Filmes baseados em romances sempre são uma caixa de surpresas. Há quem os amem, há quem os critiquem, há adaptações ótimas e há adaptações ruins. Mas, também, há uma certeza: a Netflix anda apostando alto e fácil em vários tipos de produções ultimamente com intuito de suprir a necessidade de entretenimento em seu catálogo, haja vista que a recente pandemia desacelerou (e bastante) o lançamento de conteúdo novo nos últimos tempos.

Com isso, o streaming passou a investir cada vez mais em muitos conteúdos para sua plataforma, mesmo que, em muitas vezes, o próprio conteúdo do material adquirido não seja tão promissor assim. E o filme “Indecente” é um destes mais novos modelos de filmes básicos adicionados recentemente na Netflix, que chegou dia 13 de janeiro no catálogo e é um filme bem simples demais.

Na trama, Grace Miller (Alyssa Milano, de “Comando Para Matar”, 1985) é uma promissora e renomada escritora de livros policiais, de mistério e especialista em crimes, que precisa deixar tudo para trás e voltar apressada para a casa de sua família em Washington, D.C., depois que sua irmã, Kathleen (Emilie Ullerup), uma professora com problemas financeiros, liga de repente pedindo ajuda, pois está enfrentando um divórcio litigioso muito caro. Quando Kathleen é assassinada misteriosamente, sua vida dupla vem à tona, revelando que, além de dar aulas na escola durante o dia, ela também estava trabalhando como dominatrix em um site erótico virtual à noite, para ganhar mais dinheiro.

Usando sua experiência e talento sobre mistério e crime – além de já ter prestado assistência à polícia como consultora criminal anteriormente –, Grace decide ignorar os avisos do detetive do caso, Ed (Sam Page), e começa a investigar sozinha, com intuito de desvendar o assassinato da irmã e capturar o culpado. À medida que Grace se aprofunda para ajudar a resolver o crime, sua vida se transforma em uma cena de um de seus próprios livros, haja vista que o assassino já matou outras mulheres que também trabalhavam no site em questão. Porém, a ideia de Grace de atrair o assassino como nova camgirl do site erótico pode ser mais perigoso do que se imagina, pois o assassino está à espreita, e ela pode ser a próxima vítima.

Baseado no romance “Virtude Indecente”, de Nora Roberts, “Indecente”, dirigido pela diretora Monika Mitchell, tem um simples enredo que reúne os elementos típicos de um bom filme de suspense policial. Mistério, assassino misterioso, motivo desconhecido, vítima com problemas financeiros, litígio com ex-marido, irmã motivada e detetive competente. Seria de tanto bom grado se o filme em tela investisse a fundo somente em tais elementos, tornando-o um exemplar em seu gênero.

Porém, todas as qualidades acima não são o suficiente para tornar “Indecente” um excelente filme de suspense policial; pois, o longa também reúne vários elementos que o tornam um simples suspense policial medíocre. A começar, pelas atuações de todos os atores, que parecem estar simplesmente no automático, representando seus personagens de forma bem artificial e tentando garantir uma ótima atuação. Alyssa Milano (sim, a mulher que interpreta a filha do personagem de Arnold Schwarzenegger no filme “Comando Para Matar”) parece ser a única a tentar estar mais confortável em seu papel, embora também fica visível o quanto ela se esforça para demonstrar suas emoções.

Somado às atuações fracas, o roteiro também não conseguiu subtrair o máximo de seu elemento base (no caso, o livro de Nora Roberts) para construir uma narrativa forte, misteriosa e concreta. Com isso, “Indecente” apresenta um roteiro igualmente fraco, previsível, genérico e recheado de clichês – é claro que o principal alvo para tudo isso é acusar o ex-marido, pelo qual está litigando com Kathleen. Ademais, a participação de Grace nas investigações é absurda, haja vista que ela própria é irmã da vítima. E, para piorar e inflar ainda mais o elemento clichê, o detetive Ed é quem está liderando as investigações, coisa que não deveria acontecer, pois ele teve envolvimento com Grace.

Embora Nora Roberts seja uma das escritoras mais famosas e promissoras da atualidade, esta adaptação de um de seus livros não faz jus às suas obras e à sua fama de escritora. O roteiro de “Indecente” não conseguiu prender o mistério da trama até o final, tornando-se previsível, genérico e bem básico no que diz respeito à proposta que o enredo quer contar.

Isso torna “Indecente” um simples filme para distrair e divertir, sem nada de excepcional, brilhante, promissor ou fora dos padrões básicos de longas genéricos e previsíveis. Afinal de contas, filmes são para entreter e divertir – e tal pensamento é tão genérico quanto certos filmes adicionados no catálogo da Netflix; embora, realmente, alguns filmes consigam distrair a atenção, mesmo cujo enredo não saia do básico. E “Indecente” é um longa que consegue agradar quem gosta de filmes nesse estilo: básico, simples, rápido, curto e genérico.

Atualmente, a Netflix se tornou um streaming que disponibiliza uma enorme quantidade de conteúdo em sua plataforma (seja filmes ou séries/minisséries), apostando em produções originais de diferentes tipos e gostos. O que, por um lado, é muito bom, haja vista que há lançamentos com certa frequência e o canal está sempre inovando. O lado ruim é que, com a disponibilização de um conteúdo muito grande, e de forma até um pouco exagerada, fica um pouco mais difícil de filtrar o que é bom e o que é ruim, o que vale a pena e o que não presta, o que é extraordinário e o que é medíocre, genérico e previsível. O que conta, no fim das contas, é saber escolher o que mais agrada e diverte; e a Netflix está cheia de produções, de diferentes conteúdos, para tentar agradar e divertir o máximo possível de público. No meio de tantos lançamentos, exageradamente disponibilizados, às vezes se encontra alguma produção que se destaca, com atores, diretores e conteúdo excelentes, e que faz um sucesso enorme; o que, infelizmente, não é o caso de “Indecente”, que é só mais um entre tantos longas medianos genéricos lançados pelo streaming.

Indecente” foi lançado na Netflix no último dia 13 de janeiro.

Nota: 6.0

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