Me desculpe, mas terei que iniciar esse texto quebrando a primeira regra. Por mais que não tenha tido um lançamento arrebatador, podemos dizer que o Clube da Luta definitivamente se tornou um dos filmes mais influentes das últimas décadas, sendo o mais renomado da carreira de David Fincher. Sendo o top 1 da filmografia de um diretor deste calibre, vale se analisar se esse apreço realmente é merecido. E descobriremos isso respondendo cinco perguntas: "O filme ficou datado?"; "Os seus temas ainda são atuais?"; "O enredo e a direção são super estimados?"; "Seus defeitos foram relevados na época?"; e por fim, "a obra cumpriu sua proposta?". 

CONTÉM PEQUENOS SPOILERS!!


A obra ficou datada?


Tratando-se de aspectos técnicos, é quase impossível criticar David Fincher, já que ele é com certeza um dos diretores mais técnicos e meticulosos que já explorou a sétima arte.

O tom o grosseiro e sujo, destemido, com o puro objetivo de fazer o espectador se chocar com seus próprios preceitos; diálogos ágeis e inteligentes, que deixam os pensamentos mais coerentes desconcertados; uma edição frenética, que transmite a perdição de um homem insone; fotografia e cinematografia que exaltam o caminho da decadência da psique humana, o neon pro trás da fumaça, a poeira no ar que confunde a mente, apresenta um mundo que já parece perdido. 

O filme utiliza-se de efeitos especiais em alguns momentos e estes são claramente perceptíveis, mas não retiram a imersão do espetáculo técnico que nos é apresentado durante duas horas. 


Os seus temas ainda são atuais? 


Posso afirmar logo de cara, que o oposto ocorreu. Ao contrário de obras que se concentram em temas ultrapassados ou clichês, aqui somos defrontados com duras realidades, estas que se encontram mais proeminentes nos tempos atuais, fazendo parecer o drama do homem moderno nos anos 90 parecesse ínfimo. 

São tantos temas explorados, que o artigos inteiros poderiam ser escritos abordando apenas um deles, assim como devem haver diversos pela internet. Consumismo, liquidez, propósito, condicionamento, fraqueza, comodidade, revolta, absurdo, dinheiro, fama e poder, apenas para citar alguns. 

Apesar de seu teor revolucionário ácido, ele tem sua subjetividade intrínseca no fato de concentrar-se nos dramas psicológicos do individuo; como estes o afetam e como o mundo ao redor o afeta; consequentemente, como esse comportamento hipnótico é transmitido ao exterior.  Mesmo com o posicionamento anarquista claramente expresso nas ideias de Tyler Durden, tudo gira entorno de Jack, personagem interpretado por Edward Norton, que apenas se referencia em terceira pessoa. Nome genérico, que expressa perfeitamente a ideia que pretende transmitir. 

O uso do celular, redes socias e internet ainda não eram difundidos, sendo assim, a visão brutalista da realidade apresentada agravou-se severamente. Podemos dizer que por mais radical e violento que seja, sua mensagem é mais atual do que nunca, onde a geração realmente carece de força e rituais de passagem, temas explorados pelos ideais junguianas, que combinam perfeitamente com a temática da insônia, que traz  o subconsciente a realidade, subconsciente esse, que exterioriza a sombra de nosso protagonista, e voltando ao presente, estamos justamente na era do aprisionamento da sombra e exaltação de falsas aparências.

O enredo e a direção são superestimados? 


Quando falamos de enredo e direção, poucas obras conseguem administrar esses dois aspectos de modo tão cativante como em clube da luta. 

Começamos já com o final, o que traz a tenção de como toda aquela situação pode acabar tão mal, ainda mais quando somos introduzidos ao nosso protagonista ordinário, mas de modo algum tedioso. A jornada do personagem e seus conflitos são perfeitamente amarrados, tanto pelo enredo quanto pela direção, que trabalha a favor da história e do personagem a todo momento. 

Aqui vemos o pico da mente de David Fincher, que foi capaz de adaptar o livro em um filme tão amarrado, que parece que não poderia ter sido concebido de outro modo. 

Seus defeitos foram relevados na época? 


Como em toda obra renomada como Clube da Luta, defeitos são em sua maioria subjetivos. Até mesmo filmes perfeitos como "Poderoso Chefão" diversos apontamentos podem ser realizados, por mais rasos que sejam, como por exemplo "o filme é chato", e não entrarei nesse mérito aqui.

O que irei afirmar é que neste caso, a pergunta está mal formulada, pois em seu lançamento, os defeitos de Clube da Luta foram extrapolados ao ponto do irrealismo. A vinte anos, poderia sim parecer apenas uma obra prepotente de um diretor em ascensão, querendo demonstrar toda sua sagacidade e maestria, com um filme polêmico e polarizado. 

Na época, a ousadia não foi vista com bons olhos, mas hoje, podemos dizer que poucos filmes amadureceram como Clube da Luta. Sendo assim, seus "defeitos" foram desvanecendo com um tempo. 

A obra cumpriu seu papel? 


Se seu propósito era adaptar o controverso livro de Chuck Palahniuk, o filme cumpriu seus papel. Se seu propósito era escancarar as enfermidades de um geração escondida sobre falsos confortos, o filme cumpriu seu papel. Se seu propósito era deixar o espectador pensativo, o filme cumpriu seu papel. 

Seja o que for, podemos dizer que Clube da Luta merece seu apreço, por ser uma verdadeira obra de arte, já que assim como toda obra prima, eternamente será comentada e discutida, nunca chegando-se a um consenso do que se propõe, pela quantidade de camadas. 

Então, respondendo a questão, Clube da Luta é tão bom assim? 

SIM 👍


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