Encerrada uma das séries mais aguardadas dos últimos anos, podemos concluir se a mais nova obra no universo das "Crônicas de Gelo e Fogo" alcançou a magnitude de GoT. Ainda é cedo para comparações justas, mas estas são inevitáveis. Seu impacto não chegou a ultrapassar a sua predecessora, mas definitivamente já podemos afirmar que A Casa do Dragão foi uma das melhores séries do ano.
Em praticamente todos os aspectos, a qualidade foi mantida ou superada, em relação as últimas temporadas de GoT. O padrão técnico da HBO não decaiu em nenhum aspecto, exceto nas perucas, que em alguns personagens ficaram bem destoantes. Os dragões estão lindos como nunca; as paisagens, por mais que a maioria já conhecidas, continuam a nos trazer para este universo; por fim, os figurinos e maquiagem, não deixam em nenhum momento você desvencilhar do senso de realidade.
Um destaque especial para A Casa do Dragão fica no casting, que selecionou com perfeição os atores para interpretarem seus personagens, tanto jovens quanto adultos. Era um medo em comum que após termos a passagem de tempo, que não conseguiríamos nos relacionar com a nova atriz/ator, isso fica claro especialmente no caso da Rhaenyra Targaryan, interpretada na adolescência por Milly Alcock, que traz uma ousadia e serenidade que nos conquistam nos primeiros, e mais posteriormente, já madura, por Emma D'Arcy, que entrega uma mulher forte e preparada para fazer tudo por seus filhos e seu propósito. O mesmo serve para a personagem Alicent Hightower, que também é retratada na adolescência e adulta, por Emily Carey e Olivia Cooke respectivamente. Outros personagens também passam por duas ou mais transformações e nenhuma chega a ser incômoda, a maioria engrandece já outras apenas são indiferentes.
Ainda tratando sobre atuação, duas se sobressaem entre as demais: Matt Smith interpretando Daemon Targaryan e Paddy Considine no papel do Rei Vyseris Targaryan. Suas atuações são encantadoras, transmitindo diversas camadas e facetas de seus personagens. Explorando seus medos, inseguranças, caráter e propósitos de forma primorosa.
Assim como em GoT, a história desse universo é carregada por seus personagens e as conexões que estabelecemos com eles, e nisso o show tem grande mérito, pois nada melhor que personagens que amamos amar e amamos odiar para nos deixar entretidos.
Todo o propósito dessa primeira temporada foi construir esses personagens e o cenário de uma guerra eminente devido a sucessão do trono, trama que é recorrente e sempre assombrará uma monarquia. A guerra é cíclica, e encerrou-se aqui no último episódio o ciclo da paz. Isso aumenta muito a expectativa para futuras temporadas, já que com a base que foi apresentada, temos tudo para nos envolver pessoalmente nesse conflito. E nada mais eletrizante do que uma guerra com dragões.
Em alguns episódios infelizmente o ritmo flutua entre momentos empolgantes e momentos repetitivos. Não há ainda aquela agilidade e dinamismo de GoT, onde saltávamos de um arco para o outro e um era melhor que o outro. Mas de nenhum modo os episódios são chatos ou desnecessários, e é compreensivo que nessa temporada de preparação as coisas não sejam tão impactantes ou grandiosas.
A narrativa parece longe de ser concluída e assim esperamos que seja, pois em Casa do Dragão, a história já está escrita por Martin, e este está diretamente envolvido no projeto, o que nos deixa otimista que conforme o decorrer da série, está não perderá sua intensidade, resignando-se a decisões preguiçosas que fazem com que a história ande de maneiras inverossímeis, apressando-se para o fim. Uma história deve acabar no momento certo, não se deve apressá-la ou arrastá-la.
Alguns fãs reclamaram de mudanças para a história original, mas por conta do envolvimento de Martin, acredito que estas tenham sido para melhor, já que não creio que o time de roteiristas iria aprovar algo que vá totalmente contra o que ele propões à história. Além do que, o livro no qual se baseia é escrito como um arquivo histórico, e como bem sabemos a história é escrita pelos vencedores, o que abre uma margem a criatividade para que o enredo justifique suas mudanças.
Tratando do enredo, em alguns momento ele é um pouco confuso, não deixando tão claro ao espectador os acontecimentos de que se tratam e suas consequências, mas não chega a ser grave, tendo o caráter de exceção, já que são apenas alguns poucos momentos.
A trilha sonora continua excelente, trazendo o clima medieval e brutal desse mundo que tanto amamos acompanhar. Diversos temas marcantes estão presentes aqui e não dúvida que você se pegue cantarolando alguns deles por ai.
Uma outra crítica recorrente e bem justa é a escuridão dos episódios, pois em diversos momentos se é quase impossível ver o que está acontecendo. Especialmente se você não estiver assistindo a noite com a luzes apagadas, pois do contrário, o mínimo reflexo na TV já é suficiente para obscurecer toda uma cena.
A Casa do Dragão ainda tem um longo caminho para alcançar a magnitude da cultura pop que Game of Thrones alcançou, mas traz aqui uma sólida temporada. É inegavelmente boa, porém, especialmente para os fãs, ao fim fica uma sensação de que faltaram mais momentos impactantes e gloriosos. Bem, esperamos que as próximas temporadas nos entreguem o choque e a empolgação ao qual estamos habituados.
Nota: 8,0
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