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Avatar” sempre teve a árdua batalha de tentar inovar a forma de fazer cinema. A mega produção se tornou o filme de maior bilheteria de todos os tempos e se fixou como um marco cultural na indústria cinematográfica. Apesar de “Avatar” superar expectativas absurdas logo de cara, a longa espera em torno de sua sequência era uma incerteza. Os últimos 13 anos foram mais longos do que James Cameron (“Titanic”, 1997) esperava para produzir e entregar “Avatar: O Caminho da Água”; que já estava em desenvolvimento, mas suas expectativas estavam diminuindo a cada ano que passava.

De fato, 13 anos foi um longo período que (com razão) fez muitos fãs se questionarem se uma sequência, de fato, ainda viria. No entanto, “Avatar: O Caminho da Água” finalmente chegou para mostrar que é uma das experiências cinematográficas mais impressionantes de 2022, entregando um maravilhoso e impressionante espetáculo visual.

Após doze anos da batalha de Pandora entre os Na’vi e os humanos, Jake Sully (Sam Worthington, de “Fúria de Titãs”, 2010) vive pacificamente em sua tribo do clã Omaticaya. Ele e Neytiri (Zoë Saldaña, de “Vingadores: Ultimato”, 2019) formaram uma família, tiveram filhos e estão fazendo de tudo para ficarem juntos, com cada um tendo que exercer sua função dentro da tribo.

No entanto, quando a corporação humana R.D.A. (Administração de Desenvolvimento de Recursos) invade Pandora outra vez para terminar o que eles começaram, Jake e sua família devem sair de sua tribo e explorar as regiões de Pandora, indo para o mar e fazendo pactos com outros Na’vi da região para travar uma guerra difícil contra os humanos novamente. Mesmo com dificuldade, Jake e Neytiri terão que fazer novos aliados para cuidarem da família, manterem as tribos unidas e para vencerem essa nova batalha.

A direção de James Cameron é soberba. Contrariando qualquer argumento de que a sequência de “Avatar” tinha caído por terra, Cameron já conseguiu provar (repetidas vezes) que é um diretor que desafia e supera as expectativas, além de conseguir surpreender o público, com produções melhores do que suas anteriores. Com o avanço da tecnologia, Cameron expandiu ainda mais os limites ao desenvolver um novo sistema de captura de movimentos para as cenas subaquáticas e elevando a taxa de quadros para 24 quadros por segundo, um padrão mais alto que a indústria cinematográfica costuma usar – tornando, assim, esta sequência mais deslumbrante ainda.

Considerando os desafios que Cameron enfrentou para inovar os limites desses avanços tecnológicos, é tão surpreendente o quão maravilhoso, visualmente, “Avatar: O Caminho da Água” se tornou. Isso faz com que o filme em tela seja uma obra audiovisual impressionante e uma conquista notável para Cameron com sua épica franquia. E é visível o quanto o diretor conseguiu expandir o universo de “Avatar”, pois grande parte desta sequência ocorre nas águas dos recifes de Pandora, repleto de vida e criaturas aquáticas – elemento narrativo não explorado no primeiro filme.

Cameron entrega tantas cenas de ação visualmente deslumbrantes neste cenário subaquático que é impossível não deixar de se surpreender com as maravilhas visuais apresentadas ao longo das três horas de duração. Porém, a construção deste novo universo expandido não é um caminho fácil e rápido de ser apresentado. O filme tem que se esforçar um bocado para encontrar seu equilíbrio no início, jogando o público de volta ao mundo de Pandora de uma forma relativamente desajeitada, pois tem que apresentar a nova tribo que mora nos recifes, explorar e ensinar os novos elementos narrativos durante essa expansão desse universo.

E isso se dá porque “Avatar” é um universo gigante, cheio de culturas novas e diferentes clãs, podendo ser explorado e construído por múltiplas formas. Com isso, pode-se dizer que Cameron realmente se preocupa (e é extremamente zeloso) com a construção desse novo mundo por meio desta sequência com uma visão totalmente inovadora e revolucionária – haja vista a extensa gama de opções narrativas que podem ser exploradas. O que é uma coisa fantástica, vindo de um diretor que preza pelo esmero de seu trabalho; com isso, é justificável a demora desta sequência, pois Cameron não iria entregar um produto sem os equipamentos técnicos devidamente adequados para realizar as filmagens.

Ao mesmo tempo, ao apresentar uma nova tribo, novos costumes e as diferenças entre os clãs de Pandora, James Cameron tem a possibilidade de expandir o mundo de “Avatar” de uma forma que o primeiro filme não fez. Ao fazer uma comparação entre os dois filmes, o “Avatar” de 2009 estava mais focado em uma história mais fechada e se apresentou um pouco rígida demais porque justamente precisava estabelecer aquele universo em específico, ensinar novos conceitos e apresentar uma cultura totalmente nova a partir do zero.

Ao construir a sequência em questão, Cameron já toma uma enorme liberdade criativa com base no que já foi mostrado antes e consegue reintroduzir todo esse universo com um leque maior. Com isso, o diretor acrescenta mais diversidade narrativa, de uma forma muito mais ambiciosa e recompensadora. E, de forma geral, isso gera um ponto benéfico para a qualidade do produto final – mesmo com a trama central sendo “diminuída” em prol de expandir esse universo, visualmente falando; o que, consequentemente, ficou mais deslumbrante ainda.

