Com incrível performance de Jenna Ortega, Wandinha entrega uma trama de mistério macabra e divertida.

A Família Addams vive! E em toda sua essência!

Antes de começar a crítica de hoje é importante destacar a origem dessa família icônica que é um marco de gerações. A Família Addams (The Addams Family) é uma criação ousada do cartunista Charles Addams, ainda da década de 1930, que se utiliza de elementos mórbidos para satirizar o modelo familiar "tradicional" americano. Com acidez e ironia, o sucesso de sua abordagem não demorou até atingir todas as frentes do entretenimento, entre elas: quadrinhos, teatro, TV e cinema.

Em 1964, ainda em preto e branco, aconteceu a estreia da primeira série live-action de A Família Addams, baseada nos queridos personagens dos quadrinhos. Entre inúmeras obras, mais tarde em 1991, tivemos o lançamento do primeiro filme live-action. E quanto a este especificamente é interessante ressaltar que durante a pré-produção, Tim Burton recebeu o convite para assumir a direção do longa, mas declinou em razão de conflitos de agenda com as gravações de Batman: O Retorno. Muitos anos depois, justamente Tim Burton, assume o audacioso projeto de reviver essa incrível franquia.

Wandinha (Wednesday) é uma série de comédia que envolve mistério sobrenatural baseada na personagem Wandinha Addams. Produzida pela MGM Television, a série criada por Miles Millar, Alfred Gough conta com a direção de Burton e estreou na Netflix em 23 de novembro 2022.


O foco do show, como seu próprio título anuncia, é a primogênita da família, Wandinha Addams (Jenna Ortega). Acompanhamos sua adolescência turbulenta e dificuldades para se "encaixar" no meio em que vive. Transferida de uma escola para a outra, ela vai parar na escola de ensino médio Nunca Mais, dirigida pela rígida Larissa Weems (Gwendoline Christie). Lá, enquanto tenta dominar seus poderes psíquicos herdados de sua mãe Mortícia (Catherine Zeta-Jones), Wandinha  inicia uma busca obstinada por desvendar a autoria de uma série de assassinatos que acontecem na pequena cidade de Jericho.


Pra quem procura algo inédito e a reinvenção da roda, sinto desapontar. Tim Burton, ainda que por meio de uma inventiva roupagem contemporânea, entrega uma trama teen genérica e repleta de clichês. Mas quem disse que adolescentes não são óbvios na maioria das vezes? 

Mesmo com a receita de bolo padrão, Burton acerta no desenrolar. Dessa maneira, sem perceber, você se vê envolvido e hipnotizado pela "inexpressiva" (o que é ótimo para a proposta) Wandinha Addams interpretada com perfeição por Jenna Ortega, o grande nome por trás do sucesso da série. É incrível como uma atriz tão carismática consegue diluir esse espectro solar e entregar uma personagem sombria e que não esbossa muita coisa além de desprezo e frieza.

E o acerto se faz justamente em torno da introdução e construção criativa dessa personagem, o que nos faz imediatamente engajar com a narrativa. A pegada de detetive cai como uma luva para Wandinha, ainda que os mistérios da história em si não sejam tão desafiadores assim para se elucidar. Não espere muito tempo de tela de seus familiares, o centro da trama é a jovem, e isso fica muito claro desde o início.

 
Apesar da série não necessariamente se levar a sério, os dilemas da adolescência não passam inertes e são explorados com ênfase em cultivar a aceitação daquilo que é diferente e fora dos padrões impostos pela sociedade. Outro ponto focal do show gira em torno da importância do coletivo, um muro a ser vencido pela protagonista e como é divertidíssimo vê-la lidando com esse desafio!

Gomez (Luis Guzmán) e Mortícia surgem mais passivos do que estamos acostumados nas outras obras dessa franquia, mas isso gera um contraponto interessante com a personalidade perturbadora e ácida de Wandinha.  Mãozinha agrega bem mais do que qualquer um poderia esperar. Quem imaginaria que um membro (literalmente) seria peça fundamental para a narrativa e que torceríamos por ele como se fosse uma pessoa da nossa família? Tio Chico (Fred Armisen) desaponta um pouco, mas também pudera, o ator com o qual temos comparativo é ninguém menos que Christopher Lloyd.

Entre os personagens coadjuvantes e de fora da família, o destaque vai para a pragmática Larissa Weems de Gwendoline Christie e a companheira de quarto de Wandinha, a divertida Enid, interpretada por Emma Myers, que está em uma jornada de amadurecimento e aguarda a tão esperada transformação em loba.


A cenografia e efeitos agradam e casam com perfeição à trilha sonora, que é um dos principais acertos da história ao lado de sua protagonista. O figurino é mais um ponto alto e o impacto do contraste entre os tons obscuros e as cores de sua improvável amizade com Enid compõem um ingresso à ótica mais otimista e iluminada da trama.

A assinatura de Tim Burton surge discreta aqui. Vemos elementos de Edward Mãos de Tesoura e Alice no País das Maravilhas, mas tudo bem mais dosado, o que encaro como um ganho para a série, já que abre-se espaço para o elenco sobressair. 

Jenna Ortega se revela como uma atriz madura e consistente mais uma vez, ao entregar essa incrível performance. Aguardamos uma renovação dado o sucesso e qualidade da obra e ao excelente gancho deixado em seu season finale. Que venham mais obras dessa família!

Nota: 8,0

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