Dentro da indústria cinematográfica, Ryan Reynolds moldou seu estilo bonachão e debochado de atuar, cheio de piadinhas a todo momento. Pode-se perceber este seu estilo nos últimos filmes em que ele atuou, desde que participou de “Deadpool” (2016). É inegável que o ator tem um carisma grande em tela; mas, também, não dá para deixar de perceber seu estilo caricato padronizado em seus filmes mais recentes.
Chega
a ser cansativo e até um pouco frustrante ver o quanto o astro repete a mesma
fórmula do personagem desbocado cômico que ele começou a agir desde que
interpretou o Mercenário Tagarela até o momento. Depois dessa onda de filmes em
que Reynolds parece interpretar sempre o mesmo personagem, fica difícil
relembrar que o astro já participou de outros estilos de filmes, tais como “Horror
em Amityville” (2005) e “Enterrado Vivo” (2010), excelentes filmes de terror e
suspense em que Reynolds dá um espetáculo de atuação.
E não poderia ser diferente em “O Projeto Adam”, infelizmente. O filme em tela tem uma premissa interessante, até. Filmes de ficção científica que abordam viagens no tempo e looping temporal sempre foram de interesse geral e amplamente explorados ao longo dos anos; principalmente os que conseguiram incluir ação, aventura e suspense em sua narrativa. Mas, é uma pena que o longa em questão não parou por aí e resolveu, também, inserir uma boa dose de comédia, drama familiar e até mesmo tentou empurrar um pouco de romance. Toda essa miscelânea de gêneros em um mesmo roteiro deixou “O Projeto Adam” mais perdido do que cego em tiroteio, rebaixando-o a um mero filme clichê e previsível.
Na
trama, Adam Reed (Ryan Reynolds, de “Deadpool”, 2016) é um piloto de combate em
2050 que acaba viajando no tempo, de volta ao ano de 2022, e encontra a versão
mais jovem de si mesmo (Walker Scobell), de 12 anos, que ainda está de luto
pela morte repentina de seu pai um ano e meio antes. Agora, o Adam adulto
precisa juntar forças com seu eu mais jovem e, juntos, eles devem embarcar em
uma aventura no passado para encontrar o pai, Louis (Mark Ruffalo, de “Vingadores:
Guerra Infinita”, 2018) – o cientista que criou a tecnologia que possibilita a
viagem no tempo –, salvá-lo de ser alvo de Maya Sorian, a ex-sócia de Louis,
acertar as coisas que deram errado no futuro e salvar o mundo. Enquanto o
desafio da missão aumenta, os dois Adams descobrem que realmente não gostam
muito um do outro. Mas, se quiserem salvar o mundo, terão que descobrir como se
dar bem.
Ao misturar vários gêneros diferentes na mesma narrativa, o diretor Shawn Levy (“Free Guy – Assumindo o Controle”, 2021) e os roteiristas Jonathan Tropper, Mark Levin, Jennifer Flackett e T.S. Nowlin acertaram ao fazer o jeito errado de elaborar e conduzir um roteiro completamente incondizente dessa dimensão. As chances de dar certo um filme que mistura, no mesmo roteiro, ficção científica com ação, aventura, comédia, drama e romance são mínimas. A narrativa de “O Projeto Adam” acaba ficando perdida em vários momentos e não sabendo para onde seguir, pois é tanto elemento narrativo contido na mesma história, que é preciso um esforço tremendo para encaixar e dar sequência.
Para ser mais preciso, há momentos em que tentam encaixar cenas de romance em meio à uma cena de ação tensa, mas que acabam virando comédia. Nessa esteira, toda essa enorme mistura de elementos ao longo do filme impossibilitam o desenvolvimento da narrativa como um todo. Hora se vê comédia com ação, drama com suspense em outra, romance com ação em mais uma, e assim por diante. Em outras palavras, há elementos narrativos demais e desenvolvimento de menos. A argumentação entre os personagens foi completamente esquecida, mal se dando conta de desenvolver os diálogos de forma coerente: isso pode ser percebido em determinado momento em que o personagem de Reynolds repete inúmeras vezes sobre sua missão ser “confidencial”, mas depois de 5 minutos ele abre o jogo e conta absolutamente tudo sobre sua missão “secreta”.
