Com brilhante performance de Ralph Fiennes, O Menu satiriza a estrutura de classes com trama surpreendente.
Se havia alguma dúvida de que 2022 foi o ano do terror, isso definitivamente caiu por terra. O filme da crítica de hoje mescla suspense, terror e um humor bem peculiar. Por isso não estranhe o fato dele ter sido indicado em algumas categorias de comédia e musical do Globo de Ouro, ainda que a comédia em si não seja um gênero tão facilmente reconhecível.
Imagine viajar para uma ilha isolada para desfrutar de um menu exclusivo da mais alta gastronomia preparado por um chefe distinto e de conceitos bem excêntricos. Tudo parece um sonho, até que os luxuosos convidados para essa experiência única são surpreendidos por situações um tanto quanto chocantes e inesperadas.
Essa é a premissa de O Menu (The Menu), um filme de terror e suspense dirigido por Mark Mylod e produzido por Adam McKay, nomes conhecidos pela série de sucesso Succession, ao lado de Betsy Koch. O roteiro é assinado por Seth Reiss e Will Tracy. O longa chegou aos cinemas em 18 de novembro de 2022 e será lançado no dia 18 de janeiro, no Star+.
É interessante como a trama soa inicialmente como despretensiosa e quase monótona, até sermos capturados por um plot twist de tirar o fôlego que nos faz imediatamente engajar com a história e sua inusitada proposta. Tudo parece tão absurdo e alegórico que fica interessantíssimo acompanhar os limites da sanidade humana na forma dessa sátira moderna e indigesta.
O filme mostra com habilidade uma análise da sociedade, enquanto se apoia em um modus operandi moldado no propósito do mito Robin Hoodiano, com ênfase na esnobe classe alta que pressupõe que o dinheiro seja a ferramenta capaz de resolver todos os seus problemas. A narrativa questiona de forma afiada até que ponto a devoção pela arte se tornou uma obrigação classista e não mais uma paixão genuína e instintiva que deveria ser acessível e ultrapassar qualquer barreira social.
Ainda que, por vezes, falte um pouco de "calor" à trama, o elenco é seu grande ponto alto. Em especial, pelo brilhantismo da atuação de Ralph Fiennes como o chef de cozinha Julian Slowik. Ele transmite com precisão os sentimentos de uma pessoa controloadora, fria e insana. Ele reiventa o conceito de lavagem cerebral e o eleva a um outro patamar.
Anya Taylor-Joy é outra preciosidade em cena. Sua personagem, Margot Mills, encontra um ponto de equilíbrio importante entre o anarquista e o heroico.
Nicholas Hoult é mais um que chama atenção no papel do devotado amante de culinária Tyler, que rapidamente se torna o ranço da audiência. Mas minha menção mais que honrosa vai para a excelente Hong Chau, que na pele da maitre do restaurante, consegue nos fazer arrepiar e gera a atmosfera ideal para o terror se instalar sem o mínimo de esforço.
A forma como Mylod consegue explorar a forma e textura dos alimentos e contextualizar com as ações, torna a experiência de O Menu muito mais que visual. É como se de alguma maneira conseguíssemos provar o que está de fato sendo servido. A trilha sonora é mais um ingrediente que funciona na incrível receita desse thriller potente, que consegue incomodar com sua mensagem relevante.
O Menu é exótico, é audacioso e crítica de maneira formidável a desigualdade social. Uma pitada a mais de paixão teria o tornado o filme do ano. Ainda assim, um filme que deve ser apreciado.
Nota: 7,5
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