"Euphoria" entrega uma segunda temporada consistente com um show de atuação de Zendaya.
Após quase três anos de espera, chegou ao fim no último domingo, dia 27 de fevereiro, a segunda temporada de Euphoria.
Segundo a Variety, revista especializada em entretenimento, o show, que em sua primeira temporada atingiu uma média de 6,6 milhões de espectadores, saltou para uma marca de 13,1 milhões na estreia de seu segundo ano. E não pensem que essa foi uma marca pontual. Os índices de audiência foram elevados ao longo de toda a temporada consagrando a série como a segunda mais vista da HBO, perdendo apenas para Game of Thrones.
Mas qual seria o segredo do sucesso da segunda temporada de Euphoria?
Euphoria é um drama adolescente, bem fora da caixa, criado, escrito e dirigido por Sam Levinson (Malcolm & Mary, 2021). A série é baseada na minissérie israelense de mesmo nome, de 2012, dos roteiristas Ron Leshem, Daphna Levin e Tmira Yardeni, e acompanha a vida de uma estudante do ensino médio, Rue (Zendaya), que tenta lidar com o vício.
A primeira grande novidade da nova temporada está em seu visual repaginado e ousado. Se a fotografia de sua primeira temporada já agradava, agora que o show foi todo gravado em formato analógico de 35 mm (apenas a pós-produção foi digital) temos um espetáculo a parte. O resultado garante um visual mais cru e nostálgico, com pegada de cinema, que combina completamente com a atmosfera atual da história que migra do neon para uma proposta mais dark e repleta de contrastes.
Levinson continua revelando novas e até então desconhecidas camadas de seus personagens e aposta no uso de flashbacks para "humanizá-los" e assim nos aproximar deles. E talvez até mesmo para não deixar cansativa a narrativa, dessa vez ele opta em dar ênfase a alguns personagens que não foram devidademente explorados no primeiro ano do show, como Fezco (Angus Cloud), Lexi (Maude Apatow), o pai de Nate, Cal (Eric Dane), além de adicionar um novo personagem à trama, Elliot (Dominic Fike), que participa ativamente do arco das protagonistas.
A série continua mantendo sua personalidade, ou seja, é pesada e extremamente dramática. Já em seus dois primeiros episódios temos uma sequência de crescentes que arrebata o espectador com seu drama potente, violência e reviravoltas. Assistimos aos desdobramentos dos acontecimentos da primeira temporada, entre eles as consequências do término entre Jules (Hunter Schafer) e Rue, que afundam esta novamente no mundo das drogas, já que Rue se apoia em Jules como se ela fosse uma espécie de tábua de salvação, um dos principais erros de um dependente químico.
Rue encontra o fundo do poço ao longo de boa parte dos oito episódios. E dessa vez vemos, com mais profundidade do que antes, como isso reflete diretamente em suas relações, desde Jules e Elliot, mas especialmente na vivência com sua mãe, interpretada pela excelete Nika King, e irmã Gia (Storm Reid).
Zendaya, que também assina a produção executiva, faz jus ao sucesso que tem e, sem dúvida, é uma das responsáveis pelo aumento de interesse pela série. Sua atuação no episódio cinco deve render-lhe indicações na temporada de premiações e, talvez até mesmo algum prêmio. Suas nuances são incríveis e ela fala com olhar como poucas atrizes dessa nova geração. Sua personagem nos permite experienciar um turbilhão de sentimentos e já aviso que assistir a essa temporada não é pra qualquer um. Ela é uma das compositoras do número musical lindamente cantado pelo personagem Elliot no season finale, o que mais uma vez corrobora seus múltiplos talentos.
Uma outra jornada que é igualmente interessante de se acompanhar é a trama da família de Nate (Jacob Elordi). Finalmente conhecemos o passado de seu pai e compreendemos como a personalidade do jovem é forjada como resultado do meio. As cenas entre Nate e Cal são muito bem feitas e intensas como deve ser.
Outro nome que não pode ser esquecido é o de Cassie. Interpretada pela brilhante Sydney Sweeney, a personagem ganha espaço e relevância, merecidamente. Uma pena que seu desfecho com Maddy (Alexa Demie) prometeu muito mais do que realmente entregou.
E o grande ship da série, responsável por dar leveza em um enredo tão denso, é Fezco e Lexi. Ainda que simples, o arco dos dois funciona e cativa o suficiente, dando o equilíbrio necessário para a série nessa temporada.
O recorte não linear da trama pode ser um ponto de divergência para o público. Enquanto por um lado pode ser divertido montar o quebra-cabeça que a história nos oferece, já que ela não encerra seus arcos com clareza, por outro, ela pode deixar lacunas consideráveis. Por mais que a série tenha sido renovada para uma terceira temporada, a falta de respostas ou menções para certos arcos deixa a desejar.
Outro ponto a ser questionado é a subutilização de personagens antes tão importantes, como Kat (Barbie Ferreira). Por mais que a justificativa para isso esteja no fato de darem espaço para outros personagens se desenvolverem nessa temporada, além de pouco tempo de tela, Kat ganha um enredo completamente avulso e toma decisões pra lá de questionáveis.
Com uma segunda temporada mais interessante que sua primeira, a série coleciona definitivamente mais acertos do que erros e segue sendo a mais ousada e instigante do gênero. Em poucas palavras, dá pra dizer que seu sucesso se deve à: Zendaya + elenco poderoso + qualidade técnica + ousadia.
A terceira temporada de Euphoria está prevista para 2024. Até lá, esperamos ansiosos.
Nota: 9,0
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