O incrível, belo e romântico Coming of Age de Paul Thomas Anderson, que pode ser facilmente encarado como um dos grandes filmes do ano passado.

Gary e Alana se conhecem por acaso no Vale de San Fernando, em 1973. Apesar de ser dez anos mais novo, Gary não faz questão alguma de esconder seu interesse por Alana, que passa a sentir algo que não consegue compreender pelo rapaz. Ele, precoce, leva uma vida agitada como ator e empreendedor, mas sem deixar de lado as peripécias com os amigos. Ela, em constante conflito consigo mesma e todos que a rodeiam, ainda não encontrou qual rumo seguir. Gary e Alana, enquanto vagam pela ensolarada Califórnia em meio a inúmeros tumultos, serão forçados a confrontar a complexidade traiçoeira do primeiro amor.

Paul Thomas Anderson (Sangue Negro, Magnólia) é um dos meus diretores favoritos da vida e um dos melhores de sua geração. Seus filmes (quase sempre) são ideias originais que envolvem o espectador através da sua incrível direção e atuações de elencos primorosos reunidos por ele. Curiosamente, “Licorice Pizza” é de longe um dos filmes mais acessíveis do diretor, tanto por sua duração não tão longa comparada aos seus outros trabalhos, mas pela temática da história e seus protagonistas.

A trama trata-se basicamente de um coming of age (termo usado para descrever um amadurecimento e transição da vida adolescente para a vida adulta) ambientado nos anos 70, mostrando a trajetória de um adolescente apaixonado por uma garota mais velha enquanto eles trombam com figuras conhecidas A ambientação, cenários e figurinos são perfeitos, e o diretor também assina a fotografia do filme junto de Michael Bauman, que não é tão incrível e atmosférica quanto as de seus outros trabalhos, mas é bem competente e aproveita bem as luzes ambientes e artificiais. Um grande destaque também para a trilha de trilha de Jonny Greenwood (Trama Fantasma, Precisamos Falar Sobre Kevin), que teve um ótimo ano com “Licorice Pizza”, “Ataque dos Cães” e “Spencer”.

Existe no entanto um grande elefante branco envolvendo esse filme que trouxe muita discussão envolvendo a forma como ele cria uma caricatura de uma personagem asiática bem no começo do filme, soando bem estereotipado e xenofobico. Essa cena é sim bem problemática (principalmente depois do diretor responder em uma entrevista que não vê muito problema nela, jogando mais lenha na fogueira), e mesmo sendo uma piada com a intenção de mostrar o quão tosco é aquele personagem, poderia ter facilmente sido cortada.

Acho que o maior mérito desse filme é tudo o que envolve os protagonistas, desde a maneira como eles são escritos, suas personalidades e as atuações incríveis da dupla. Cooper Hoffman faz a sua estreia como ator, honrando totalmente o legado do seu falecido pai, Seymour Hoffman (O Mestre, Quase Famosos). Seu personagem é engraçado, trambiqueiro, carismático mas acima de tudo é bondoso (e determinado a atingir seus objetivos). Mas a grande estrela do filme é a cantora Alana Haim, que entrega uma interpretação impecável de uma das personagens femininas mais interessantes (que eu me lembre) dos últimos anos. É realmente bem triste que ela tenha sido completamente esnobada do Oscar. Os dois juntos tem uma química formidável digna de ficar marcada na história do cinema.

O elenco de apoio no geral é composto por atores mirins novatos, que Anderson fez uma extensa busca para os encontrar. Eles não chegam a ter muitos diálogos mas são um elemento muito importante para a história, já que são parte da equipe montada por Gary em suas aventuras. Vale destacar também a família de Alana Haim, que o diretor teve a sacada genial de chamar tanto as suas irmãs (Este e Danielle Haim, que também são cantoras e fazem parte da mesma banda) como os pais da atriz para viverem sua família no filme, deixando todas as cenas da família mais engraçadas e orgânicas.

No entanto, as participações especiais que mais se destacam de longe são as de Bradley Cooper (Guardiões da Galáxia, Nasce uma Estrela), Tom Waits (Drácula de Bram Stoker, A Balada de Buster Scruggs), Sean Penn (Árvore da Vida, 21 Gramas) e Benny Safdie (Bom Comportamento, Pieces of a Woman). Dentre estes, o personagem de Waits tem uma das melhores introduções de personagens do ano, e Cooper interpreta ninguém mais ninguém menos de Jon Peters, um polêmico ator que rouba todas as cenas que aparece, sendo completamente insano e caótico (e resultando em uma cena digna de Velozes e Furiosos).

O que mais joga contra “Licorice Pizza” é o seu ritmo que em alguns momentos não casa com a direção ágil de Paul Thomas Anderson. A condução da história é boa mas se perde em alguns momentos, criando a famosa “barriga” na metade do filme. Mas Anderson compensa tudo com a conclusão do filme que é simplesmente espetacular e emocionante (e se tem uma coisa que ele sabe fazer, é um bom final). 

“Licorice Pizza” está longe de ser um dos melhores filmes de Paul Thomas Anderson (até porque a régua é BEM alta). É divertido, bem dirigido, com uma vibe leve, atuações excelentes e um romance bem instigante que te faz odiar, amar e torcer pelos protagonistas. Mesmo com seus problemas de ritmo, é um dos melhores filmes de 2021, e mais um grande trabalho desse diretor.

Nota: 8.5

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