Espetáculo maximalista de Baz Luhrmann faz jus ao legado do Rei do Rock
Não é errado dizer que Elvis Presley não é tão mais cultuado quanto antigamente. Seu impacto até hoje não pode ser negado, mas ainda assim ele não é tão escutado quanto outros ícones do rock do século passado, como os Beatles ou os Rolling Stones. Elvis é um fenômeno cultural o tanto quanto as bandas britânicas citadas, mas ele parece não ter o mesmo apelo com as gerações atuais. E talvez a sua nova cinebiografia, dirigida por Baz Luhrmann e estrelada por Austin Butler, tenha vindo não apenas para surfar no ressurgimento de sucesso de cinebiografias musicais, com os destaques sendo Bohemian Rhapsody e Rocketman, mas também para apresentar a figura e a música de Elvis para um público mais jovem. E não poderia ter tido uma escolha melhor para essa tarefa difícil do que Baz Luhrmann.
Elvis tem todas as características e idiossincrasias de um filme do Luhrmann. Você pode ir ao cinema esperando anacronismos como músicas modernas tocando em um longa cuja história se passa entre a década de 50 até os anos 70, uma edição totalmente frenética que parece ter sido feita por alguém com insônia e que cheirou cinco carreiras de cocaína - dando ao espectador apenas algumas cenas momentâneas para respirar - e talvez o típico "estilo sem substância", que tantos críticos acusam o Luhrmann de ter. Mas não há como negar que tudo isso combinou perfeitamente com um filme do Elvis Presley. Luhrmann soube capturar bem sua essência exagerada e até brega, com todas suas fanfarronices, melhor simbolizada pelos macacões coloridos e com capas (inspirados pelo Capitão Marvel Jr., super-herói favorito de Presley). A estrutura do filme por vezes pode parecer um pouco confusa no início, quando pulamos de um período pra outro, da perspectiva do Elvis para a do Coronel Tom Parker. Mas o filme já começa sua narrativa típica de biografia bem linear a partir dos vinte minutos. As decisões criativas de Luhrmann, como movimentos de câmeras, dissolves, title cards, e até mesmo o uso de animação, dão um frescor pro projeto ambicioso do diretor e fazem com que não haja um segundo chato sequer no filme.
Mas talvez o maior destaque, e até mesmo surpresa, seja a performance surpreendente e sem precedentes de Austin Butler. O ator incorporou completamente Elvis Presley, se atentando com cada detalhe e entregando uma atuação completamente natural no filme, tanto é o talento do jovem ator. Os trejeitos, voz, estilo de dança, tudo é perfeitamente emulado por Butler e você pode esperar bastante vídeos comparando cenas do filmes com gravações reais do Presley no futuro quando o filme for lançado digitalmente. E como o Elvis, assim como todo ser humano, não é a mesma pessoa por toda sua vida, ele age diferente em períodos diferentes, e o Butler consegue capturar a essência de cada período também de forma perfeita. Seja o Elvis tímido em seu início de carreira, ou o Elvis arrependido e dopado nos últimos anos de sua vida, o Butler personifica completamente o cantor em qualquer época e período. Com certeza é umas das melhores escolhas de escalação dos últimos tempos.
Além disso, Butler dá tudo de si nas cenas musicais e canta tão bem quanto o Rei do Rock. Há várias cenas musicais ao longo do filme de duas horas e meia, e as melhores são a primeira, no Louisiana Hayride, e a última, com Elvis cantando Unchained Melody em seu show final. No quesito atuação o filme já ganharia um dez, isso se não fosse algumas decisões questionáveis do Tom Hanks interpretando o Coronel Tom Parker. Não se sabe o quanto é apenas o Luhrmann sendo Luhrmann enquanto dirige um ator de calibre como o Hanks, ou se é mesmo o Hanks saindo de sua zona de conforto (após interpretar apenas mocinhos por quase toda sua carreira) e não conseguindo lidar com isso da melhor forma. Hanks é cartunesco em diversas cenas, e apesar disso não tirar o espectador de sua imersão, ainda soa e parece bastante ridículo em partes, mas ainda assim continua divertido e se encaixa bem na proposta do filme.
Elvis é um filme que merece ser visto na tela grande. São duas horas e meia divertidas que passam rapidamente, tirando alguns arrastos no segundo ato, que vai agradar tanto os fãs de longa data quanto aqueles que não sabem nada da história de seu protagonista. Visualmente único, você não vai encontrar um filme que se pareça com Elvis esse ano, no ano que vem ou por um longo período de tempo, isso até o próximo filme do Luhrmann claro. É uma explosão de cores e mescla de diversos estilos que resultam em um longa impressionante e totalmente maluco, algo que parece ter vindo de um épico. Não será do agrado de todos, mas ainda acho que valerá a pena o tempo até daqueles que não gostarem tanto quanto eu gostei.
Nota: 8,5
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