Florence Pugh brilha em drama vitoriano sobre uma enfermeira que tenta salvar uma jovem que não se alimenta há meses.
Situado em The Irish Midlands em 1862, a história segue uma jovem que para de comer, mas permanece milagrosamente viva e bem. A enfermeira inglesa Lib Wright é levada a uma pequena aldeia para observar Anna O’Donnell, de onze anos. Turistas e peregrinos se reúnem para testemunhar a menina que teria sobrevivido sem comida por meses. A vila que abriga um santo “sobrevivendo do maná do céu” ou há motivos mais sinistros em ação?
Durante a nossa história, sempre houveram aqueles mitos e lendas urbanas estranhas que nunca foram comprovadas de fato. Em “O Milagre” somos apresentados a uma história na Era Vitoriana (1850-1860) onde houveram dezenas de relatos de algumas meninas jovens que passavam dias, semanas e meses sem se alimentar, e viravam lendas classificadas como “milagres” que sobreviviam por conta de uma intervenção divina.
O diretor chileno Sebastián Lelio (Uma Mulher Fantástica, Desobediência) teve muito destaque na última década após o primoroso “Uma Mulher Fantástica” vencer o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2017, e ele comandar um projeto desses para a Netflix era algo extremamente animador, mas acabou entregando uma de suas direções mais blasé da carreira. Já o roteiro é baseado em um livro escrito por Emma Donoghue (O Quarto de Jack) e adaptado por Lelio, Alice Birch (Normal People, Succession) e Donoghue.
Florence Pugh (Viúva Negra, Adoráveis Mulheres) já pode ser considerada uma das melhores atrizes da atualidade, e uma das mais requisitadas. Ela já trabalhou em grandes produções e com cineastas de primeira, como Ari Aster, Greta Gerwig e Park Chan-wook, e vai trabalhar com Christopher Nolan, Denis Villeneuve e outros, além de estar obviamente na Marvel Studios, a maior franquia do momento.
Sua personagem é uma mulher que carrega um passado misterioso e forte, recheado de perdas e sofrimento. Por isso ela segue forte sem demonstrar muitos sentimentos mas fará de tudo para salvar aquela garota, mesmo que tenha que enfrentar poderes maiores. Florence carrega o filme com uma interpretação poderosa e cheia de emoção nas horas certas, sendo o absoluto destaque.
Já o resto do elenco mesmo que tenha alguns nomes grandes e renomados como Ciarán Hinds (Sangue Negro, Liga da Justiça), Toby Jones (Capitão América: O Primeiro Vingador, Jogos Vorazes) e Tom Burke (Mank, Só Deus Perdoa), não dá muito para os atores desenvolverem os seus personagens. O outro destaque no elenco além de Pugh é a interpretação de Kíla Lord Cassidy (A Protetora)
A direção de Lelio é bem sólida e como já dito antes uma das mais padrões do diretor. O ritmo lento que desenvolve a história e os personagens aos poucos, seguindo o mistério e a investigação da enfermeira sobre o que está de fato acontecendo com a menina. Na parte visual os cenários são simples e pouco elaborados, se destacando mais os longos takes e shots dos personagens andando no interior entres as montanhas, dando uma sensação de imensidão que casam bem com a história. Um breve destaque também para o trabalho da diretora de fotografia Ari Wegner (Ataque dos Cães, Vestido Maldito).
A trilha sonora assinada pelo compositor Matthew Herbert (Uma Mulher Fantástica, The Cave) é junto com Pugh, a melhor coisa do filme. Ela cria esse ambiente melancólico, misterioso e soturno, dando um impacto para cada cena. Não chega a ser algo digno de premiações, mas é algo que vale se destacar dada o quão boa ela é.
Toda a temática e debate proposto sobre a religião no filme é bem interessante, já que ele não cai no tropo básico de apenas dizer que a religião e as pessoas em si são ruins, mas ele mostra o quanto as pessoas se apegam a ela tanto para o bem quanto para o mal. Uma garota que está se punindo pelos erros do passado, uma mãe cega pela visão de mundo, uma cidade que busca um milagre para capitanear em cima disso e uma mulher que está tentando salvar uma garota da morte. No fim todas as peças se encaixam bem e trazem uma conclusão muito satisfatória para uma história “baseada em fatos reais”.
“O Milagre" é uma boa adição ao catálogo da Netflix que se beneficia muito da atuação de Florence Pugh. Não é o melhor filme da carreira da atriz ou do diretor, mas é um sólida história com temáticas muito pertinentes. Considerando o baixo padrão de qualidade dos filmes do serviço de streaming, pode ser considerado uma ótima pedida para quem quer uma história dramática (mesmo que pouco arrastada).
Nota: 7
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