Sem dúvida, os thrillers policiais estão em alta atualmente, sendo constantemente explorados em várias produções, nos mais diversos streamings. Com isso, as tramas policiais parecem não ter muito espaço para se inovarem, tornando-se narrativas praticamente semelhantes, apenas se diferenciando com a alternância de elementos narrativos adotados em suas tramas.
“Santo”,
nova série da Netflix, é o primeiro thriller policial gravado em parceria entre
a Espanha e o Brasil. Criada por Carlos López, produzida pela Nostromo
Pictures, com o apoio da Prodigo Films, e dirigida por Gonzalo López-Gallego e
Vicente Amorim, a produção apresenta uma misteriosa e intrigante história de
suspense e ação criminal sobre tráfico internacional de drogas que se desenrola
nos dois países e inclui elementos sobrenaturais envolvendo rituais e
sacrifícios satânicos.
A trama gira em torno de Santo, um perigoso traficante internacional de drogas brasileiro, cuja identidade permanece um grande mistério. Quando o criminoso se desloca para Madri, as forças policiais brasileiras e espanholas juntam forças para ir atrás de seu paradeiro. Assim, os policiais federais Ernesto Cardona (Bruno Gagliasso) e Miguel Millán (Raúl Arévalo) começam a investigar o criminoso, que age tanto no Brasil quanto na Espanha.
Embora
os dois policiais se oponham em trabalhar juntos, eles precisam superar suas
diferenças e devem aprender a colaborar um com o outro e trabalhar em equipe
para capturar Santo – além de manter suas vidas a salvo. O problema é que
ninguém conhece o rosto de Santo, o que torna a missão de rastreá-lo quase
impossível.
“Santo” é um excelente thriller criminal que apresenta uma intensa e envolvente trama policial internacional, com ritmo frenético, cheio de reviravoltas e com elementos de rituais satânicos. No entanto, apesar de toda a superstição do sacrifício humano em tais ritos ser um ótimo elemento narrativo para a série em tela e elevar a produção a ser um thriller criminal ágil e mais interessante, tal ponto faz a produção ficar um pouco mais forte, devido à natureza mais brutal desse elemento.
Na
superfície, a inserção de todos esses elementos narrativos eleva a produção ao
nível de um bem produzido jogo internacional de gato e rato entre as polícias
brasileira e espanhola com um misterioso narcotraficante. Porém, a trama se
complica ao proporcionar um mergulho mais profundo nas vidas pessoais de seus
protagonistas; principalmente pelo fato de a série apresentar uma abordagem
caótica não linear e dispersiva, ao ficar indo e voltando em sua linha temporal
e expondo os fatos de forma extremamente mais complexa.
Por si só, esse jogo de gato e rato entre as polícias internacionais e o narcotraficante Santo já é complexo o suficiente, e sua narrativa não é capaz de fugir dessa complexidade quando, além disso, insere todos os demais elementos narrativos. Às vezes, ela é difícil de seguir, não apenas por causa de suas cenas de flashbacks, mas porque é confusa demais para entender. E isso ocorre com maior intensidade devido ao seu ritmo acelerado, somado à linha temporal não linear.
Há
reviravoltas realmente boas durante os episódios e, muitas vezes, dizem muito
sobre alguns dos personagens principais. É bom ver que alguns dos protagonistas
também têm um lado obscuro. Cada um deles tem uma história de fundo, com
suas próprias razões para realizar seu trabalho e ir atrás de um criminoso misterioso.
Por outro lado, o elenco de apoio ocasionalmente parece apenas um gancho superficial
para os principais atores ganharem maior destaque.
Em se referindo ao criminoso misterioso, a produção ganha um ponto positivo. A persona do Santo é o traficante de drogas mais notório do mundo, que está sendo caçado tanto no Brasil quanto na Espanha, mas ninguém nunca viu seu rosto. Então, ele pode ser qualquer um – o que torna o mistério de sua identidade mais intrigante ainda. Ao longo dos seis episódios, o público passa o tempo todo tentando adivinhar quem é Santo, se deparando com uma trilha de pistas que, muitas vezes, parecem, intencionalmente, querer confundir o telespectador.
