"King Richard" traz uma excelente performance de Will Smith e entrega uma história emocionante e inspiradora.

Imagine que seus pais tenham escrito um plano de dezenas de páginas para sua vida, antes mesmo de você nascer. E nesse plano conste como objetivo principal tornar você o/a melhor tenista do mundo. Soaria utópico, se não fosse verdade.

Filmes biográficos têm sempre seu lugar ao sol em Hollywood. Quando se trata de Will Smith no papel principal, sempre surge aquela ânsia misturada com a confiança de que algo promissor vem por aí. E no caso, veio mesmo.

Dessa vez, o ator premiado e com biografias de sucesso na conta, como Ali (2001) e À Procura da Felicidade (2006), encarna Richard Williams, o pai e treinador das duas maiores tenistas que já existiram, Venus e Serena Williams.

King Richards: Criando Campeãs é um drama biográfico dirigido por Reinaldo Marcus Green e escrito por Zach Baylin. O longa estreou mundialmente no 48º Festival de Cinema de Telluride em 2 de setembro de 2021, e foi lançado nos cinemas em 19 de novembro de 2021, pela Warner Bros. Pictures, chegando agora em janeiro de 2022 no catálogo da HBO Max.


No filme acompanhamos a jornada de Richard Williams na tentativa de tornar duas de suas filhas tenistas profissionais. Em um esporte predominantemente branco e elitista, assistimos aos inúmeros desafios do pai das ainda adolescentes Venus e Serena, para chamar atenção de treinadores e financiadores, bem como presenciamos seus métodos pouco tradicionais e, talvez, até um pouco rigorosos de treinamento. Transformar prodígios em profissionais para uma família simples do Michigan, especialmente em um esporte que requer muitos recursos, é uma tarefa que exigirá um plano minucioso, algo que não faltará a Richard e sua família.

Zach Baylin, que assina também Creed II, acerta em cheio na construção do roteiro dessa cinebiografia. O longa de quase 2 horas e meia de duração é um daqueles filmes onde mal sentimos o tempo passar. A linha temporal é destrinchada de forma coerente e avança em ritmo ágil o suficiente para conhecermos a família e nos afeiçoarmos com sua história, sem monotonia e fillers.

Existe um cuidado aqui para o longametragem não ser apenas um filme sobre tênis. O filme é sobre uma família e suas delicadas e, ao mesmo tempo, potentes relações. Ele trata de uma família preocupada em achar uma maneira de tirar suas filhas das ruas, enquanto ocupa a mente e corpo delas com outras atividades, além de tratar de união, autoconfiança, autoestima e perseverança.

O início da década de 1990 é retratado fielmente e confere um belo visual às cenas. A maquiagem, bem como figurino e fotografia conseguem refletir com eficácia a atmosfera do período e, como vemos ao final do filme, torna os atores extremamente parecidos com os personagens na vida real.

Na trilha sonora temos uma linda canção interpretada por ninguém menos que  Beyoncé, de nome Be Alive. Sua letra retrata com precisão a narrativa e emociona assim como a história contada. Ouvir a rainha do R&B dá um toque especial e que faz toda a diferença.

Will Smith está simplesmente um gigante e, por isso, já faturou o globo de ouro de melhor ator em filme dramático na temporada, merecidamente. Ele encarna com excelência um pai controlador, por vezes egoísta, mas que sobretudo ama sua família e acredita em suas filhas piamente. Sua postura, semblante e voz, permitem ao espectador enxergar completamente Richard e suas excentricidades. 

As meninas Saniyya Sidney e Demi Singleton que interpretam Venus e Serena, respectivamente, brilham em seus papéis, e mostram com propriedade os efeitos da criação de sua família em seu caráter e personalidade forte. 

Nem tudo em King Richard funciona. Aunjanue Ellis (Lovecraft Country) interpreta Brandi Williams, mãe das atletas, e surpreende em cena. Sem dúvida, a sua personagem merecia mais tempo de tela e uma melhor abordagem. Por mais que o filme tenha como cerne Richard, o casamento dos dois é deixado por vezes às sombras e acabamos não sabendo exatamente como anda a relação.

Além disso, vale salientar que o filme não se arrisca a fundo quando o assunto é a pauta racial, fazendo menções rasas à violência policial e ao racismo de forma pontual e bem pouco ousada. 

Sabemos que quando o assunto é cinebiografias, muito da vida dos personagens costuma ser alterada. Aqui não é diferente. Então vamos a algumas curiosidades. O tempo todo o longa apresenta um pai devoto à sua família. Richard é desenvolvido de forma a reconhecermos algumas de suas falhas, mas para principalmente nos afeiçoarmos a ele. Isso, no entanto, é algo questionável.

Em entrevista ao Page Six, a primogênita da família Williams chegou a mencionar que o pai não passaria de um doador de esperma, e que teria mais de 15 filhos espalhados pelos Estados Unidos, ou seja, uma imagem bem diferente do que é exposto. Somado a isso, os treinamentos envolviam métodos bem mais perigosos do que os mostrados. O fato do filme ter omitido a parte mais sombria de Richard seria uma convenção de roteiro para gerar bilheteria? Absolutamente, sim. Mas independentemente da história fora das telas, a dos cinemas funciona e muito.

King Richard: Criando Campeãs é aquele filme cativante, fácil de se relacionar e que a gente indica de olhos fechados. Você se emociona, sente o quentinho no coração e termina o filme querendo saber mais sobre as excepcionais atletas Venus e Serena Williams.

Nota: 9,0

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