Apesar do início sólido, longa sai dos trilhos e se torna uma paródia sem graça.
Filmes de exorcismo viraram tendência desde o grande sucesso O Exorcista (1973), primeiro e único longa de terror a ser indicado ao Oscar na categoria de melhor filme. Misturar esse tema com uma trama teen, no entanto, não é tão corriqueiro como parece e logo desperta a atenção.
O Exorcismo da Minha Melhor Amiga (My Best Friend's Exorcism) é uma comédia sobrenatural estadunidense baseada no romance homônimo Grady Hendrix do ano de 2016. Dirigido por Damon Thomas e com roteiro assinado por Jenna Lamia, o longa chegou ao catálogo do Amazon Prime Video no dia 30 de setembro de 2022.
Até onde vai o poder de uma amizade verdadeira? Girando em torno dessa premissa conhecemos as melhores amigas Abby (Amiah Miller) e Gretchen (Elsie Fisher). Inseparáveis, em um fim de semana na casa de uma amiga em comum, elas resolvem explorar um local supostamente assombrado e isso termina com Gretchen possuída. Caberá a Abby livrar a amiga dessa entidade maligna antes que ela faça mal a si mesmo e aos que a cerca.
A comédia tem um início bastante sólido e de pano de fundo temos a sempre bem-vinda década de 1980, com seus figurinos marcantes e trilha sonora empolgante. Na trama, acompanhamos estudantes em um colégio católico que nutrem aquelas clássicas amizades que se baseiam no desejo de transgredir regras de alguma maneira e de se encaixar no meio social.
Na primeira metade dessa comédia conhecemos um pouco das protagonistas, seus medos e inseguranças e é muito fácil gostar delas. A amizade soa natural e faz jus ao enredo do filme. Mesmo que a química dessa amizade seja instantânea, dá pra sentir que algumas situações foram tratadas de forma apressada, como por exemplo o background familiar delas, que poderia ser melhor abordado já que repercute diretamente na personalidade de ambas.
A forma como o grupo de amigas dá o passo para o sobrenatural diverte e mesmo com a comédia sendo o gênero predominante, o filme consegue gerar tensão em seus primeiros atos, até que em sua segunda metade ele resolve tornar-se uma espécie de paródia fraca de exorcismo e possessão.
O filme abruptamente para de se levar a sério. Ele emerge assuntos potentes como o bullying, os transtornos alimentares, o abuso, mas os soluciona de forma preguiçosa (isso quando soluciona).
O roteiro mais parece menosprezar a inteligência do espectador ou a própria figura demoníaca que ele mesmo criou, ao propor um exorcismo bem no estilo Todo Mundo em Pânico, que fica tão brega que não consegue fazer graça. Sabemos que a amizade verdadeira é forte, mas justamente por sermos forjados em dezenas de filmes de exorcismo, que torna-se difícil aceitar soluções quase infantis para algo de tamanha complexidade.
Como a autora que vos escreve é bióloga, obviamente incomoda uma tênia (verme apresentado no longa) não ter o formato achatado como deveria. Não custava um pouco de pesquisa para endoçar a ficção.
Inquestionável aqui é apenas o desempenho de suas protagonistas. Amiah se sai muito bem como a amiga disposta a tudo para ajudar a outra nesse momento tão difícil e improvável, enquanto Elsie Fischer arrasa na dualidade da personagem quando é simplesmente Gretchen, ou quando está possuída. Ela consegue externalizar a maldade com o olhar, lascividade, bem como o sofrimento.
A proposta do filme é fugir ao clichê dos filmes de exorcismo tradicional, mas na verdade ele repete um a um, só que de uma forma parodiada e sem graça. Talvez se o longa tivesse se levado mais a sério, teria agradado do começo ao fim.
É importante destacar que o longa consegue ser assistível e fica ali com nota pra passar de ano, graças às suas carismáticas protagonistas e visual interessante.
Nota: 6,0
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