“Noites Brutais” é de longe um dos melhores filmes de terror do ano, sendo assustador, agoniante, surpreendente e satisfatório.
Atenção: Esse texto contem SPOILERS do filme. Leia por conta e risco.
Estando na cidade para uma entrevista de emprego, uma jovem chega ao seu Airbnb tarde da noite, apenas para descobrir que seu aluguel foi erroneamente reservado para um homem estranho que já está hospedado lá. Contra seu melhor julgamento, ela decide passar a noite de qualquer maneira, mas logo descobre que há muito mais a temer em casa do que o outro hóspede da casa.
Primeiramente eu gostaria de recomendar que você não veja o trailer ou leia esse texto antes de ver o filme. É um dos raros casos onde quanto menos detalhes você souber da trama do filme, melhor será a experiência. E esse filme definitivamente merece essa atenção.
Todo o início e o primeiro ato do filme seguem uma linha bem clichê (de forma proposital) com a menina que chega na casa, encontra esse cara meio estranho e que parece estar escondendo algo, com o diretor manipulando nossas emoções e pensamentos até quebrar todas as expectativas com a revelação da criatura no porão.
O elenco é bem sólido e entrega boas interpretações que agregam positivamente para a construções dos personagens, com Georgina Campbell (Black Mirror, Suspicion) vendendo bem o sentimento de desconfiança e desespero de Tess e Bill Skarsgård (It: A Coisa, Deadpool 2) sendo o misterioso, gentil e pouco confiável Keith até o último minuto. Mas os destaques ficam mesmo para Justin Long (Olhos Famintos, Arraste-me para o Inferno), um “alívio cômico” que se mostra pior do que aparenta e o sensacional Richard Brake (Batman Begins, O Mandaloriano), um ator veterano em entregar personagens macabros e interpretações marcantes.
É sempre legal ver quando um diretor relativamente desconhecido ou que fez filmes de terror pequenos e divisivos surge das cinzas e entrega algo realmente refrescante no gênero. Zach Cregger (Newsboyz, The Civil War on Drugs), que assina a direção e os roteiros faz um ótimo trabalho na construção das cenas e na tensão constante, e o diretor de fotografia Zach Kuperstein (Os Olhos da Minha Mãe) trabalha bem com a casa e os ambientes assustadores, escuros e claustrofóbicos da masmorra.
Infelizmente, o filme apresenta os mesmos problemas e tropos de filmes de terror onde temos pessoas tomando decisões idiotas e completamente sem sentido, como entrar em um corredor escuro, voltar para o local onde a criatura está e confiar em estranhos. Alguns diriam que isso é um charme desse gênero, mas eu só acho uma facilitação de roteiro boba e cansativa.
Como é bom ver uma narrativa tão bem estruturada e construída em um filme de terror, com a tensão sendo levemente construída para trazer a revelação impactante seguida de uma quebra total de expectativas junto do início do segundo ato protagonizado por um personagem novo e completamente diferente. O mesmo vale para a quebra no começo do terceiro ato que traz abruptamente um flashback com a explicação da casa e a “origem” do monstro.
Mesmo que de forma bizarra, o filme ainda toca em todo um subtexto envolvendo maternidade e uma crítica bem visível à polícia e a sua forma de agir. A criatura apenas queria encontrar uma forma de ter um filho para cuidar, tendo o “coração puro” de uma mãe e tentando salvar a “filha” no fim. Tudo isso deixa o final do filme com um ar mais triste e melancólico.
Falando no final, esse é um raros exemplos de filme de terror que traz um final completamente satisfatório e bem conduzido. Não é um final exatamente feliz, mas é uma conclusão de fato dessa história com todas as pontas bem amarradinhas e sem um sentimento de frustração.
Lançado no Brasil exclusivamente no Star+, “Noites Brutais” (que é um péssimo título traduzido, inclusive) é um arregaço e um dos melhores filmes de terror do ano, senão o melhor. Tem uma narrativa e condução perfeita que deixa o espectador na ponta do sofá, cenas aterrorizantes muito bem filmadas e uma história boa que tem um desfecho satisfatório. Pode ter alguns cacoetes de filmes de terror (música alta na hora do susto, personagens burros, etc), mas ainda é uma das maiores surpresas do ano.
Nota: 8,5
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