Longa perde a oportunidade de explorar uma nova perspectiva sobre a vida de Anne Frank e entrega história arrastada e desinteressante.

Anne Frank é uma importante figura histórica do século XX, que simboliza a resistência e a luta diante do Holocausto. Seu diário, no qual a adolescente relatou suas experiências enquanto vivia escondida durante a ocupação do exército alemão, e que foi descoberto após sua morte, até hoje emociona ao relembrar a trágica e sombria escalada do nazismo ao redor do mundo, bem como suas consequências devastadoras na vida da menina alemã de origem judaica e de inúmeras outras pessoas.

Apesar de existirem várias produções lançadas em torno da biografia de Anne Frank, desde peças de teatro até filmes premiados, feitas geralmente a partir das informações do diário da menina que morreu aos 15 anos, o filme da crítica de hoje opta por mudar o referencial. Dessa vez, acompanhamos um novo ponto de vista e, portanto, um outro olhar sobre a vida de Frank.

Anne Frank, Minha Melhor Amiga é um drama holandês produzido originalmente pela Netflix dirigido por Ben Sombogaart, que assina obras como Cruzada: Uma Jornada Através dos Tempos (2006), A Natureza Contra Ataca (2009), Isabelle (2011) e Rafaël (2018). O longa baseado em fatos, a partir do livro Memories of Anne Frank: Reflections of a Childhood Friend, escrito por Alison Leslie Gold, tem Marian Batavier e Paul Ruven responsáveis por seu roteiro.


O filme narra a história da amizade entre Anne Frank (Aiko Beemsterboer) e Hannah Goslar (Josephine Arendsen) sob a perspectiva de Hannah. Acompanhamos fatos adaptados e condensados do passado das garotas de origens diferentes, de modo a conhecermos ambas até mesmo em seus momentos mais casuais.

O longa parte do início da amizade das duas, segue rumo ao distanciamento imposto pelo período no qual Frank precisou se esconder e que mais tarde culminou no triste reencontro das garotas em um dos campos de concentração mais aterrorizantes da história, Auschwitz.


Apesar da história riquíssima por trás de Anne Frank e, ainda que Goslar tenha uma vivência igualmente impactante, a construção do roteiro deixa a desejar e não convence. O filme é desinteressante e arrastado. Ao optar por ir e vir em sua linha temporal de maneira despropositada, a trama perde suas crescentes, bem como parte da emoção referente ao período retratado no campo de concentração.

O dia-a-dia das duas amigas consegue mostrar com sucesso o laço de amizade que se consolida entre elas, no entanto, algumas situações são triviais demais e não conseguem prender a atenção do espectador. Por mais que assistamos um lado de Anne Frank pouco explorado, no qual a menina evidencia suas imperfeições e e está em plena fase da puberdade, preocupada com namorados e tudo o que muitas garotas de sua idade vivenciam, o enredo não envolve.

Não é que filmes dessa temática tenham que por vias de regra mostrar a realidade em um campo de concentração, mas já que essa de fato foi a parte mais movimentada da história de Hannah, que é a verdadeira dona da história e a personagem mediadora, ela deveria ter sido sim mais enfatizada, ainda que seja uma reprodução de tantas outras histórias já vistas no cinema. 

O elenco faz bem sua parte, mas não dá conta de salvar o filme. A semelhança de Aiko Beemsterboer com Anne Frank é notável e surpreende, sendo que isso talvez seja uma das poucas coisas que funciona. 

Em um filme de fotografia simples, embora honesta, o ato final é, sem dúvida, o melhor e mais tocante do filme, mas não chega a compensar o tempo dedicado à experiência de assisti-lo. 

Histórias assim devem ser contadas a exaustão. Temos sempre que relembrar esses tempos sombrios para ficarmos alertas e evitarmos que eles voltem a nos assombrar. Uma pena que falte brilho à narrativa e que essa película esteja fadada ao esquecimento, pelo roteiro mal montado e direção que causa desapontamento.


Nota: 5,0

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