Aclamado quadrinho de Loeb e Sale merece sua reputação como uma das melhores histórias do Cavaleiro das Trevas.

O Longo Dia das Bruxas é a HQ seminal do Batman lançado de 1996 á 1997 (com o encadernado compilando todas as edições lançado em 1998) que possui roteiro de Jeph Loeb e arte de Tim Sale. Apesar do trabalho conjunto dos dois quadrinistas ser o pilar fundamental do quadrinho, a ideia da história do mesmo veio do editor Archie Goodwin. Foi ele que sugeriu á Loeb escrever uma história do Batman que se inspirasse nos filmes noir das décadas de 40 e 50 (aqueles de detetive, em preto-e-branco, e estrelados por Bogart, Cagney, Mitchum e outros), conectando o Batman á sua raiz pulp, como Frank Miller o fez em Ano Um. O resultado foi um dos melhores quadrinhos do Batman.

Sale e Loeb criam uma Gotham onde até as sombras possuem outras sombras, onde todos possuem segredos ou uma agenda secreta, onde a corrupção domina e o crime nunca descansa e onde a noite revela a verdadeira face da cidade suja e brutal que apresenta uma farsa de si mesma de manhã. A história de Loeb é cheia de referências á filmes, como por exemplo nas páginas iniciais que se passam no casamento do sobrinho do Carmine Falcone, que não é só uma referência e/ou homenagem clara á icônica sequência inicial do primeiro Poderoso Chefão, mas é um pastiche puro e simples. Os ângulos, as cores e a locação, tudo remete ao clássico do cinema de Francis Ford Coppola. Mas isso não é um defeito em si, já que essas páginas iniciais conseguem estabelecer de forma concisa e acertada o tom e tema da obra e já instigam o leitor de cara, o fazendo mergulhar a fundo no mundo criado pela combinação das palavras de Loeb e a arte de Sale. A partir daí a atmosfera da obra já te prende e faz você querer devorar ela por inteiro o mais rápido possível. 


Infelizmente, Loeb não consegue escrever personagens de diferentes culturas, como por exemplo os personagens italianos da máfia do Falcone e uma gangue composta por membros irlandeses, todos sendo estereotipados e unidimensionais, algo que não parece ser de propósito ou tongue-in-cheek, mas sim o máximo que ele consegue escrevendo personagens do tipo. Em alguns quadros onde o Falcone é mostrado cozinhando, o momento é tirada de uma cena de Os Bons Companheiros, o que faz parecer que a única referência que o Loeb tem da cultura são filmes do Martin Scorsese, e o melhor que ele pode fazer é copiar algumas das cenas ou maneirismos dos personagens desse filme, mas falhando miseravelmente e fazendo algo mais ridículo, e isso em uma história com pessoas vestindo collants. 

Outro defeito seria o mal uso da Galeria de Vilões do Batman. O Coringa entra de repente da trama e sai como entrou, sem nenhum propósito para sua aparição. A Hera Venenosa parece ser outra personagem do que já foi estabelecida antes, e a motivação dela parece ser monetária (parece, porque não fica muito claro), algo que destoa bastante do que já sabemos sobre sua personagem. No fim, ela serviu apenas como um plot device. Parece que o Loeb quis enfiar quantos vilões pudessem para dar uma grandiosidade para sua história, mas no fim isso atrapalha mais do que ajuda. Além disso, algumas situações são muito convenientes e bastante artificiais, como o recurso do Bruce ser controlado por um vilão, que ocorre duas vezes; em uma ele é controlado pelos feromônios da Hera Venenosa e na outra ele é controlado pelo gás do medo do Espantalho. Isso tira um pouco da credibilidade do roteiro, já que a história demanda um certo acontecimento que vai contra a personalidade e ações do Batman e a única solução que o Loeb consegue imaginar não é uma das melhores.


Mas a história sabe muito bem trabalha o lado psicológico dos personagens e fazer você se importar com ele. James Gordon é um homem dividido entre seu trabalho e sua família, e seu dilema de sempre ter que escolher seu trabalho primeiro torna ele mais crível, mais humano. Alfred também é desenvolvido de forma sensível, e um momento em especial, que ocorre na edição que se passa no Dia dos Pais, mostra um pouco de seu relacionamento com Thomas Wayne e então com o Bruce, e vemos ele refletindo e florescendo como uma pessoa palpável além do mordomo que está disposto a fazer tudo pro seu mestre. Além de Harvey Dent, a verdadeira estrela da história, com sua descida ao inferno que, apesar de esperada pra quem conhece o mínimo dos vilões do Batman, é trágica e devastadora, e tudo isso porque as edições anteriores souberam trabalhar ele bem e construir um personagem carismático e cheio de vida.

No fim, apesar de alguns defeitos e alguns baixos, os pontos positivos da obra falam mais alto. A arte do Sale pode ser exageradamente cartunesca ás vezes? Sim. O roteiro do Loeb não conseguiu lidar com a revelação da identidade do assassino dos feriados da melhor forma possível? Talvez. Mas O Longo Halloween tem seu mérito e eu recomendaria para aqueles que querem iniciar a ler Batman ou aos fãs que ainda não leram. Talvez ela não seja a obra quintessencial do Homem-Morcego, mas ainda é uma ótima história.

Nota: 8

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