Não é difícil encontrar algumas pessoas por aí, principalmente na internet, dizendo sobre uma suposta baixa qualidade dos filmes originais Netflix. É fato que, com o alto número de lançamentos que a empresa produz, realmente não é simples manter o padrão de qualidade lá em cima. Mas é sempre uma boa surpresa quando encontramos um exemplar que pode parecer esquecido ali no catálogo, mas traz um bom drama e certamente teria poucas oportunidades de chegar até a gente se não fosse a Netflix. 

O Último Vagão é um drama mexicano que conta a história de crianças e suas famílias que não tem recursos e muitas oportunidades, e ainda assim, mantém o sonho de uma vida melhor e a adaptação que elas podem encontrar nesses lugares. De forma superficial, o longa menciona o sonho das crianças de ter uma vida melhor nos Estados Unidos, mas não passa do raso para trabalhar esse tema. São apenas algumas citações quando eles falam como gostariam de ser quando crescerem, e onde gostariam de estar. 

Porém, em contraponto a superficialidade citada acima do roteiro, temos dois aspectos muito bem trabalhados no mesmo, que é a relação do personagem principal Ikal, uma criança que ainda não foi alfabetizada e se muda muito, devido as mudanças de emprego de seu pai, com a professora Georgina, que ensina o jovem a ler. Também temos a relação de Ikal com os amigos que ele faz em seu novo local de moradia, onde essas relações carregam o filme e ocupam a maior parte de sua duração. 


Ainda sobre o roteiro, também temos uma pequena trama paralela onde são mostradas escolas fechadas pelo governo, onde o personagem que tem essa função (embora faça sem que seja sua vontade) tem uma grande ligação com o final do longa, se tornando um plot Twist. Não é algo tão surpreendente assim, já que é possível imaginar isso após algum tempo, mas fica o registro de ser uma boa sacada do roteiro.

Mesmo com todos os comentários nos parágrafos acima sobre o roteiro, o que mais sustenta o filme são seus personagens. Além de Ikal e Georgina, Valeria e Chico são duas crianças igualmente importantes para a trama. A primeira se torna a grande amiga de Ikal, com uma relação bem trabalhada e com uma boa química dos jovens atores. Já o segundo inicialmente aparenta ser o “garoto problema” da turma, já que é mais velho que seus amigos. Porém, mesmo seu personagem sendo o mais desajustado entre eles, suas atitudes e motivações são explicadas devidamente, já que ele não tem família e adultos para orientá-lo, fora toda a dificuldade que todos esses personagens passaram durante toda suas vidas. 

A direção de Ernesto Contreras é interessante, pois ele consegue trabalhar visualmente bem os aspectos trabalhados pelo roteiro. Existe uma cena no início do filme onde o Ikal e o Chico fazem uma competição de natação, e a “narração” simula como se eles tivessem que atravessar o rio para alcançar seus sonhos e chegar aos Estados Unidos, isso tudo com uma câmera mais aberta, simulando o espaço que eles teriam que percorrer para alcançar seus objetivos. Com os outros momentos onde o diretor também usa essa técnica, ele consegue transparecer de maneira bem competente essas ideias traçadas pelo roteiro para os aspectos visuais do longa.

O Último Vagão é uma grata surpresa dentro de um catálogo vasto e cada vez mais cheio de filmes medianos. Que a Netflix consiga trazer bons dramas como este com uma maior frequência. 

Nota: 7,5


Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem