A nova série criada por Donald Glover leva o tema obsessão para um outro patamar, e já é uma das grandes surpresas de 2023.

A obsessão de uma jovem fã por uma estrela pop a leva a uma reviravolta sombria em sua admiração.

Essa é uma das primeiras séries criadas pelo ator, produtor, roteirista, diretor e compositor Donald Glover (Solo - Uma História Star Wars, Community) como parte de um acordo com a Amazon Prime Video. Glover, que é um dos maiores nomes da cultura pop atual, se junta com Janine Nabers (Watchmen, Atlanta), e atuam como showrunners, produtores e criadores da série.

A atriz Dominique Fishback (Judas e o Messias Negro, O Ódio que Você Semeia) brilha muito no papel de Dre, a protagonista obsessiva que aparenta ser uma garota normal, mas possui um monstro dentro de sí que esconde a pessoa quebrada que é. Ela já tinha se provado uma excelente atriz com seus outros projetos, mas aqui demonstra que tem o alcance suficiente para fazer o que quiser, transitando gêneros de comédia, ação, suspense, drama e terror.

Além de Dominique, a única atriz que tem mais destaque no elenco é Chloe Bailey (Grown-ish, Intenções Cruéis), que mesmo com pouco tempo de tela, consegue entregar uma boa interpretação e deixar sua marca (e não estou falando da cena inicial que rodou a internet).

Já o resto do elenco é composto por breves participações especiais de diversas pessoas famosas, que fazem um bom trabalho também. Destaques para Damson Idris (Snowfall, Black Mirror), Byron Bowers (O Preço do Talento, Irma Vep), Kiersey Clemons (Dope: Um Deslize Perigoso, The Flash) e a cantora Billie Eilish, que faz a sua estreia como atriz interpretando uma personagem muito interessante no que pode ser considerado o melhor episódio da temporada.

Glover também dirige o primeiro episódio (muito bem por sinal!), e é acompanhado por um time muito competente de Stephen Glover (Atlanta), Adamma Ebo (Atlanta, Honk For Jesus. Save Your Soul) e Ibra Ake (Atlanta). Todos os episódios são muito bem dirigidos, com uma narrativa fluida que tem um ritmo “gostoso” e que nunca te deixa entediado ou sem interesse na trama.

Todo o visual da série é lindo também, com um uso bem interessante de cores e figurinos excelentes. Dá pra ver que é uma produção com um orçamento bem usado.

Sempre vemos séries e filmes abordando temáticas relevantes como racismo, homofobia e todos os tipos de preconceitos e ataques a minorias, e normalmente podemos listar dezenas que tratam esses assuntos de forma séria. Mas aqui, “Enxame” fala sobre obsessão, a obsessão doentia que algumas pessoas criam com famosos (atores, cantores, apresentadores, artistas, etc), e que moldam as suas vidas e personalidades ao redor deles.

A pessoa fica tão imersa nessa realidade, que perde totalmente a sua humanidade. Vimos isso muito bem nos últimos anos com o julgamento de Johnny Depp contra Amber Heard, que as pessoas ficaram malucas e transformaram isso tudo em um show midiático com torcidas organizadas. Mas o que acontece quando a perspectiva é de uma pessoa tão marginalizada e solitária que não tem outra opção a não ser buscar refúgio em um ídolo “inalcançável”?

A forma como a série aborda esse tema de obsessão misturando com diferentes gêneros do terror é bem bacana. Ela tem toda aquela atmosfera de suspense onde você não sabe o que pode acontecer, e o que a protagonista está prestes a fazer, sempre te surpreendendo e deixando apreensivo.

É uma das séries mais inventivas que eu já vi, tanto no texto quanto na direção. A narrativa é tão diferente que eu tive que checar se não errei de série ao colocar o oitavo episódio, pois virou uma parada completamente diferente do que eu estava vendo. Esse sexto episódio inclusive, é onde todas as dúvidas são sanadas com uma metalinguagem espetacular.

A série tem uma conclusão bem satisfatória que amarra quase todas as pontas. Até o momento não foi dito se ela irá ganhar uma segunda temporada, e embora até tenha caminhos interessantes para levar a obra, sinto que se não for renovada, ficaria satisfeito em ver a jornada de Dre terminar aqui.

“Enxame” é uma das maiores surpresas do ano. Com absolutamente nenhuma divulgação do Prime Vídeo, a série consegue ter uma identidade própria enquanto aborda temas complexos e relevantes da nossa sociedade atual, e temas inclusive que quase nunca são debatidos de forma séria ou com essa mistura com o gênero de terror. Fico muito feliz com a série e no aguardo das outras produções de Glover para a Amazon.

Nota: 8.5

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