A nova série Apple TV+ acompanha a Slough House, um esquadrão do MI5(Serviço de Inteligência Britânica) composto de agentes descartados, por terem cometidos infrações graves em serviço. Estes são liderados por Jackson Lamb(Gary Oldman), um lendário porém amargurado espião, que encontrou um lugar para afogar seus traumas do passado.

Logo que somos introduzidos, a série inicia quebrando diversos paradigmas que temos acerca do glamour dos espiões, nos mostrando um grupo de "fracassados". Apresentado bem as dificuldades e trazendo a realidade a tona, deixando bem claro que o trabalho não é fácil e explorando de modos incomuns, suas dificuldades

Cada agente da Slough House tem sua personalidade bem distinta, que são apresentadas logo de início, perpassando por seus traumas e história. Apesar de alguns não fugirem de estereótipos, todos os personagens tem suas qualidades e defeitos, tornando-os reais e não simplesmente caricaturas. No decorrer dos episódios, aqueles que são mais secundários vão tendo seus arcos e relações desenvolvidos, mas nem todos tem esse desenvolvimento de modo interessante e natural.

Já o personagem principal River Cartwright(Jack Lowden) é um dos pontos altos da série, pois tem um arco interessante: um espião competente, que é punido injustamente por um erro que não cometeu, fazendo com que todos os personagens o desprezem, mas que nós, torçamos por ele.

Em contrapartida, o Jackson Lamb, que é interpretado por Gary Oldman, acaba tendo um dos arcos mais desinteressantes, já que podemos dizer, que o personagem não possui arco dramático nenhum. Apenas sendo retratado mais ao final, outros segredos e nuances de sua personalidade azeda. Sendo assim, sua boa atuação não sustenta o personagem.


A principio, a história se desenrola de modo ágil, com uma trama que instiga o espectador a ansiar pela resolução. Também de inicio a série é uma montanha russa de emoções, mexendo com as expectativas do espectador a todo momento.

Porém, conforme progredimos, alguns momentos se desenrolam de modo confuso e arrastado, fazendo com que você não entenda ao certo quem é determinado personagem ou como ele foi parar onde está. Mas ainda assim, nesse início, possui reviravoltas interessantes.

Os primeiros episódios se sustentam em novas revelações, que mudam completamente o cenário da história. Explorando as dinâmicas de conflito por todos os lados. Porém, em alguns casos, ficam confusas as razões de certas intrigas, já que são conflitos dentro de conflitos, o que torna um emaranhado, que dificulta o acompanhamento da história na menor desatenção.

O meio da série, por conta da confusão da trama causa um desinteresse, e essa aparente perdição do roteiro, mostra um evidente problema em contar uma história. A queda no ritmo demonstra que a trama não é complexa por isso de difícil assimilação, mas simplesmente uma montagem que não traduz da melhor maneira a sequência de eventos, de forma que as linhas narrativas se conectem de modo interessante.

Conforme a série se aproxima do ato final, o senso de urgência também é perdido, por conta de algumas decisões bestas tomadas pelos antagonistas, com a tensão sendo retomada apenas em alguns momentos esporádicos, estes que, não sustenta o arco final da série

O vilão é raso, mas mantém o mínimo de apreensão, por ser imprevisível. Mas apesar disso, momentos que deveriam ser eletrizantes simplesmente são indiferentes, pois você não se importa suficiente com os personagens que estão em risco.

Soluções são criadas de repente, sem explicação ou justificação para não terem sido tomadas antes, por uma aparente preguiça do roteiro ou artificio para resolver os problemas complexos que ela cria.

A serie se resume em: personagens que eram para estarem operantes, criam um grande problema e a trama é baseada em resolvê-lo, o que nos leva a uma narrativa que termina praticamente do mesmo modo que começa.

O desenrolar dos eventos utiliza do mesmo artifício: pequenos conflitos e ações sem sentido fazem com que a história prossiga, levando a um desfecho anticlimático que não empolga, mas decepciona.

Os diálogos dos personagens tem um aspecto em comum, que são as referências históricas. A princípio é interessante, mas pela constante utilização, torna-se artificial e parece um "show off" do roteirista, mostrando como ele "manja" ou talvez seja simplesmente um hábito britânico do qual desconheço.

Em quesitos técnicos, posso destacar a trilha sonora, que passa um clima bem específico, sendo singular, com temas agudos que tornam-se a marca da série. A fotografia também tem seus méritos, já que é competente em destacar os pontos de tensão, ressaltando as boas atuações. Porém, nenhum desses pontos salva a série.

Há também diversas retratações das hipocrisias de ambas as esferas políticas. Sendo a extrema direita e seus preconceitos religiosos infundados o tema principal. Outro aspecto que é explorado, mas que acaba também sendo um dos principais problemas do roteiro, é como a corrupção se alastra e infecta todas as esferas e organizações da sociedade, do mais baixo até o mais alto escalão.


Por já ter uma segunda temporada em produção, algumas pontas soltas são deixadas, o que pode se tornar frustrante para alguns espectadores desavisados, já que o show tem um aspecto de minissérie.

Mas, devido ao desenvolvimento sólido dos personagens, uma segunda temporada tem um potencial muito maior, desde que não cometa os mesmos erros da primeira. Não é um fracasso completo, já que em aspectos técnicos e nas atuações, possui grandes méritos; mas não se sobressai de modo a consolidar-se como um grande nome do gênero policial.

NOTA: 5.6

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