Travar uma luta judicial com uma grande corporação pode ser uma batalha árdua – isso sem falar na longa duração que todo o processo pode durar; principalmente quando a outra parte é menor e mais frágil. Mas, muitas vezes, o que parece ser impossível acaba se mostrando uma batalha no melhor estilo Davi e Golias.
“Uma
Voz Contra o Poder”, conforme o título original (“Percy vs Goliath”) aponta, é
justamente uma alegórica referência à história bíblica, em que aborda um caso
real ocorrido no final dos anos 1990. De forma surpreendente, a produção é um
drama jurídico sobre um único homem que, apenas com o apoio de familiares, do
advogado e de uma ativista ambiental, conseguiu ganhar voz no mundo todo em
busca de justiça frente a uma grande corporação agrícola que, até então,
esmagava os pequenos fazendeiros de forma intensa.
Em 1998, Percy Schmeiser (Christopher Walken, de “Ruptura”, 2022) é um pequeno agricultor de canola, em Saskatchewan, província do Canadá, que usa uma abordagem diferente para cultivar sementes: em vez de comprar suas sementes de outras empresas, ele usa suas próprias sementes, que foram guardadas ao longo dos anos. Porém, ele é acusado pela Monsanto Canada Inc., uma gigante corporação do agronegócio, de cultivar, em sua terra, sementes transgênicas (geneticamente modificadas) da empresa sem licença – ou seja, sem pagar pela patente. Contudo, Percy alega que essa alteração aconteceu por motivos naturais, ao longo do tempo.
Com
a ajuda do advogado Jackson Weaver e da ativista ambiental, Rebecca Salcau
(Christina Ricci, de “A Família Addams”, 1991), Percy leva o caso até o tribunal,
tendo que lutar em busca de justiça e, com isso, começa uma longa e difícil batalha
judicial até a Suprema Corte do Canadá. Quando Percy começa a reunir as provas
para a sua defesa, não imagina que sua batalha vai ficar grande e essencial;
principalmente quando descobre que, na realidade, está lutando por milhares de
agricultores desprivilegiados em todo o mundo.
Baseado em uma surpreendente e envolvente história real, “Uma Voz Contra o Poder” consegue impressionar pela extrema dificuldade que um único fazendeiro precisou passar ao longo de vários anos em meio a uma complexa batalha judicial contra uma corporação global. Com poucos recursos para enfrentar, judicialmente, a corporação agrícola, Percy consegue levar o caso à Suprema Corte do Canadá, criando um precedente jurídico que, até então, não existia.
Com
isso, o caso de Percy se tornou extremamente importante ao estabelecer, juridicamente, uma situação
inédita sobre uma questão do agronegócio, cujo processo judicial (“Schmeiser v.
Monsanto”) foi o responsável por criar os primeiros acórdãos da Suprema Corte
sobre o assunto. Por causa disso, o caso de Percy mudou a indústria do agronegócio e ampliou as discussões sobre o agronegócio no mundo inteiro; além
de contribuir para beneficiar milhares de pequenos agricultores
desprivilegiados que também eram prejudicados em situações semelhantes.
Apesar
de se apresentar como um drama jurídico, a trama de “Uma Voz Contra o Poder” se
desenvolve mais profundamente ao explorar as dificuldades emocionais e
financeiras que Percy sofre fora do tribunal do que a disputa judicial dentro
dele. E isso também inclui as represálias de outros agricultores e o isolamento
social pelo qual o pequeno agricultor e sua esposa têm que suportar depois que
Percy é notificado judicialmente sobre o uso das sementes transgênicas e o caso
fica publicamente conhecido naquela pequena comunidade.
O
diretor Clark Johnson (de “S.W.A.T. – Comando Especial”, 2003) conduz um drama
biográfico que aborda apenas uma passagem na vida de Percy Schmeiser, que é
especificamente acerca dos problemas jurídicos com a empresa Monsanto. A sua
narrativa é breve e enxuta, não se estendendo muito com uma trama comprida e
sem ter o objetivo de se prolongar mais do que o necessário para contar os
longos anos que Percy teve que lutar nos tribunais. Em outras palavras, Johnson
consegue fazer uma breve síntese do caso de Percy, mas de forma sólida,
competente e satisfatória; entregando uma produção cuja história é direta e
cumpre o que promete.
Filmes em que uma parcela da população se vê prejudicada por uma grande corporação e uma batalha judicial é iniciada já não é mais novidade na indústria cinematográfica. Existem excelentes filmes com essa temática, como, por exemplo “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento” (2000) e “O Preço da Verdade” (2019). Ambos os filmes são baseados em casos reais e apresentam, de forma sucinta, a potente força que a população tem quando decide se levantar e lutar contra a esmagadora condição e difícil situação que as corporações lhe impõem.
Com
“Uma Voz Contra o Poder” não é diferente, mostrando o quão é importante não se
calar e se submeter facilmente a certas imposições que grandes empresas (principalmente
as mais gananciosas) tentam forçar em cima de pequenos agricultores. Em sua
árdua batalha judicial contra a opressão de uma corporação, o personagem de Christopher
Walken (que tem uma atuação impecável, brilhante e emocionalmente intensa) se
mostra implacável e perseverante em sua batalha contra a injustiça, provando
que tem voz suficiente para lutar sozinho com todos os meios legais possíveis para
proteger seu negócio de alguém que detém mais poder.
“Uma Voz Contra o Poder” é um envolvente drama jurídico que traz reflexões intensas sobre como o agronegócio é operado. No caso do filme em tela, se dá através de uma empresa poderosa que não se importa em esmagar os pequenos agricultores, mostrando sua ganância ao tentar obter o monopólio do negócio frente a milhares de outros produtores que também são prejudicados por essa cruel imposição predatória comercial, tal como Percy.
O diretor Clark Johnson consegue apresentar uma história coesa e adequada à
proposta, sobre um pequeno agricultor esmagado por uma grande corporação
agrícola, que resolve lutar para defender sua plantação, estabelecendo, assim,
um incrível precedente que, posteriormente, viria a beneficiar outros
agricultores na mesma situação. O pequeno agricultor mostra que uma voz, por
menor que seja, consegue ter força suficiente contra o poder ganancioso de uma
grande empresa. O
“Uma Voz Contra o Poder” está disponível na Netflix e na Amazon Prime Video.
Nota: 8.5
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