Elenco repleto de estrelas é a melhor parte do filme, que se escora na nostalgia e funciona mais como um comercial
Ben Affeck (Argo, Garota Exemplar) volta à cadeira de diretor depois de sete anos, seu último filme como diretor sendo A Lei da Noite, um projeto que Affleck genuinamente se importava, no qual ele quis homenagear os clássicos filmes de gangsteres da Warner Bros., mas que não foi bem recebido pela crítica e acabou sendo um fracasso de bilheteria. A nova empreitada de Affleck como diretor é Air: A História por Trás do Logo, na qual ele também tem um papel como de costume. É fácil se perguntar como um filme sobre a criação de uma linha de calçados pode ser interessante, mas o roteiro de Alex Convery e a direção de Affleck até que entregam um filme divertido.
A trama se passa em 1984, seguindo a vida de Sonny Vaccaro que trabalha para a Nike na divisão de esportes, e sua jornada para tentar elevar sua divisão, com todo o conflito se firmando na competição com a Adidas e Converse, na qual a Nike está perdendo, e para isso ele decide apostar tudo para tentar convencer seu chefe a criar uma linha revolucionária de calçados de basquete que seriam produzidos por apenas um jogador: Michael Jordan, um novato que ainda não entrou na NBA.
Primeiro que Affleck aproveita a ambientação dos anos 80 para trazer uma direção totalmente nostálgica da época, algo que já foi batido quando introduzido no zeigeist por Super 8, Stranger Things e outros. Vários hits da época são tocados, como Money for Nothing dos Dire Straits, mas o problema mesmo é que a cada cinco minutos tinha um needle drop, parecia que Affleck estava bastante interessado em nos mostrar sua playlist de clássicos dos anos 80—e no fim fica saturado e eu suspirava a cada nova música—essa escolha foi feita apenas para agradar os saudosistas.
Mas não posso negar que o roteiro é bastante competente, com o ritmo do filme sendo um ponto alto seu. O filme já te situa com o escopo da trama e seus personagens logo de primeira, estabelece o conflito, e não enrola a trama se estendendo demais nas introduções.
Não há nenhuma cena desnecessária, e tudo serve para movimentar a trama. Em filmes mais artístico e que focam em criar um estudo de personagens isso seria um contra, mas em um filme pipoca em sua essência e com a proposta que tem, esse é um ponto positivo que eleva um filme que poderia ser chato caso caísse na armadilhas costumeira de cinebiografias de tentar explorar tudo que aconteceu na realidade, quase como se quisesse fazer uma versão narrativa de uma página da Wikipédia do tópico.
A direção de Ben Affleck acaba sendo bem acertada, apesar de pouco memorável, e faz jus ao filme. Mas algumas escolhas criativas minam o impacto de algumas cenas, como a decisão de não mostrar o rosto do jovem Michael Jordan, vemos apenas suas costas e a parte de trás de sua cabeça, e o novato Damian Delano Young não atua e serve apenas como um modelo stand-in. Há um momento bem vergonha alheia em uma das cenas cruciais do filme, onde o personagem do Matt Damon (Perdido em Marte, Ford vs Ferrari) prevê todo o sucesso, fracassos, vitórias e derrotas do Michael Jordan, enquanto filmagens reais de jogos e entrevistas do Jordan passam enquanto ouvimos sua narração.
Por isso fica ao elenco e suas atuações todo o destaque e razão do filme funcionar tão bem. Affleck entrega mais do mesmo pra ser o honesto, mas sua performance é aceitável. Matt Damon também sabe entregar um personagem carismático que é um homem simples com uma visão, apesar de não ser nada revolucionário. Chris Tucker (A Hora do Rush, O Quinto Elemento) e Jason Bateman (A Noite do Jogo, Ozark) são ótimos como personagens secundários, apesar de uma vez ou outra o Tucker entra em um território galhofa demais com seu jeito exagerado. Viola Davis (A Mulher Rei, O Esquadrão Suicida) é a que genuinamente parece se importar com o papel da mãe do Michael Jordan, com a melhor performance do filme sendo a dele. Não importa se Air não seja exatamente o tipo de filme que uma atriz de seu calibre deveria estar fazendo, ela mesmo assim entrega uma atuação sensacional e prova sua versatilidade.
E com isso Air: A História Por Trás do Logo se prova como um filme que você provavelmente vá esquecer logo depois dos créditos mesmo tendo gostado. Sua maior falha no entanto é que parece ser um comercial para a Nike, temos um foco em vários momentos do filme para os "Princípios da Nike", uma história que te condiciona a torcer pela empresa, momentos que parecem querer criar uma mitologia para o que é apenas uma marca, e até no final onde mostram como estão as pessoas envolvidas hoje em dia, é mostrado que Phil Knight, o intrépido CEO interpretado por Affleck, doou centenas de milhões de sua fortuna. Uma celebração do capitalismo em um blockbuster para toda a família—uma tradição estadunidense. Poderia ter sido pior.
Nota: 5
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