Essa nova abordagem narrativa fez com que as aventuras aéreas por entre as árvores da floresta no primeiro filme fossem substituídas pelas aventuras subaquáticas em uma região comandada por Tonowari (Cliff Curtis, de “Doutor Sono”, 2019), líder do clã Metkayina, junto com esposa, Ronal (Kate Winslet, de “Titanic”, 1997). Porém, o problema de “Avatar: O Caminho da Água” é justamente toda essa concentração em explorar (até um pouco demais) toda essa nova tribo e suas belezas subaquáticas, tendo seus personagens sendo obrigados a “reaprender” a viver em uma nova região de seu próprio planeta, de uma forma que eles não estavam acostumados. Essa narrativa, infelizmente, acaba se prolongando por demais em tela, deixando de lado (por um grande momento) a trama central que o roteiro do filme estabeleceu, que é a ameaça da empresa corporativa que voltou à Pandora. E não é por menos: com pouco mais de três horas de duração, são extensas as cenas de exploração subaquática. Com isso, o filme em tela foca demais em toda essa imersão prolongada em uma região nova e quase se esquece que existe um roteiro a seguir.

Em meio a tudo isso, um ponto que Cameron volta a abordar é sobre a invasão de território alheio e caça furtiva pela corporação R.D.A. em Pandora. Essa questão, que já tinha sido explorada no primeiro filme, volta a ser uma ameaça na sequência, haja vista que o grupo de caçadores comerciais da Terra retorna à Pandora para continuar essa exploração predatória – que, desta vez, caça animais aquáticos.

Outro ponto que “O Caminho da Água” explora de forma mais intensa é acerca da importância da família. Desde o início, fica claro que o foco principal da narrativa é preservar a família e a dinâmica de cada personagem, com uma introdução que estabelece perfeitamente o que aconteceu em Pandora desde o final do filme anterior; e os membros individuais da família de Jake e Neytiri têm suas próprias histórias para contar – bem como o clã da família de Tonowari também. A família Sully tem uma forte construção narrativa nesta sequência, não apenas para desenvolver esses relacionamentos entre eles próprios, mas, também, com o clã Metkayina – o que é um ótimo gancho narrativo para estabelecer o futuro para onde esse universo pode ir com novas sequências.

Embora algumas das ideias e desenvolvimentos do roteiro acerca desse tema possam parecer vagos, é imprescindível ressaltar que há, sim, uma conexão importante entre alguns arcos inseridos na produção – tal como a conexão de Kiri com Pandora ou o novo personagem “Spider”, um adolescente nascido no Portão do Inferno (uma base para humanos em Pandora) que decidiu viver entre os Na’vi.

As atuações estão incrivelmente esplêndidas. Em particular, começando por Zoë Saldaña, que não tem tanto tempo na tela quanto no primeiro filme (chegando a ganhar mais destaque a partir do terceiro ato), mas, ainda assim, entrega uma performance absurdamente forte – principalmente no que diz respeito às suas emoções enquanto mãe, que são altamente perceptíveis. Sam Worthington também entregou uma atuação mais impressionante nesta sequência, interpretando um personagem mais maduro ao assumir o papel de pai dedicado e como um líder que tem que reconhecer como seu passado está afetando sua nova família e o planeta Pandora, no qual ele faz parte agora.

Cliff Curtis e Kate Winslet têm performances grandiosamente excelentes e são uma parte vital na história, mas, ainda assim, têm um escopo limitado. Sigourney Weaver está excelente também, interpretando uma personagem muito mais jovem desta vez, mas com um espírito forte e decidido – tanto quanto no primeiro filme. Britain Dalton também se destaca como Lo’ak, o segundo filho de Jake e Neytiri, não sabendo muito bem como se encaixar nas expectativas da família. Infelizmente, um dos pontos fracos da história é que as outras duas crianças da família Sully não recebem tanto destaque quanto Lo’ak e Kiri.

Por fim, vale destacar a Trilha Sonora, o Design de Produção e a Fotografia, que estão todos absurdamente impecáveis. As cenas subaquáticas foram capturadas com extrema perfeição e entregam sequências de ação visualmente ricas, espetaculares e divertidas. Tudo isso é uma experiência completamente inovadora, que faz de “Avatar: O Caminho da Água” ser uma produção extremamente elegante, atraente e visualmente deslumbrante, além de criar uma das experiências mais extraordinárias para se assistir no cinema.

Apesar de seu lançamento tardio, “Avatar: O Caminho da Água” trouxe de volta um certo impacto cultural desse tipo de filme dentro da indústria cinematográfica. Essa percepção é um fator extremamente vantajoso para James Cameron e sua equipe, que, com isso, conseguiram revitalizar e fortalecer a franquia, elevando-a a um novo patamar; o que é uma conquista enorme. Mesmo que todo esse deslumbre visual do filme se destaque mais do que um roteiro verdadeiramente convincente e consistente, é impossível não reconhecer e admirar todo o trabalho e esforço de Cameron (e de sua equipe) com toda a riqueza de detalhes na construção desse mundo novo – que, de forma altamente eficiente, se prova através dos designs e tecnologia usados na produção e são meticulosamente trabalhados e completamente críveis.

Avatar: O Caminho da Água” está em cartaz nos cinemas.

Nota: 9.0

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