Henry Selick está de volta ao maravilhoso e chamativo mundo de stop-motion após 13 anos de hiato, será que sua mais nova animação na Netflix trouxe outra obra digna de se ver sempre no Dia das Bruxas?


🚨🚨POSSÍVEIS SPOILERS🚨🚨

Eu amo o trabalho stop-motion, uma das formas de se fazer arte mais incríveis que se poderia ter no mundo, onde a imaginação usufrui criando bizarrices, belezas e figuras extremamente marcantes. E sei que para se ter uma animação com o mínimo detalhe assim demora anos para se estar pronto, e um dos pioneiros desse estilo ao lado de figuras como Tim Burton, Henry Selick provavelmente é um diretor que marcou sua infância sem que você pudesse perceber apenas assistindo filmes como “O Estranho Mundo de Jack” e o mais famoso “Coraline” obras absolutas de seu incrível trabalho. Após uma década desenvolvendo possíveis projetos que poderiam ver a luz e nunca se realizando, tivemos a confirmação a alguns anos de Wendell e Wild, sua nova animação feita na Netflix (obviamente) em parceria com Jordan Peele (Corra, Nós) como produtor executivo, baseado num livro de Selick que ainda sequer foi lançado, será que a espera trouxe um sabor doce?

Wendell & Wild é sobre a garota de 13 anos Kat Elliot (Lyric Ross) que após um evento trágico ter ocorrido 5 anos antes, se torna uma menina delinquente e punk que se muda para uma escola católica feminina de sua cidade natal, agora praticamente em ruínas. Do outro lado dessa história temos Wendell (Keegan-Michael Key) e Wild (Jordan Peele) dois demônios do submundo que sonham em fazer uma feira de diversão para as almas que já se foram mas ao invés disso passam seus dias colocando creme capilar na cabeça de seu pai, esses três personagens chaves irão se colidir na história desencadeando eventos que poderão arruinar a pacata cidade de Rust Bank com uma conspiração milionária por trás.

Começar a citar a trama de Kat e sua tragédia familiar, que sim é muito triste, mas provavelmente o público não vai ligar muito para isso afinal de contas os pais no início do filme aparecem bem pouco e vão bem rápido, não fazendo com que nós se conecte tanto assim com sua perda, se não tivessem corrido tanto, para ir direto a trama principal, essa falta de empatia poderia ter sido evitada, aliás essa vai ser uma coisa que o roteiro desse filme vai fazer aos montes por que ao longo da animação, ficou a sensação de tudo muito rápido em apresentar personagens (muuitos personagens para poouco tempo) e menos em focar na trama que vai ligar cada um no derradeiro fim. Nós vamos notar que o filme apresenta inúmeros conceitos, artifícios e problemas ao longo da trama de ambos personagens que no fim a conexão de ambas fica rasa por que alguns elementos são apenas jogados no final e não faz muito sentido como o grafite do personagem Raúl (Sam Zelaya) por exemplo.
Acho que a trama que mais funciona na projeção inteira é a de Wendell e Wild quererem realizar seu sonho, saindo do submundo e indo para o mundo dos vivos para conseguirem fazer o plano deles dar certo, isso funciona pois não tem muitas nuances jogadas aqui e ali e o objetivo principal deles sempre será esse, é um triunfo, diante de um segundo e primeiro atos empacados. Uma pena que nada disso se repete com a protagonista Kat, que somos apresentados com ela sendo uma donzela do inferno, mas nos perguntamos, o que? mas eu ainda ficava na expectativa de uma explicação mas nunca veio, ela e a freira nunca explicam expositivamente o que isso significa, que tipo de maldição é essa, o que elas são de verdade, é tudo feito as coxas e ta ali por que sim, um vacilo, mas a rivalidade entre o monstro dentro da personagem Kat ao menos funciona significativamente bem, traçando paralelos com seu eu de agora, mas fato é que o roteiro do filme sempre tenta tomar uma prioridade maior a uma trama ao invés de outra trama, o roteiro anda em círculos, e o final é, em busca de outras palavras, sem graça.

O engraçado é que o filme se chamar Wendell & Wild é quase um clickbait, por que esses dois personagens estão ali apenas figurando quase o filme inteiro, na verdade esse não deveria ser o título do filme, por mais que esses dois sejam carisma puro, a protagonista é a Kat -sendo bem sincero eu não achei ela tão legal assim, Selick ja fez protagonistas melhores- então isso acaba ficando esquisito na execução final. Mas não posso deixar de citar o trabalho técnico desse filme que é um dos melhores do Selick, o cenário em riquíssimo detalhe é espetacular, chega a ser fascinante ver o cenário quase que real inclusive, um cenário que você desejaria tocar com as mãos de tão bem feito que ficou, não só a cidade, como também o submundo que é fantástico visualmente, com algumas criaturas bizarras, e o próprio trabalho na modelagem dos personagens é algo único, sendo um trabalho que sequer ficou pronto por escolha do diretor, que gostou do detalhe das linhas nos personagens, não ficando algo muito artificial depois que não lembrasse um stop-motion. e também temos o excelente trabalho de voz aqui muito bem feito por todos os atores em questão, principalmente pela dupla Peele e Keegan e claro Angela Bassett sempre espetacular.
Conclusão: É um bom filme apesar de tudo que falei, só diria que vai estar longe de se tornar um clássico daqui uns anos que provavelmente você vá se lembrar com carinho, mas eu adoro Henry Selick, e seu trabalho é fantástico, e mesmo que essa animação não entregue muita coisa no ritmo e desenvolvimento, entrega em visuais e elenco. Nota: 6,5

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