"A Escada" revive o polêmico caso da morte de Kathleen Peterson e o apresenta sob várias perspectivas.

Em 2001, Michael Peterson, um escritor de romances, aspirante político e ex-combatente da Guerra do Vietnã, fez uma ligação para a emergência a fim de pedir socorro, uma vez que, segundo ele, sua esposa havia caído de uma escada e estava gravemente ferida. Quando os paramédicos chegaram à casa, Kathleen Peterson já estava morta e o que inicialmente foi encarado como um acidente não demora a ser tratado como homicídio. Estaria Peterson envolvido no incidente? 


Aproveitando o sucesso de obras de true crime, a HBO Max reconta essa história real que estampou inúmeros tablóides em formato de minissérie com oito episódios a fim de explorar as várias versões apresentadas para a morte de Kathleen, já que apesar dos indícios de violência, inúmeras pontas soltas e problemas no julgamento interferiram nas evidências ao longo dos anos. 

O show foi criado por Antonio Campos (O Diabo de Cada Dia), responsável pelo roteiro ao lado de Maggie Cohn. A direção é assinada por Leigh Janiak e Campos, enquanto sua produção executiva é assinada por nomes como Harrison Ford.

A Escada (The Staircase) revive, portanto, o caso polêmico e repleto de reviravoltas envolvendo os Peterson, e além de apresentar vários pontos de vista, acompanha a gravação do documentário de Jean-Xavier de Lestrade, de mesmo nome “The Staircase". Vale dizer que o uso do mesmo título acaba sendo um inconveniente pra quem pesquisa pela série. Como o documentário é um tanto quanto recente, diferenciar o nome ajudaria nos mecanismos de busca e tags. 

Vale pontuar ainda, que o documentário seguiu tanto a investigação do assassinato de 2001 como os julgamentos de Michael Peterson. Mas se engana quem pensa que não há novidades na minissérie. Algumas pessoas pouco evidenciadas ao longo do documentário, na minissérie ganham mais espaço e trazem revelações importantes.


Ao contrário de boa parte dos filmes e séries do gênero, a trama não aborda apenas o crime em si ou o julgamento de Michael Peterson (Colin Firth). A narrativa busca enfatizar também o enfrentamento do luto pelos filhos do casal (ou de um deles), Todd  (Patrick Schwarzenegger), Martha (Odessa Young), Margareth (Sophie Turner, Game of Thrones), Clayton (Dane DeHaan) e Caitlin (Olivia DeJonge), além do desenrolar da gravação do documentário que introduz Sophie (Juliette Binoche, O Paciente Inglês), uma figura importante na vida de Michael.

A narrativa conta ainda com inúmeros flashbacks, que não necessariamente seguem uma cronologia uniforme, embora acompanhem Kathleen no seu dia-a-dia em seu relacionamento com o marido, a ponto de situar o espectador e levá-lo a construir suas próprias teorias acerca da morte dela. Veremos inclusive a morte de Kathleen mais de uma vez, sob vários ângulos e perspectivas. Aqui a direção acerta a mão ao entregar sempre cenas impactantes, ao mesmo tempo que não são tendenciosas a um dos lados.


Os primeiros episódios de A Escada são empolgantes e construídos de maneira crescente, mas, após o julgamento de Michael, o ritmo cai vertiginosamente e a série passa a se sustentar apenas em suas atuações. Pouco acontece, pouco se acrescenta, e apenas uma ou outra cena dão energia aos episódios que se seguem. Talvez a história sendo narrada no formato de um filme teria obtido um resultado mais interessante e dinâmico.

Apesar de não conseguir poupar a obra do tédio a certa altura, a direção de Campos merece sim receber destaque. O diretor cria uma atmosfera familiar ideal, que se utiliza de elementos simples de cenário, como por exemplo uma taça com a qual eles fazem todo um ritual acolhedor e assim criam um vínculo de empatia com o público. Além disso, a direção mais a frente consegue realizar a difícil missão de trazer uma versão de Michael que por vezes nos faz questionar se ele é de fato culpado ou não pelo crime.

Colin Firth consegue atingir o objetivo de confundir o espectador. Ele evoca humanidade em Michael, de modo que em vários momentos temos empatia pelo acusado e condenado pelo crime brutal.  Ele surge como um pai de família, que tem a sexualidade exposta, ao mesmo tempo que vemos a face de um mentiroso compulsivo. Uma dualidade impressionante, que consagra mais uma vez o ator vencedor do Oscar por O Discurso do Rei,

Toni Collette traz cenas densas e as várias versões de sua morte impressionam pela violência e veracidade. Alguns flashbacks, no entanto, em especial de sua vida corporativa apesar de visarem nos fazer conhecer mais a fundo as aspirações e lutas diárias de Kathleen, nos dão a sensação de vazio e de pouco somarem ao contexto.

O advogado de defesa de Michael, David Rudolf, é interpretado pelo brilhante Michael Stuhlbarg e sua interação com o acusado gera grandes momentos. Por vezes nos incomodamos com os métodos do advogado de defender o réu, ao mesmo tempo que mais a frente nos incomodamos com o que parece ser uma certa displicência do mesmo com a defesa de Peterson.

O drama dos filhos não consegue se aprofundar o suficiente a ponto de nos engajar. A trama de Todd é a que mais frustra, ao passo que a de Martha ainda consegue nos sensibilizar.

Quem é fã de true crime, não se decepcionará com o estilo narrativo da minissérie ainda que ela não seja excelente como esperado. Apesar de algumas falhas, A Escada é mais uma prova de que a HBO escolhe a dedo o que entra em seu catálogo. 

Nota: 7,0 

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