Apesar de trazer uma história sensível e comovente, "Estação Onze" peca por seu ritmo arrastado.

Em uma época na qual ainda buscamos superar uma pandemia global, assistir séries com essa abordagem nos faz ter a sensação de Déjà Vu. Junto disso, vem uma empatia tão natural com os personagens, justamente pela genuína identificação, ao mesmo tempo que brota um certo desconforto inerente do trauma.

Cenários pós-apocalípticos já foram abordados em séries como Sweet ToothThe 100, The Rain. Cada uma com sua particularidade, mas nunca de uma forma tão poética como na produção da HBO que será discutida a seguir.

Estação Onze é uma minissérie de dez episódios que mistura drama e ficção criada por Patrick Somerville e baseada no romance homônimo de mesmo nome. Ela foi produzida pela HBO e distribuída no serviço de streaming HBO Max em 16 de dezembro de 2021. 

A premissa da minissérie acompanha o planeta Terra entrando em uma pandemia de gripe que dizimará boa parte da população. Diferentes linhas temporais nos permitem presenciar acontecimentos pré, durante e pós pandemia.

Nessa jornada a ênfase está em Kirsten, cuja infância é representada pela atriz Matilda Lawle, ao passo que sua fase adulta é interpretada pela ótima Mackenzie Davis (O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio). Kirsten vivenciou a pandemia ainda criança. A menina, que desde pequena já seguia carreira como atriz mirim, e não tinha uma família que dava para se considerar realmente presente, por sorte ou talvez acaso, foi acolhida por um adulto, Jeevan (Himesh Patel), justamente na fase mais caótica da pandemia.

Quando a linha temporal avança, assistimos como grupos de sobreviventes lidaram com os desafios de se viver longe de seus entes queridos, privados da tecnologia de antes, em uma Terra diferente de tudo o que eles viveram. Kirsten agora está madura e bem mais racional que antes.

O que conecta tais linhas temporais e personagens da trama é um livro: Estação Onze, que de alguma forma age como um mecanismo intuitivo de resiliência. Conhecemos desde sua escritora, Miranda Carroll (Danielle Deadwyler), até a forma como um (aparentemente) simples livro entra e muda as vidas das pessoas que o leem, como uma espécie de pilar de mudança e esperança.

A minissérie não é sobre a doença, ou a pandemia em si, apesar desse ser o pano de fundo. O tema central são as relações e, especialmente, sobre as coisas que realmente importam. Sobre sacrifício e amor. E essa quase candura do texto é pulverizada ao longo dos episódios construindo com o espectador laços afetivos, em especial na percepção da relação fraternal entre Jeevan e Kirsten.

A literatura e a arte estão presentes em absolutamente tudo, afinal um dos grupos de sobreviventes é composto por artistas itinerantes e a partir de várias obras literárias analisamos os sentimentos reais dos personagens de forma análoga. Então prepare-se para assistir partes de Hamlet em uma série pós-apocalíptica. As tomadas em plano aberto são muito bonitas e passam a sensação de solidão de uma pandemia, embora de alguma forma também transmistambo sentimento de acolhimento.

Um roteiro tão sensível e profundo peca, no entanto, em sua organização. Os episódios são extremamente cansativos e levam tempo demais para terem uma crescente sequer. Então assistir a essa minissérie acaba sendo um trabalho de paciência, pois você até consegue se conectar aos personagens a ponto de querer saber seus desfechos, mas se sente exausto demais às vezes para persistir.

Mackenzie Davis se sai muito bem como Kirsten, mas quem rouba a cena da série é a pequena Matilda Hawle. Sua interação com Jeevan é quem sustenta essa corda longa que nos leva até o último episódio com muito custo. E devo dizer que é o último episódio que reserva o grande momento, a grande crescente de toda a história. Himesh Patel prova que seu carisma e talento o tornam um dos grandes nomes do cenário atual, com uma atuação memorável.

São muitas mensagens e nem tudo (talvez propositalmente) é respondido de forma clara. O próprio livro em si tem um propósito para os leitores, mas para sua escritora, Miranda Carroll, isso não fica tão evidente, dando a sensação de confusão para o espectador.

Estação Onze entrega o melhor último episódio de séries dos últimos tempos, comovente e repleto de sentimentos, mas às custas de uma experiência extremamente exaustiva. Se está acostumado a um ritmo lento, você vai curtir, se não, provavelmente corre o risco de abandonar a minissérie antes de sua metade.

Nota: 6,5

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