Filmes de espionagens, em geral, são sempre intrigantes, principalmente quando ocorrem traições. Ficam ainda melhores quando a trama segura até o final quem realmente é o traidor. Em meio a tudo isso, os espiões se envolvem em uma teia de mentiras e várias reviravoltas acontecem; muitas vezes enganando o telespectador, levando-o a acreditar em fatos e em pessoas que não são o que parecem.

O que muda de uma produção para outra é a abordagem com que o longa narra. E tudo depende de como a narrativa cinematográfica vai contar a película em questão, imprescindível para apresentar um enredo coerente e, acima de tudo, interessante. Infelizmente, “Um Jantar Entre Espiões” patina um pouco em sua forma de conduzir uma trama bacana, quase que inteiramente contada através de flashbacks (e, pior, incluindo lembranças dentro dos flashbacks) de um evento ocorrido previamente à narrativa presente; o que torna o filme não linear, chegando a ser cansativo.

Na trama, os agentes da CIA, e ex-namorados, Henry Pelham (Chris Pine, de “Mulher–Maravilha”, 2017) e Celia Harrison (Thandie Newton, de “Caminhos da Memória”, 2021), tiveram uma tumultuada missão em Viena, Áustria, oito anos atrás, quando terroristas sequestram um avião no aeroporto fazem centenas de pessoas como reféns e, na tentativa da CIA de realizar um resgate, tudo dá errado, terminando com a morte de todos os passageiros, tripulantes e terroristas. Mas, o que atormenta os dois agentes é o questionamento sobre o que aconteceu e, agora, Henry e Celia tentam viver com as consequências daquela noite. Assim, a filial da CIA na cidade reúne informações durante aquelas horas tensas diretamente do local por conta de ter um agente infiltrado.

Quando a CIA descobre que um dos seus agentes vazou informações que custaram a vida de 100 pessoas, Vick Wallinger (Laurence Fishburne, de “Missão Resgate”, 2021) designa Henry para realizar novas investigações do ocorrido oito anos antes e para erradicar o traidor dentre os seus ex-colegas de escritório na estação da agência em Viena. A sua investigação o leva da Áustria para a Inglaterra e até à Califórnia, onde ele se reencontra com sua ex-colega da CIA, Celia. Os dois agentes se reencontram em um jantar para relembrar o caso. O par é forçado a borrar as linhas estre profissão e paixão nesse fascinante conflito do mundo da espionagem, ambiguidade moral e traições mortais. Com o decorrer da noite, ela começa a suspeitar o real motivo do encontro e a tensão vai deixando claro que apenas um deve sobreviver.

Baseado no livro “All The Old Knives”, de Olen Steinhauer, que também assina o roteiro da produção, “Um Jantar Entre Espiões” deixa de lado a ação para apresentar uma história melodramática sobre dois agentes da CIA, anteriormente namorados, que são obrigados a se encontrarem novamente, reviverem o passado para discutirem sobre uma operação que deu errado oito anos antes e trocarem informações para descobrirem quem vazou a informação. E, no meio desse jantar, revelações são feitas à medida que a trama vai se desenrolando. É uma premissa que tenta estabelecer um suspense de forma intrigante, mas não consegue manter uma (extremamente pouca) dinâmica, que não anima de forma alguma.

Um Jantar Entre Espiões” tenta se vender como um filme de espionagem, mas ele sofre com o problema de limitação de espaço, cujo enredo principal se passa, majoritariamente, dentro do restaurante onde os dois agentes se reúnem para discutirem a operação que deu errado. E isso é um fator que trava o desenvolvimento da dinâmica. Com isso, a trama tem que recorrer a flashbacks constantes com cenas externas envolvendo ação para tentar alavancar o ritmo da narrativa. De certa forma, até que funciona um pouco; pois, assim, tenta evitar de o filme não ser completamente maçante e cansativo. Esse excesso de flashbacks e mudanças de ponto de vistas entre os dois protagonistas dão uma boa quebrada no ritmo narrativo extremamente lento.

Para melhor compor seus personagens, os atores Chris Pine e Thandie Newton prestaram consultoria com uma ex-agente da CIA, que auxiliou a produção a criar autenticidade sobre alguns aspectos, tais como em relação ao código de ética da CIA e como os agentes devem se comportar, bem como os tipos de roupas que eles devem usar. A ex-agente também ajudou com outros detalhes acerca da direção de arte e roteiro, além de dar dicas sobre como é montado os escritórios das agências.

Janus Metz Pedersen, diretor de “Um Jantar Entre Espiões”, se aproveitou dessa ajuda para melhor construir a trama que o filme se propõe a apresentar, desenvolvendo, de forma mais realista, os cenários, personagens e diálogos. E a vantagem da produção foi poder contar com Olen Steinhauer, o próprio autor do livro, para adaptar a obra no roteiro que seria utilizado na produção. Por fim, o melhor aspecto do longa em questão talvez seja a Direção de Fotografia, assinada por Charlotte Bruus Christensen, que soube apresentar um trabalho impecável com iluminação e cores para enquadrar os dois agentes durante o jantar.

Um Jantar Entre Espiões” aborda filme de espionagem com uma nova narrativa, focando mais no drama entre dois agentes após uma operação mal sucedida. Porém, a película coloca de lado a ação para abordar os problemas do passado entre os dois personagens. Com isso, a trama é conduzida de forma bastante lenta, parada e ociosa. Para piorar, o uso excessivo de cenas flashbacks não funcionam tão bem quanto o esperado, quebrando a narrativa do que está sendo contado ao telespectador. Essa interrupção absurda e interminável é cansativa e pouco se tem a acrescentar na história, que já está sendo contada pelos dois protagonistas durante o jantar, além de quebrar o ritmo narrativo que o longa está apresentando. Isso faz com que o longa perca sua força ao tentar apresentar uma produção intensa sobre o mundo da espionagem, fazendo uma abordagem mais lenta e fraca sobre o tema.

O filme em tela tem uma história de mistério bem elaborada e uma ideia que chega a ser bem bacana. Mas, infelizmente, não soube ser bem contada. O que de melhor foi desenvolvida, talvez, foi a tensão criada entre os personagens, conseguindo transmitir essa carga para o telespectador, com intuito de despistar sobre toda e qualquer informação acerca dos fatos narrados durante todo o enredo. Com isso, a produção conseguiu utilizar, até certo ponto, as várias reviravoltas como ótimo artifício. Pena que não totalmente, pois o final do filme chega a ser um pouco previsível.

Um Jantar Entre Espiões” está disponível na Amazon Prime Video.

Nota: 5.5
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