Nem mesmo o grande mestre jedi Obi-Wan Kenobi consegue escapar da mediocridade que se tornou Star Wars pela Disney.
Durante o reinado do Império Galáctico, o ex-Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi embarca em uma missão crucial. Kenobi deve enfrentar aliados que se encontram inimigos e enfrentar a ira do Império.
Quando George Lucas decidiu fazer uma nova trilogia de Star Wars contando a “origem” de Anakin Skywalker/Darth Vader, ninguém poderia imaginar que os filmes seriam extremamente rejeitados pelo público e os fãs, para depois de anos conquistarem parte da fanbase jovem que cresceu com eles. Mas mesmo sendo bem divisiva, a única coisa que conseguiu ser a exceção e agradar a todos foi a versão jovem de Obi-Wan Kenobi, vivido pelo ator Ewan McGregor (Trainspotting, Aves de Rapina). Vinte anos depois, o personagem retorna em uma (até então) minissérie exclusiva para o serviço de streaming Disney+, contando suas aventuras que ocorrem entre os episódios III e IV.
Primeiramente eu gostaria realmente de saber o que aconteceu com a diretora Deborah Chow (The Mandalorian, Better Call Saul), responsável pela direção dos 6 episódios. Ela já se provou uma boa diretora e arrasou nos 2 episódios de “The Mandalorian” que comandou (sendo inclusive a primeira mulher a dirigir algo de Star Wars), mas o que ela faz aqui com Obi-Wan pode ser definido como vergonhoso. As cenas de ação são péssimas, a direção é nada inspirada e totalmente no piloto automático, e ela simplesmente não sabe comandar o elenco, parece uma pessoa que nunca dirigiu algo na vida.
Falando da direção, os roteiros e principalmente a produção da série são bem fracos e abaixo da qualidade técnica incrível de “The Mandalorian”. A maior sensação que a série gerou foi de que a produção foi extremamente apressada e eles não tiveram os mesmos recursos financeiros e tempo das outras produções. A estrutura de roteiro é porca e enrolada, conseguiram fazer uma minissérie de 6 episódios ter arcos e plots completamente passáveis e com cara de “filler”. Caso a Disney fosse investir tão pouco e usar esses artifícios, deveriam ter feito um filme do Obi-Wan sem essas gordurinhas do roteiro.
Quem realmente “salva” a série é Ewan McGregor, que se esforça para trazer algum tipo de emoção para as suas cenas e personagem, mesmo com o roteiro e direção constantemente dificultando a sua vida. É bom ver esse excelente ator de volta ao que seria o papel mais icônico de sua carreira, mesmo que de maneira não tão incrível.
Já o resto do elenco é infelizmente péssimo. Mesmo com nomes muito bons envolvidos (como os de Joel Edgerton e Jimmy Smits), os atores e atrizes não são bem dirigidos ou entregam bem as suas falas. Infelizmente tenho que dar um destaque negativo para a atriz da pequena Leia (Vivien Lyra Blair), que mesmo sendo fofa e carismática, não consegue atuar bem, assim como a Terceira Irmã Reva (Moses Ingram), uma personagem extremamente interessante no papel, e mal explorada. Mas vale dizer que mesmo a personagem sendo ruim (e suas motivações não façam o menor sentido), os ataques racistas sofridos pela atriz em suas redes sociais não são nada justificados.
Sem contar alguns personagens novos criados para a série, que além de irritantes servem apenas para mover a trama de modo conveniente. Haja (vivido por Kumail Nanjiani) que é um falso jedi que se aproveita e engana pessoas, que subitamente vira “do bem” e ajuda Kenobi, Roken (interpretado por O'Shea Jackson Jr.), um membro da resistência que ajuda os heróis a fugirem, e outros. Esses são personagens que inexplicavelmente permanecem na trama da temporada ATÉ O FINAL!
Os Inquisidores são outros personagens extremamente jogados na série, ao ponto do Quinto Irmão (Sung Kang) simplesmente desaparecer na metade. Eles só reclamam, brigam com Reva e reclamam. Sem falar no Grande Inquisidor (Rupert Friend), que além de parecer um cosplay do ET Bilu, é “morto” no segundo episódio mesmo sendo um vilão que os fãs sabem que de fato não morreu (sendo que é um dos antagonistas de Star Wars: Rebels). A participação deles na série no fim acaba sendo outro grande cacoete dessas produções atuais da franquia, onde trazem personagens reconhecíveis da saga (seja de outros filmes, séries e animações) sem qualquer função real na história, servindo apenas para gerar buzz e engajamento entre os fãs.
E então chegamos em um dos pontos mais peculiares (e chamativos?) da série: Darth Vader. O maior e mais amado vilão da cultura pop também faz o seu retorno aqui depois da breve e querida cena em “Rogue One: Uma História Star Wars”, filme lançado nos cinemas em 2017. Eles também trazem de volta o ator Hayden Christensen (O Preço da Verdade, Jumper) para não só interpretar o vilão mas também voltar a viver Anakin Skywalker em uma sequência de flashbacks. Infelizmente até mesmo a participação de Vader soa vazia, com poucos momentos bons do personagem. Nem os 37 confrontos que aconteceram entre Obi-Wan e o vilão na temporada são marcantes.
Problema de prequels é que sabemos como a história termina, e é extremamente complicado criar um senso de urgência e temer pelos personagens (meu Deus, será que o Obi-Wan vai morrer? Eles vão conseguir salvar a Leia? Tio Owen vai ser morto pela Reva? Luke está em perigo!). O fato de sabermos os destinos dos principais personagens conhecidos alinhados com os novos personagens que são completamente desinteressantes tira qualquer carga ou peso emocional.
Sendo assim, a conclusão da série é da maneira mais óbvia possível, e ainda apela para fanservices infinitos para agarrar os fãs (mas seria um grande hipócrita se dissesse que nem todos não funcionam, principalmente aquele retorno que acontece nos últimos segundos). Embora tenha sido pensada como uma minissérie e vendida assim, todos os envolvidos na série e a Presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, afirmaram que não só tem interesse em produzir uma 2ª Temporada, mas se o resultado for bem positivo no quesito de views e engajamento (e sabemos que a série foi um extremo sucesso nesses aspectos), mais aventuras com o mestre jedi devem acontecer.
“Obi-Wan Kenobi” é aquela reunião que poderia ter sido resolvida com um e-mail. Ela não só falha em trazer esse icônico personagem de Star Wars de volta, mas em continuar desenvolvendo o rico mundo, com uma produção pífia que se arrasta que nem um ser vivo ferido tentando sobreviver. No final, é apenas mais uma série mediana e sem qualquer vida ou identidade de Star Wars.
Nota: 5.5
Média das críticas dos episódios individuais: 8.3
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