Toda essa alternância repentina e brusca de elementos narrativos só serve para somar minutos de filme e desenrolar por mais tempo uma história que, se não tivesse tantos elementos narrativos assim, poderia ser mais enxuta. O arco principal da história acaba tendo que dar uma volta enorme em torno de todas as subtramas envolvendo os personagens para, finalmente, alcançar seu desfecho.
Isso
acontece pelo motivo da história colocar o personagem de Reynolds parando em
2022 ao invés dele ir direto para 2018, que é o verdadeiro objetivo de sua
missão. Tal fato encurtaria bastante enrolação no meio do enredo. Porém, os
roteiristas tiveram tanta sede criativa para criar uma história divertida, que
tal argumento narrativo virou uma tremenda bolha desnecessária.
Levando tudo isso em consideração, fica claro que o objetivo menor de “O Projeto Adam” é explicar sobre viagens no tempo. No caso, o filme em tela usa o elemento de viagens no tempo apenas como trampolim para narrar uma história de drama familiar, com muita ação e comédia, além de um pouco de romance também. E, é claro, a produção está recheada de clichês, que servem para desenvolver os elementos narrativos, mas que tornam seu final super previsível.
Apesar
de “O Projeto Adam” ser um filme genérico e cheio de clichês, o diretor Shawn
Levy, que já trabalhou com Ryan Reynolds em “Free Guy – Assumindo o Controle”, soube
conduzir, de forma satisfatória, as cenas de ação bem coreografadas e o uso de
CGI, entregando um material visualmente maravilhoso. Esses dois quesitos foram
muito bem trabalhados e talvez sejam a melhor parte da produção. E quase
impossível se pode dizer mais do que isso sobre qualquer coisa acerca da
produção em geral, porque são as duas únicas coisas boas que o roteiro e
direção conseguiram proporcionar.
Em relação ao elenco, não há nada de excepcional nas atuações de Ryan Reynolds, Mark Ruffalo, Jennifer Garner e Zoë Saldaña, embora sejam sempre atores excelentes e competentes. Reynolds (nessa altura, já dispensa maiores explicações) interpretando basicamente o mesmo personagem; Ruffalo, Garner e Saldaña com participações sem destaque e jogados para escanteio. Mark Ruffalo parece não saber direito o que está fazendo na produção, integrando o elenco para fazer dobradinha com Jennifer Garner depois de 18 anos, quando ambos contracenaram juntos em “De Repente 30” (2004). Por fim, Zoë Saldaña fez uma ótima atuação, mas (não por culpa da atriz) deu a impressão de que está participando do filme apenas para tapar buraco no papel de par romântico do personagem de Reynolds.
Levando
tudo isso em consideração, não tinha como “O Projeto Adam” dar muito certo. O filme
em tela não perde tempo em sua narrativa para explicar sobre viagens no tempo,
a fim de poder desenvolver melhor o enredo (o que é uma coisa boa), mas o filme
está repleto de clichês e se perde com a mistura excessiva de gêneros. É uma
ficção científica que promete muito e quer incluir elementos narrativos demais,
mas não sabe o que fazer com tanta coisa ao mesmo tempo; com isso, acaba
entregando uma produção completamente genérica. Se a intenção dos realizadores
foi produzir uma inovadora narrativa científica com ação e comédia, o resultado se tornou uma história despretensiosa e fantasiosa para tentar divertir o
público, sob os mesmos moldes narrativos que se encontram outros pacotões
genéricos cinematográficos, tais como “Alerta Vermelho” e “Free Guy – Assumindo
o Controle”.
“O Projeto Adam” já está disponível na Netflix.
Nota: 5.0
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