Em
termos de manter o mistério sobre a identidade invisível de Santo, a série é
completamente eficaz ao conseguir manter sua real personificação até o momento
final do último episódio. A inserção de um culto satânico e rituais sangrentos
adicionam horror, medo e muito mistério à história, que, sem esses elementos
narrativos, seria apenas uma típica série de investigação de crimes policiais.
A produção, realizada em parceria entre Brasil e Espanha, une culturas, linguagens e cenários para apresentar a trama central e para capturar os diferentes mundos que moldam os personagens Cardona e Millán. As ruas frenéticas de Madri contrastam com a exuberante cidade litorânea da Bahia. Com isso, é completamente perceptível que a equipe de produção realizou um trabalho impecável para garantir uma representação bastante fiel de cada local.
Os
personagens se enquadram nessa dualidade, causando atritos entre eles;
principalmente entre Ernesto Cardona e Miguel Millán. Os dois lados da
aplicação da lei são representados pelos dois policiais principais da série –
Millán, um policial na Espanha, e Cardona, um agente federal brasileiro
disfarçado e infiltrado na Espanha. Ambos estão investigando Santo e perseguindo o rastro de
rituais sangrentos e bizarros de culto satânico que o criminoso está deixando para
trás.
Outro ponto positivo de “Santo” é o impecável elenco. A série conta com alguns atores extremamente experientes envolvidos no projeto. Raúl Arévalo e Bruno Gagliasso apresentam atuações excepcionais. O elenco feminino também ganha grande destaque na trama ao servir como corpo de apoio para os dois protagonistas principais. Victória Guerra e Greta Fernández trazem um alto peso para suas personagens e entregam uma enorme contribuição para a história.
A
série é o primeiro trabalho de Bruno Gagliasso em parceria com a
Netflix e, para as gravações de “Santo”, o ator se mudou para Madri, na
Espanha, entre os meses de abril e outubro de 2021, para gravar suas cenas. A
partir daí, o elenco e as equipes de direção e produção passaram a gravar em
Salvador, na Bahia.
A produção apresenta uma intrigante trama policial e excelentes atuações, mas, infelizmente, não foge de alguns problemas. Para começar, a produção entrega um thriller policial com uma narrativa muito confusa e complicada. Há constantes saltos de tempo e súbitos cortes em todos os episódios; em vez de preencher esses detalhes, a produção repete as mesmas cenas, ampliando-as e adicionando novos fatos para explicar o que aconteceu – o que é completamente dispensável.
Além
disso, o uso de cortes súbitos entre as cenas ao longo dos episódios quebra
totalmente o ritmo narrativo da história. Esse tipo de edição não está muito
bem trabalhado ao longo da execução dos episódios e leva um tempo para o público
entender onde os personagens estão na linha do tempo.
“Santo” é um excelente thriller policial, recheado de ação e com uma premissa bastante instigante. E a produção fica ainda mais interessante quando acrescenta, na trama, elementos narrativos sobrenaturais relacionados a rituais satânicos sangrentos nas atividades criminosas do vilão. Isso torna a narrativa mais fascinante, intrigante, interessante e instigante. Além disso, há reviravoltas realmente muito boas – cada cena frenética impulsiona o público rapidamente para o próximo episódio, conduzindo-o juntamente com os protagonistas em direção a um futuro incerto e misterioso.
Mas,
mesmo com um ritmo frenético, a produção tem dificuldade em manter um enredo
coeso ao empregar uma estrutura narrativa não linear. Com isso, as linhas do
tempo ficam confusas e mais difíceis de entender – dessa forma, a série em tela
mantém uma imprevisibilidade muito grande, exigindo do telespectador um esforço
bem maior para juntar as peças do enigma que a produção lentamente apresenta.
Porém, essa desarticulação narrativa não faz sentido até o último episódio; e
isso se justifica à medida que a trama vai avançando de tal maneira que tudo o
que o público pode fazer é apenas acompanhar a série até o final.
“Santo” está disponível na Netflix.
Nota: 8.5
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