Primeira série do DCEU consegue humanizar e desenvolver um personagem odiável, enquanto traz um ótimo elenco e muito frescor, originalidade, reviravoltas e diversão.

Situado depois dos eventos de “O Esquadrão Suicida”, a série retrata as origens do super-herói Pacificador, que ganhou uma segunda chance ao receber a missão de matar pessoas más. Em sua busca pela paz mundial, ele não se importará de usar a força das armas.

O Esquadrão Suicida” foi uma grande aposta da Warner Bros. para revitalizar a franquia após a tenebrosa adaptação da equipe para os cinemas feita em 2016. O filme acabou não faturando tanto nas bilheterias, mas foi um sucesso gigantesco entre a crítica e os fãs, e o estúdio decidiu continuar apostando na visão do diretor James Gunn (Guardiões da Galáxia, Super) e nos personagens do filme para produzir uma série derivada para o serviço de streaming HBO Max, focada no polêmico e chamativo personagem Pacificador, interpretado pelo ator e ex-lutador de WWE John Cena (Bumblebee, Busca Explosiva) .

Sendo a primeira série do DCEU (universo cinematográfico da DC), muitos fãs e pessoas estavam céticas com a série, reclamando que o personagem não merecia uma série derivada ou que muitos outros personagens mereciam ela no lugar do Pacificador. O que muitos esquecem é que a série tem o total envolvimento de James Gunn (que escreveu todos os episódios e dirigiu 5 dos 8), e o diretor sabe como ninguém desenvolver e tornar personagens de quinta categoria em personagens populares e amados por todos. E a série do Pacificador não é nem um pouco diferente.

A trama da temporada é bem simples, onde acompanhamos o Pacificador alguns meses após os eventos de “O Esquadrão Suicida”, e ele é obrigado a fazer parte de um equipe secreta liderada pelo misterioso Murn (Chukwudi Iwuji), com o objetivo de deter uma raça alienígena de criaturas chamadas “borboletas” que estão invadindo os corpos de pessoas e as controlando, (principalmente de pessoas em cargos importantes na nossa sociedade como políticos, policiais, etc).

O meu maior receio com a série era de tentarem transformar o Pacificador (que é um personagem problemático e que representa ideais degenerados) em um herói ou um “coitadinho”. A série no entanto segue o caminho oposto, conseguindo transformar ele em um personagem amável ao mesmo tempo em que ele continua sendo um babaca. Além disso, Gunn sempre deixou claro em entrevistas que a série iria tocar em “temas relevantes dos dias de hoje”, e de fato eles trabalham bem questões envolvendo consciência ambiental e a luta contra nazistas (e é sempre revigorante ver nazistas apanhando na cultura pop, principalmente na situação atual do mundo e do nosso país).

Logo de cara a maior surpresa da série de longe foi a espetacular atuação de John Cena, que não só dá um show nas cenas de comédia, mas consegue emocionar e trazer camadas para o personagem nos momentos dramáticos. Cena conseguiu se provar o melhor ator dessa leva de lutadores que migraram suas carreiras para os cinemas, e incorporou o personagem de Chris Smith/Pacificador como poucos conseguem. E falando no Pacificador, seu personagem tem uma crescente gigantesca na série, passando por todo um arco de aceitação, formação de laços de amizade com a sua nova equipe e arco de redenção por ter matado o personagem Rick Flagg (Joel Kinnaman), que é um elemento muito importante para ele.

O resto do elenco de apoio composto por Freddie Stroma (Bridgerton), Chukwudi Iwuji (The Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade, Nhut Le (A Casa da Raven), Steve Agee (New Girl), Jennifer Holland (Brightburn: Filho das Trevas), Robert Patrick (O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final) e Danielle Brooks (Orange is the New Black) fazem um excelente trabalho, principalmente Stroma que dá a vida ao pouco fiel aos quadrinho mas caótico, divertido e maravilhoso Vigilante. Destaque também para a personagem Aguiazinha, a águia (feita por uma impressionante computação gráfica) de estimação do Pacificador que rouba todas as cenas que está presente.

James Gunn ficou encarregado de dirigir cinco dos oito episódios da temporada, e seu trabalho aqui como diretor não é diferente dos seus trabalhos nos filmes. Ele foca muito no texto e nas interpretações, tentando extrair o máximo do elenco, ao mesmo tempo que entrega excelentes cenas de ação com bons movimentos de câmera e uma trilha sonora espetacular que casa bem com as cenas. Já os diretores Jody Hill (Eastbound & Down, The Righteous Gemstones), Rosemary Rodriguez (Jessica Jones, The Walking Dead) e Brad Anderson (O Operário, Beirute) não deixam a peteca cair e executam muito bem a direção dos outros episódios.

Toda a produção da série é de primeira qualidade, como é padrão nas produções da HBO/HBO Max. Os efeitos especiais, cenários, mixagem de som, iluminação, figurinos e cenas de ação são excelentes. Destaque também para o trabalho do diretor de fotografia Michael Bonvillain (Cloverfield: O Monstro, Westworld), que faz um trabalho bem competente.

Sem a menor dúvida o maior problema de “Pacificador” é o humor e algumas piadas. Nem todas elas são ruins (pelo contrário, muitas piadas são excelentes), mas grande parte delas são um “humor de 5ª série, piadas que embora James Gunn ache engraçado, são só bobas, infantis ou extensas demais.

É uma obrigação comentar também a incrível abertura da série, com o elenco fazendo uma dança muito bem coreografada e com a música “Do Ya Wanna Taste It”, da banda Wig Wam tocando ao fundo. Além de completamente espetacular, chamativa e impossível de pular, essa abertura ressalta muito bem como a mente de James Gunn é criativa e sempre consegue dar elementos únicos para suas produções.

A 1ª Temporada de “Pacificador” é uma surpresa e tanto, além de ser um frescor para as adaptações e séries de heróis. Com roteiro, produção e personagens muito bem construídos, ela se consagra como uma das melhores série do subgênero, e vai com certeza agradar quem procura uma boa série de heróis com originalidade, temas importantes e boas doses de violência.  A série já está renovada para a sua 2ª Temporada, e embora não se saiba nada da trama (apenas que Gunn irá escrever e dirigir todos os episódios), podemos esperar uma temporada tão boa, surtada e com mais personagens quanto essa.

Nota: 8.5

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