Estamos vivendo a “era de ouro dos super-heróis”. Enquanto a Marvel e a DC dominam o mercado de super-heróis, lançando constantemente filmes e séries, outros Estúdios (não tão conhecidos assim) tentam obter uma (pequena) fatia desse bolo extremamente lucrativo. Em meio à essa briga por espaço, filmes menores desse ramo tentam se destacar e acabam sofrendo por não serem tão originais assim.

O mais recente filme desse ramo é “Samaritano”, colocando Sylvester Stallone como um super-herói aposentado e recluso, que tenta se esconder de seus dias de glória enquanto a cidade está se afogando no crime. Prometendo uma visão mais sombria e séria do gênero, “Samaritano” falha ao tentar trazer algo novo para o gênero, transformando um conceito aparentemente promissor em uma história de super-herói genérica, superficial, desprovida de originalidade e com um ritmo lento.

Na trama, Sam, de 13 anos, desconfia que seu misterioso e recluso vizinho, Sr. Smith (Sylvester Stallone, de “Assassinos”, 1995), é o super-herói antes conhecido como Samaritano, mas que se aposentou e, agora, passa a viver no anonimato no subúrbio da cidade. Após ser um grande herói no final dos anos 1990, o vigilante superpoderoso de Granite City forjou a própria morte e acaba abrindo mão da vida de super-herói, levando uma vida distante do combate ao crime – assim, ele passa a ignorar a criminalidade e vive como um simples coletor de lixo.

A maioria das pessoas acredita que o Samaritano morreu em um incêndio, mas alguns têm esperança de que o herói ainda esteja vivo. Com o crime em ascensão e a cidade à beira do caos, Sam começa a persuadir o Sr. Smith a sair do anonimato para salvar a cidade da ruína de uma perigosa gangue.

Samaritano” é baseado em uma História em Quadrinhos, da Editora Mythos Comics, publicada a partir de 2015. O personagem foi criado por Bragi F. Schut, que desenvolveu o conceito de um super-herói aposentado que não quer mais se envolver com a criminalidade. Entretanto, o personagem já tinha sido criado para protagonizar um filme, mas acabou inspirando a criação dos quadrinhos. As HQs do “Samaritano” nunca chegaram no Brasil, mas o filme foi lançado no último dia 26 de agosto, na Amazon Prime Video.

Dirigido por Julius Avery e com roteiro escrito por Bragi F. Schut, “Samaritano” chegou no streaming (pela United Artists Releasing e Amazon Studios, em co-produção da MGM e Balboa Productions) com grande destaque e com a promessa de ser um filme chamativo e inovador. Porém, o filme em tela passa uma sensação absurda de narrativa repetitiva, da qual o público já está tão acostumado; principalmente porque a ideia de um super-herói forçado a sair da aposentadoria é completamente esquecível, sem originalidade e batido.

Mesmo com uma direção competente, a produção insere todos os clichês básicos e superficiais de super-heróis. Além de contar com uma abertura feia e pouco convincente, o roteiro está cheio de falhas. As explicações apresentadas durante o longa são distorcidas e completamente ignoradas para avançar a trama e garantir que o herói sempre enfrente os vilões nos momentos mais emocionantes. Além disso, o roteiro da produção também é dependente de uma reviravolta completamente previsível.

Os personagens principais também são indecisos em relação às suas posturas morais, mudando de acordo com as necessidades da narrativa. A relação entre o super-herói aposentado e recluso com o seu vizinho pré-adolescente intrometido é extremamente superficial, pois seu vínculo é simplesmente fixado de uma hora para outra em vez de ser desenvolvido. Para resolver todos esses problemas, a narrativa precisa se mover de forma mais rápida para vencer esses obstáculos.

Aos 76 anos, Sylvester Stallone tem um talento e experiência de sobra para conseguir elevar a narrativa e engrenar o roteiro fraco e maçante – e o ator consegue ajudar bastante a transformar seu super-herói aposentado em um personagem muito simpático. Em geral, Stallone é uma boa diversão e apresenta uma ótima performance como um herói velho e ranzinza, que trabalha como coletor de lixo antes de, relutantemente, sair da aposentadoria.

Embora Stallone não consiga suavizar as falhas da produção, o ator se esforça para fazer o filme valer a pena, principalmente para aqueles dispostos a assistir uma história genérica de super-herói com noções muito superficiais de moralidade. Infelizmente, isso só torna a película mais fraca e rasa, já que a produção tinha o potencial de explorar as nuances da desigualdade social e, em vez disso, acaba como pano de fundo de mais uma história de super-heróis esquecível.

É incrível assistir um filme de super-herói que não seja baseado em um personagem da Marvel ou da DC, e a ideia de um super-herói invencível aposentado vivendo escondido na pobreza como um recluso trabalhador do saneamento é excelente, mas a história é contada de uma maneira que nunca parece tão interessante e original quanto poderia ser. Tendo isso em consideração, “Samaritano” é apenas mais um passeio de super-herói bastante fraco e com um ritmo lento, que oferece um entretenimento básico.

No final das contas, o maior erro de “Samaritano” é seu roteiro genérico e superficial em um mercado supersaturado no gênero de super-heróis. O filme em tela não se destaca por suas cenas de ação, falha totalmente em originalidade, não tem nada de inovador acerca da premissa de qualquer história de super-herói, é incapaz de dar um propósito real aos seus vilões e, por fim, fica estritamente dependente de uma revelação previsível. Por mais talentoso que Stallone seja, e por melhor que sua atuação tenha sido, nem mesmo ele consegue carregar o peso do filme inteiro sozinho – mesmo que com muito esforço.

Samaritano” está disponível na Amazon Prime Video.

Nota: 4.0

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