitiva ao personagem de forma correta? Ambientado agora nos anos 1969, o arqueólogo e aventureiro Indiana Jones vive sozinho e amargurado após acontecimentos passados e está de volta em meio a Corrida Espacial, com sua preocupação com ex Nazistas envolvidos na disputa para a chegada na lua, logo chega sua afilhada, Helena, que o ajuda em sua mais nova aventura.


Indiana Jones e a Relíquia do Destino volta a aquele tom base de sempre, com o personagem título caçando uma relíquia de história e ousada - até mais que o que tivemos no quarto filme - capaz de abrir brechas temporais e que o grande vilão da vez, Jürgen Voller (Mads Mikkelsen mais uma vez interpretando um vilão, novidade?) está atrás desse grande artefato em prol de mudar o rumo de toda a história em seu favor. O filme tem uma narrativa consistente até pelo menos a primeira metade do filme onde logo estamos sendo carregados por passagens mirabolantes e até mesmo meio esquisitas e que tem um final grande mas nada tão mesquinhamente atordoante como o final do Reino da Caveira de Cristal, mas ainda sim carrega um pouco daquele gosto estranho na boca. E por mais que esse tipo de final seja algo até que característico da franquia, me incomoda muito o seu desfecho pouco imaginativo para a saída de algumas situações que os personagem se colocam apenas para ter algum efeito leve sobre a película porque sim, temos um momento onde Indy, se negando a voltar com sua parceira Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge) reclamando das dores de sua idade avançada, e de como falhou em sua jornada até ali, tudo se resolve com um mero soco da personagem Helena no pobre coitado e o levando de volta ao presente, sem que tenhamos sequer um tempo para mais aproveitamento daquele desenvolvimento de ambos, que aqui simplesmente se esvai em segundos por uma mera solução facilitada. O roteiro também esbanja sua bagunça, ele por vezes não sabe o que quer fazer com o que tem, muitas vezes fruto da ideia de vários roteiristas envolvidos e de ideias que foram descartadas em versões anteriores, e mesmo assim dá para identificar algumas falhas de coesão na história que simplesmente não fazem sentido, o filme fala sobre o grande legado do Indiana Jones e como ele se tornou a lenda que é, um símbolo quase mitológico, e o filme não deixa ninguém ter dúvidas disso ao decorrer do filme, pois temos o personagem para lá e pra cá como se ainda estivéssemos vendo aquela figura imponente de anos atrás, para que lá para o fim, como deixei claro no parágrafo acima, temos um personagem que está sofrendo de dores e que está velho e que parece ter perdido a esperança no que fazia apenas para termos o tal momento também esclarecido, note como não faz sentido salientar tais doenças com o passar da idade aqui sendo que o filme nem se da questão de ligar para isso no primeiro e segundo atos. Acredito que isso não vá atrapalhar muito aqueles que querem ver uma diversão com o herói de seu passado, mas o roteiro inconsistente e meio carente de desenvolvimento, como a falta de aproveitamento da relíquia mística que é sem dúvidas um dos MacGuffins mais fascinantes da franquia, aqui ele é deixado de lado em prol do desenvolvimento legado do personagem principal que toma toda a cena.

Falando nele, Harrison Ford aqui é simplesmente magistral, ver ele com seu chapéu, jaqueta de couro e chicote novamente nunca é demais e previsivelmente ele é uma das melhores coisas desse filme, toda a questão dele ser um homem que está se aposentando mas ao mesmo tempo não para de viver de seu grandioso passado mesmo que agora ele não tenha mais as mesmas habilidades de antes, ele continua sendo o coração de toda a franquia sempre e todas suas cenas como o idoso Indiana Jones são sempre muito boas e é incrível ver a dedicação e coração que Harrison Ford passa para o personagem para que tenhamos de volta a sensação nostálgica de ver esse grande humano.

Os novos personagens, por sua vez, tem seus méritos e contras, o personagem Renaldo (Antonio Banderas) é fantástico e sua pequena participação e desfecho são bem marcantes dentro da película e talvez o personagem mais original do filme desse núcleo, de um lado temos a equipe do Doutor Jones (afinal ele está idoso e precisam dos jovens para ele sair dessa vez) Helena Shaw ja entra em tela com predestinação de ser a fusão de Marion Ravenwood (Karen Allen, que aparece numa cena muito emocionante), e do próprio Indiana, mas que sinceramente, ela não funciona para a franquia, a atriz até tentou mas todo seu trejeito, mesmo que não escorado obviamente em representatividade como muitos vão dizer, ela não consegue entregar o peso necessário quando por exemplo contracena ao lado do Indiana, e sempre que ela está em tela o filme até tenta fazer ela se sobressair em frente ao protagonista mas parece muito forçado porque sim, e ela está aqui apenas para criar um elo com o passado do personagem, aliás, o filme tem dessas, ele tenta se apegar tanto ao legado da franquia que basicamente dá um repeteco nós mesmos personagens, o marroquino Teddy (Ethann Isidore) é basicamente o Short Round só que sem os momentos marcantes do garotinho que vencia o senhor Jones no jogo de cartas no Templo da Perdição. Por outro lado temos o excelente vilão Jürgen Voller que tem um arco interessantíssimo e com o bônus da sempre boa atuação de Mads, o personagem tem inspiração a grandes figuras históricas que deram margem ao operação clipe de papel que recrutou cientistas alemães para ajudar os EUA na corrida especial. O personagem traz uma visão caricata mas claro, se não fosse assim não seria Indiana Jones né? e consegue ser um personagem extremamente detestável para quem tem o mínimo de sanidade ao perceber as verdadeiras intenções desse indivíduo.

Uma parte dedico a cena inicial do filme, onde temos um flashback de 1944 com um Indiana Jones jovem rejuvenescido digitalmente, a cena é muito anticlimática quando falamos da reapresentação de um personagem legado como o titular, já que aqui sua aparição é sem graça e não passa de um aceno a seus dias de glória que sinceramente, mil vezes ver o velho Indiana do que um bonecão de CGI que sim, é até bom em momentos, mas dá para notar a artificialidade. E esse artifício vai se tornar mais e mais comum no futuro então, se preparem para ele, mesmo os que não gostem, alias James Mangold aqui faz um belo trabalho de apresentar os elementos de nostalgia que obviamente teria no filme, tem várias homenagens que relembram passagens de cenas passadas dos filmes que é muito legal de ver, creio que funcione perfeitamente para esse tipo de filme legado, que mesmo não sendo um fanservice que respeite 100% a franquia como um Morte do Demônio: Ascensão, ele também não faz uma parada nojenta com um filme do Flash da vida e também o diretor não se escora tanto nesse tipo de artifício para executar o filme. Conclusão: No fim, Indiana Jones e a Relíquia do Destino é uma história Indiana Jones, com bastante erros, grotescos diria e com acertos principalmente no que se diz de tentar emular a direção do Spielberg para trazer a familiaridade com a franquia de volta funciona bem, ficamos até de apreensivos com cenas tensas, apesar do Mangold estender muitas passagens desnecessariamente, o filme vai te fazer voltar a ver um filme divertido com muita ação e pancadaria contra nazistas, mas claro, dessa vez temos a sensação de despedida do personagem, que considero bom sim, com um fim emocionante para aqueles que acompanharam a história dessa franquia, mas creio que assim como o velho Indiana, a franquia agora precisa descansar.

Nota: 6,5

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