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Filmes de assalto e sobrevivência estão tão comuns atualmente que, obrigatoriamente, tais produções estão precisando se reinventar e inserir reviravoltas inovadoras, além da narrativa ser explorada por um ângulo novo, para se destacarem entre tantas outras com a mesma premissa. Mesmo que seja difícil criar produções originais com esse tema, ainda assim, pode-se encontrar bons filmes que inserem ótimos elementos narrativos e que entregam resultados satisfatórios.
“Até
a Morte” se destaca não apenas por inserir
condições de inverno isolantes e rigorosas durante a luta entre a protagonista
e os assaltantes que invadiram sua cabana; mas, o que mais chama a atenção no
filme em tela é que a protagonista está amarrada a um cadáver enquanto tenta
sobreviver. Ao mesmo tempo em que a explicação por trás disso mergulha no
melodrama inicial, o longa segue um ritmo rápido ao perder esses grilhões em
favor de um thriller interessante, desesperador e caótico.
Na trama, Emma (Megan Fox, de “Transformers – O Filme”, 2007) está infeliz no casamento com Mark, seu marido frio e controlador, um advogado criminal. Depois de terminar seu caso extraconjugal com Tom, sócio da empresa do marido, Emma e Mark vão para uma casa isolada no lago que eles costumam visitar no verão, para comemorar o aniversário de casamento de 10 anos. Porém, na manhã seguinte, Emma acorda e se encontra algemada a Mark, que está morto; e tal fato é planejado por Mark como parte de uma vingança.
Incapaz
de se libertar das algemas e forçada a arrastar o cadáver de Mark para todos os
lugares da cabana, Emma tem que arrumar um jeito de sobreviver. A situação
piora quando dois ladrões chegam para roubar US$ 200 mil dólares em diamantes
escondidos no cofre e estão dispostos a tudo. Presa e isolada no auge do
inverno, ela deve lutar contra os ladrões para escapar com vida.
Em sua estreia na direção de filmes, S.K. Dale orquestra um tenso e caótico jogo de gato e rato ao entregar uma produção que se apresenta como uma mistura entre “Jogo Perigoso” (2017) e “O Quarto do Pânico” (2002). O roteiro, assinado por Jason Carvey, é eficaz ao combinar esses gêneros, propondo originalidade e criatividade ao inserir os elementos narrativos apresentados na trama, juntamente com uma reviravolta chamativa e interessante.
A premissa básica de “Até a Morte” é muito bem elaborada pelo roteiro e
estruturada pela direção; e, com isso, se tornando altamente convincente. O fato de a protagonista estar algemada ao marido morto
e tendo que escapar de dois assaltantes que invadem a cabana para roubar alguns
diamantes em pleno inverno é, com certeza, uma enorme luta física e mental pela
sobrevivência. E a produção consegue inserir os elementos narrativos de forma
envolvente, caótica e tensa – além de entregar um trabalho envolvente.
Além disso, Dale soube aproveitar, de forma excelente, o fator geográfico que a narrativa proporciona, explorando sabiamente os espaços da cabana e de seus muitos cômodos desde o início do filme. Com isso, a execução da trama é elegante e a vasta terra branca encoberta pela intensa neve ao redor da cabana dá ao público uma sensação claustrofóbica quase irônica. Há muito espaço ao redor, mas nenhum lugar para fugir – e isso se intensifica pelo fato de que a protagonista está algemada pelo falecido morto, que fez de tudo para complicar ainda mais a fuga dela.
A
luta de Emma para se locomover algemada com o corpo do marido é um dos pontos principais
do filme e, embora ela pareça movê-lo com certa facilidade, o trabalho físico
se torna uma tortura desesperadora quando os assaltantes chegam na cabana para
roubar os diamantes. O jogo de gato e rato entre eles só funciona quando
acreditamos que alguém pode se esconder do perigo e se movimentar furtivamente;
e é justamente neste ponto que as coisas se complicam fortemente – o que torna
a trama mais angustiante e tensa.
Porém, o problema é que a produção não convence muito em demonstrar que a protagonista se movimenta com extrema facilidade e sem deixar muito rastro. Se locomover algemado a um corpo é um aspecto físico bastante árduo – e o filme não parece ter muita ciência de tal fato; ainda mais quando o desespero e o medo tomam conta, juntamente com a evidente ameaça de dois assaltantes. Entretanto, e muito talvez, tal decisão tomada pela produção para que essa facilidade ocorra seja para atender um critério mais ágil para o desenrolar da história, narrativamente falando.
Quase
todas as ações tomadas por Emma para garantir sua sobrevivência parecem
corretas, e as improváveis dificuldades são percebidas, visualmente, enquanto
ela luta para escapar dos ladrões, bem como a tentativa de se livrar das
algemas que a prende com o marido. E, para que tudo isso aconteça, é necessário
implementar o elemento agilidade – principalmente para que a narrativa se
desenrola satisfatoriamente.
Essa liberdade narrativa criada pelo roteiro e seguida pela direção se justificam porque não há muitas direções para o enredo seguir. E isso se dá, principalmente, devido à resiliência de Emma para tentar manter a calma e o foco diante de um cenário exagerado. Além disso, é uma boa tentativa de lidar com o tédio enquanto Emma tenta decidir o que precisa fazer. E, mais: a violência apresentada na história é agressiva, mas em um tom certo e adequado, sem ser exagerado. Isso contribuiu bastante para a inteligente construção do suspense e tensão durante o desenrolar da narrativa, criando um tom completamente forte e tenso, principalmente em seu clímax.
Um
grande ponto positivo da produção é o ótimo desempenho de Megan Fox, que começa
um pouco inexpressiva, mas muda gradualmente junto com as complexidades da
situação perigosa que Emma precisa enfrentar. Embora Fox, necessariamente,
ainda não tenha alcançado o patamar de “excelente atriz”, ela carrega o filme com
facilidade, passando à sua personagem a incrível sensação de desespero e
angústia, conseguindo transpor um choque de adrenalina necessário para
convencer em tela. Fox compensa as limitações de diálogo com um instinto de
sobrevivência feroz, apesar de sua imensa vulnerabilidade ante os obstáculos
que sua personagem enfrenta ao longo da história.
“Até a Morte” é um tenso thriller ambientado, basicamente, em um único local, embora mal dialogado, mas que se transforma em um suspense desesperador bem construído com uma porção básica de violência e sangue. Além disso, a produção apresenta ótimas cenas de mistério, impulsionadas pela fotografia profunda e esteticamente agradável. A direção faz bom uso do isolamento com uma atmosfera tensa ao invés de, simplesmente, criar sustos; e os únicos sons ambiente introduzidos são os de neve caindo e as fortes rajadas de vento.
O
filme em tela é muito eficiente e inteligente ao criar alguns cenários
intrigantes que mantém um desfecho relativamente imprevisível. Enquanto a
premissa inicial se inclina para um drama parado, sua sequência logo sofre uma
reviravolta atrás de outra quando as coisas vão de sangrentas a piores quando a
narrativa se foca em uma inesperada luta por sobrevivência. As emoções
angustiantes mais do que compensam uma configuração melodramática inicialmente
estabelecida; e Megan Fox contribui com sucesso ao retratar uma personagem que
continua determinada a permanecer viva enquanto prova que ela pode ser uma
lutadora forte em circunstâncias extremas.
“Até a Morte” está disponível na Paramount+ e na Amazon Prime Video.
Nota: 8.0
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