Jornada de Barry também chega ao fim, com incrível temporada final experimental e alucinógena.


Atenção: Esse texto contem SPOILERS da série, leia por conta e risco.


Barry Berkman é um ex-fuzileiro da marinha que se tornou um matador de aluguel. Barry foi contratado para matar alguém em Los Angeles, contudo, o pistoleiro começa a se questionar se quer mesmo assassinar pessoas por dinheiro pelo resto de sua vida. Além de não ter muitas opções, Barry é muito bom no que faz e se acostumou com esse estilo de vida, tanto que não sente mais emoção nenhuma em matar. Após um período depressivo e repensando a vida, Barry decide encontrar um novo propósito para si, se matriculando em aulas de teatro. Ele espera poder se emocionar e se conectar com as pessoas novamente, e acaba conhecendo o mentor Gene Cousineau e a aspirante a atriz Sally Reed (Sarah Goldberg). Porém, apesar de suas intenções verdadeiras em mudar, Barry precisa lidar com os criminosos que se associou no passado, Monroe Fuches e NoHo Hank.

Quando se faz uma comédia, é bem engraçado ver como a maioria delas sempre anda acompanhada do drama, e muitas vezes as séries acabam transitando quase que completamente para o drama ao longo das temporadas. E “Barry” não é uma exceção, e os criadores Bill Hader (It - Capítulo 2, Divertidamente) e Alec Berg (Seinfeld, Silicon Valley) sabem muito bem disso.

Depois do final da temporada passada, os personagens ainda estão lidando com a grande revelação sobre Barry (Bill Hader), que está preso em uma penitenciária após ser desmascarado por Gene Cousenou (Henry Winkler).

Encerrar uma história é sempre a parte mais complicada quando se trata de fazer histórias. E desde que confirmaram que esta seria a última temporada da série, fiquei genuinamente intrigado em como iriam terminar a história de Barry, que apesar de todos os dramas e a “seriedade”, sempre foi uma série de humor ácido, caricato e “pastelão” (tudo isso no bom sentido).

A grande estrela de “Barry” é obviamente Bill Hader. Header entrega não só a melhor atuação de sua carreira, mas se prova um dos diretores mais interessantes atuando hoje em dia. Ele já entregou episódios brilhantes nas temporadas passadas, mas aqui ele eleva o patamar flertando com o horror (em algumas sequências apavorantes) e até mesmo com momentos dignos de filmes do cineasta David Lynch (Twin Peaks, Veludo Azul).

Porém, aqui fica claro que Hader perdeu um pouco o interesse de estrelar a série, e quis brincar mais atrás das câmeras. Essa visão mais autoral dele trouxe o elemento mais agridoce da temporada: o salto temporal. Somos surpreendidos na metade da temporada com um salto temporal de aproximadamente 10 anos, com Barry e Sally casados, foragidos e com um filho. 

Essa decisão chocante embora mude totalmente o status quo da série, necessitava de mais tempo para desenvolver totalmente todos os personagens e mudanças realizadas, ficando um tanto quanto deslocada. A série então entra em um ritmo acelerado, sendo um belo desperdício do potencial gigante da temporada. Por ser uma série da HBO, os produtores e criadores recebem uma liberdade criativa maior, sendo assim nada os impedia de fazer uma temporada maior ou durações maiores dos episódios.

Falando nos arcos de personagens, Sally (Sarah Goldberg) finalmente ganha um background um pouco maior para a sua personagem, com o relacionamento… difícil com a família que justifica as ações da personagem ao longo de toda a série.

Outro que passa por uma mudança muito interessante é Fuches, vivido pelo excelente e onipresente Stephen Root (Corra!, Succession). Fuches é um dos personagens mais engraçados da série, mas aqui ele tem uma grande transformação onde abraça a personalidade de “O Corvo" e vira um vilão temido e sério. E ele protagoniza alguns dos momentos mais emocionantes da temporada, e sua relação conturbada e tóxica com Barry é finalmente bem trabalhada.

Já o personagem mais carismático e legal da série, NoHo Hank, que é interpretado pelo brilhante ator Anthony Carrigan (Gotham) sempre foi o alívio cômico e continua sendo aqui, com sua personalidade e carisma fora do comum. Mas assim como a série, ele tem um arco bem mais dramático envolvendo o seu companheiro Cristobal (Michael Irby), com um final melancólico e bonito. Por conta da natureza da série, essa mudança no destino de Hank foi algo que eu nunca pensei que eles iriam fazer.

Existem algumas participações especiais de atores (e diretores!) relativamente bem famosos na indústria que são hilárias, e servem muito bem pra trazer todo esse comentário sobre Hollywood que a série sempre gostou de fazer. É curioso também como eles abordam de forma bem forte a religiosidade de Barry, e como ele usa ela para trazer conforto a si mesmo.

A série termina como sempre foi: surpreendente. A morte repentina de Barry no último episódio vem do absoluto nada, e pelas mãos mais inesperadas possíveis. Redenção foi o grande tema da temporada anterior, e no grande final, Barry conseguiu uma forma de redenção aos olhos do filho (Jaden Martel), virando uma espécie de herói mitificado pela indústria cinematográfica. 

O final de “Barry” não é perfeito. Enquanto algumas escolhas de caminho para a história são absolutamente geniais, elas requerem mais tempo para explorar os personagens para então poder dar um desfecho digno. Mesmo assim, conseguem encerrar muito bem o que é uma das melhores séries dos últimos anos, que começou como uma simples e divertida comédia para algo realmente intimista e intrigante que te faz rir e ficar apreensivo. Uma grande série com um final satisfatório, que vai deixar muitas saudades.

Nota: 9

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